A escritora mineira Carolina Maria de Jesus, uma das mais importantes vozes da literatura brasileira, terá suas obras relançadas nos Estados Unidos, mais de 64 anos após a última tradução para o inglês. Com eventos programados para as cidades de Nova York e Washington DC, o ciclo ‘Carolina – A Escritora do Brasil’ acontece até quinta-feira (17), marcando os 110 anos de nascimento da autora. Os encontros reúne especialistas, leitores e admiradores para celebrar e discutir sua obra e relevância internacional.

Entre os convidados, estão Vera Eunice, filha de Carolina e uma das personagens centrais do clássico ‘Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada’, e Tom Farias, biógrafo e jornalista especializado na obra da escritora. A presença de Vera e Farias reforça a importância do evento, que pretende não apenas homenagear Carolina, mas também reviver seu legado nos EUA, onde sua obra circulou amplamente na década de 1960. “O objetivo é resgatá-la no plano internacional, de onde ela nunca deveria ter saído”, destaca Farias.

Autora do best-seller ‘Quarto de Despejo’, ela foi a primeira mulher negra do Brasil a vender mais de um milhão de exemplares. A obra, que narra a vida nas favelas de São Paulo sob um olhar cru e poético, foi um marco ao evidenciar a realidade das populações marginalizadas e ainda é amplamente estudada e discutida, tanto no Brasil quanto no exterior.

Segundo Tom Farias, a presença de Carolina em eventos internacionais reforça o debate sobre racismo, destacando sua história como mulher negra, neta de escravizados e filha de uma lavadeira analfabeta. “Carolina é a resposta contra a supremacia do racismo — que grassa tanto aqui como em terras estadunidenses”, afirma Farias. Ele ressalta que a trajetória da escritora é emblemática, simbolizando uma luta histórica em ambos os países.

A iniciativa é promovida pelo grupo Mulheres na Escrita, conhecido por organizar a primeira feira do livro da Língua Portuguesa com foco em mulheres escritoras em Nova York, em 2019. O grupo trabalha para estimular a leitura e a escrita de mulheres da lusofonia, buscando dar visibilidade às suas narrativas e promover a diversidade literária.

Para Vera Eunice, o convite é uma oportunidade para expandir o trabalho de sua mãe e inspirar outras mulheres. “Meu intuito é que outras Carolinas surjam e que possam alcançar a trajetória que Carolina Maria de Jesus alcançou. Quero mostrar que Carolina não é uma escritora de uma obra só. Só tenho a agradecer e esperar mais convites de outros países para levar Carolina para o mundo”, disse.