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quarta-feira, 16 de outubro de 2024
Soluções

O papel das escolas na luta contra o desperdício de alimentos

Práticas pedagógicas e parcerias com a agricultura familiar são fundamentais para promover a segurança alimentar e reduzir perdas em um cenário de crise global

Postado em 16 de outubro de 2024 por Luana Avelar

A implementação de práticas sustentáveis nas escolas é uma das estratégias mais eficazes para reduzir o desperdício de alimentos, um problema que afeta globalmente a segurança alimentar e o meio ambiente. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), aproximadamente 1 bilhão de toneladas de alimentos foram desperdiçadas em 2022, representando um quinto da produção mundial. Ao mesmo tempo, milhões de pessoas enfrentam a fome, como apontam dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e outras agências da ONU. Só na América Latina e Caribe, são 41 milhões de indivíduos afetados.

Diante desse cenário, a FAO e outras instituições internacionais buscam soluções que envolvam desde a produção até o consumo consciente. Najla Veloso, Coordenadora do projeto Agenda Regional de Alimentação Escolar Sustentável na América Latina e Caribe da FAO, afirma que “é essencial que as ações de combate ao desperdício de alimentos sejam institucionalizadas no ambiente escolar, como parte das ações pedagógicas e curriculares”.

Entre as práticas recomendadas, destaca-se o planejamento das compras alimentares, priorizando a sazonalidade e produtos locais, além do diálogo com agricultores familiares e gestores escolares. Isso garante a valorização da cultura alimentar regional, incentiva circuitos curtos de produção e facilita a logística, ajudando a diminuir o desperdício.

As merendeiras também são peças-chave nesse processo. A capacitação desses profissionais para preparar porções adequadas, reaproveitar partes dos alimentos que seriam descartadas e armazenar adequadamente os ingredientes são ações que otimizam o uso dos recursos e evitam perdas. Cardápios baseados na biodiversidade local e ajustados às necessidades nutricionais dos estudantes também contribuem para a aceitação e aproveitamento completo das refeições.

Além das práticas de gestão, a educação nutricional tem papel central. A inclusão de hortas pedagógicas nas escolas permite que os alunos tenham contato direto com a produção de alimentos frescos, aprendam sobre compostagem e desenvolvam hábitos alimentares saudáveis. Essas iniciativas integram a alimentação ao currículo escolar, promovendo um ciclo sustentável em que os resíduos são reaproveitados para enriquecer o solo e cultivar novos alimentos.

A legislação brasileira, como a Lei nº 11.947/2009, apoia essas iniciativas ao incluir práticas de educação alimentar nos programas escolares e estabelecer que 30% dos alimentos comprados sejam oriundos da agricultura familiar. A norma fortalece os circuitos locais de produção e consumo, reforçando a importância do uso de produtos regionais.

Experiências bem-sucedidas no Brasil e em outros países da América Latina têm mostrado resultados positivos na redução do desperdício nas escolas. A criação da Rede de Alimentação Escolar Sustentável (RAES) pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), com apoio da FAO, é um exemplo de iniciativa que promove intercâmbio entre países para compartilhar soluções e desafios no combate ao desperdício.

Para que essas ações ganhem escala, a colaboração de todos os atores envolvidos é necessária. Desde governos e gestores até educadores, merendeiras, estudantes e suas famílias, todos precisam estar comprometidos em adotar práticas sustentáveis e tomar decisões conscientes que impactem positivamente o planeta e as próximas gerações.

 

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