Afinal, o espaço possui algum tipo de cheiro? Astronautas explicam
Profissionais relatam uma série de sensações que podem estar ancoradas em explicações científicas
É curioso imaginar que o espaço, um vácuo quase absoluto, possa ter cheiro. No entanto, astronautas que retornam de caminhadas espaciais relatam a sensação de um aroma específico e intrigante ao reentrarem na Estação Espacial Internacional (ISS). O cheiro, segundo eles, lembra metal quente, pólvora e até carne queimada, desafiando nossa compreensão do cosmos.
Embora o espaço não possua oxigênio, necessário para que o olfato funcione como na Terra, o aroma é percebido no momento em que os astronautas retornam ao interior da nave e removem os capacetes. Esse fenômeno é causado por partículas energéticas e átomos de oxigênio que se prendem aos trajes espaciais durante atividades extraveiculares (EVAs).
Quando essas partículas entram em contato com o oxigênio no ambiente pressurizado da estação, ocorre uma reação que gera cheiros específicos, comumente descritos como metálicos ou de solda queimada.
A astronauta britânica Helen Sharman explicou que esses cheiros decorrem da “queima fria”, um processo químico em que radicais livres reagem com o oxigênio, formando ozônio, um composto que, na Terra, também exala um odor metálico e característico de faíscas elétricas.
Explicação científica
Outro elemento que contribui para o aroma do espaço são os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs). Esses compostos, formados pela quebra de moléculas orgânicas em alta temperatura, são comuns em nosso cotidiano – no cheiro de torradas queimadas ou de carnes defumadas, por exemplo.
No espaço, eles são produzidos quando estrelas morrem, liberando esses compostos complexos no universo. O cheiro percebido pelos astronautas é resultado desses HAPs presos aos trajes e depois oxidando ao entrar em contato com o ar da estação.
O cheiro não é exclusivo das caminhadas espaciais. Durante os pousos lunares das missões Apollo, os astronautas também relataram sentir um aroma semelhante ao de pólvora ao retirarem os capacetes na câmara de descompressão. Esse fenômeno acontece porque o oxigênio atômico reage com compostos residuais no traje, criando um odor distintivo.
Explorar o Sistema Solar através do olfato revela que cada planeta parece ter seu aroma. Em Júpiter e Urano, por exemplo, a presença de amônia traz um cheiro que lembra urina e suor. Já Vênus e Marte exalam um odor de sulfeto de hidrogênio – um gás com cheiro de ovos podres. E, nos cometas, já foram detectados compostos como o cianeto de hidrogênio, que traz um cheiro amargo de amêndoa.
Perfumes espaço à dentro
O centro da Via Láctea também oferece um perfume cósmico único. Em Sagitário B2, uma nuvem molecular localizada a cerca de 26.000 anos-luz de nós, foi encontrado o formato de etila, um composto que tem um aroma doce, associado ao rum e às framboesas.
Essas descobertas revelam que o universo é repleto de substâncias que, embora invisíveis a olho nu, carregam cheiros que, na Terra, poderiam evocar lembranças familiares – mas que no espaço, podem ser fatais.
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