No Brasil, 18% dos casos de AVC ocorrem em jovens adultos
Segundo a revista The Lancet Neurology globalmente entre 1990 e 2021, as incidências de AVC aumentaram em 70%, com 44% a mais de mortes
A revista científica The Lancet Neurology, publicou recentemente um estudo que mostra que no mundo todo 15% das ocorrências de Acidente Vascular Cerebral (AVC) se manifestam em jovens adultos com idade entre 18 e 45 anos. Nacionalmente, segundo dados da Rede Brasil de AVC, essa mesma faixa etária representa 18% dos casos.
A pesquisa divulgada pela revista The Lancet Neurology revela que globalmente entre 1990 e 2021, as incidências de AVC aumentaram em 70%. Nesse mesmo período, as mortes por AVC cresceram cerca de 44%, enquanto o número de sequelas em decorrência deste incidente aumentou 32%. Ao todo foram registradas 11,9 milhões de ocorrências.
No Brasil, o Portal de Transparência de Registro Civil listou que entre janeiro e agosto de 2024, 39.345 brasileiros vieram a óbito por causa do Acidente Vascular Cerebral, somando uma média de aproximadamente seis mortes por hora.
O médico neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein Goiânia, Marco Túlio Pedatella explicou que o Acidente Vascular Cerebral, popularmente conhecido como “derrame”, ocorre quando há uma interrupção do fluxo de sangue para o cérebro, seja pela obstrução do fluxo por um coágulo, no caso do AVC isquêmico, ou pela ruptura de um vaso sanguíneo, no caso do AVC hemorrágico.
Marco Túlio ainda informou que o aumento no número dos casos de AVC ocorre por causa das mudanças de hábitos. “Nos últimos anos a mudança nos hábitos de vida seja com relação a alimentação, ritmo de trabalho com maior stress, falta de atividade física, abuso de álcool, tabagismo e o fato da população também estar envelhecendo mais tem contribuído para esse aumento”, pontuou.
Gustavo Veloso, que na época do ocorrido tinha 20 anos, tinha acabado de se mudar para o interior do Tocantins para fazer faculdade de medicina, segundo o relato de sua mãe Delma de Fatima Veloso e Melo, as aulas do jovem haviam começado há 15 dias.
“No dia 01 de março deste ano ele chegou da faculdade, almoçou, descansou um pouco e depois foi para academia com um colega de faculdade, mais ou menos uns 40 minutos depois esse colega foi me buscar, dizendo que ele tinha passado mal na academia e estava na UPA”, relatou Delma.
Delma de Fatima contou que o colega de Gustavo Veloso percebeu que ele não estava bem quando ele estava fazendo o segundo exercício. “Em seguida ele conseguiu abaixar e deitar no chão, colocaram ele no carro ele vomitou muito e já ficou inconsciente, mas se debatendo tentando se levantar e abrir os olhos”, contou a mãe do jovem.
Ao chegar na UPA os médicos não conseguiram estabilizá-lo, mesmo com sedações fortes ele continuava se debatendo. “Os médicos não suspeitaram de AVC, estavam tratando como uma crise de ansiedade, diziam que ele não tinha nenhum sintoma neurológico, só após muita insistência minha, transferiram ele para outro hospital da cidade para fazer uma tomografia, só descobriram que um AVC + – 7 horas após ele começar a passar mal e aí já tinha passado o tempo para fazer o protocolo de AVC” explicou Delma.
Delma informou que ele foi transferido de UTI aérea para Goiânia, pois precisava estar em um hospital com mais recursos, quando ele chegou na cidade já tinha mais de 24 horas do início do AVC.
A mãe de Gustavo afirmou que agora que o jovem já se recuperou um pouco ele ele consegue lembrar e diz que sentiu as vistas escurecer quando estava fazendo o primeiro exercício na academia, mas passou e ele continuou, no segundo exercício ele já não se lembra mais, quando ele passou mal já caiu.
“Antes disso, no dia ou nos dias anteriores ele não reclamou de nada, sem contar que ele sempre foi muito saudável, muito preocupado com saúde e com a alimentação, ia sempre ao médico, não comia muita besteira, desde criança praticou algum esporte, há mais de dois anos fazia academia diariamente”, contou Dela de Fatima Veloso.
Delma certificou que Gustavo não tinha nenhum fator de risco e que em todas as investigações, e tipos de exames solicitados pelos médicos, não foi detectado nada. “O único problema que ele tinha era ansiedade, que ficava mais acentuada nos períodos de provas de Enem e vestibular, mas ele tratava com terapia, nem usava medicamento contínuo”,detalhou Delma.
Gustavo Veloso ainda está em processo de recuperação, Delma de Fatima Veloso informou que ele ficou 73 dias internado, sendo 18 dias na UTI, 30 no quarto e mais 25 para reabilitação saiu da internação em maio e desde então, ele segue uma rotina intensiva de reabilitação de segunda a segunda.
O jovem que fez 21 anos no dia em que teve alta da UTI tem o domingo de descanso nas terapias que se iniciam diariamente as 9hrs da manhã e alguns dias da semana ele termina às 21 horas.
“Ele faz estimulação magnética intracraniana todos os dias para acelerar a neuroplasticidade do cérebro e potencializar as demais terapias, e aí segue neuropsicologa, Terapeuta Ocupacional, Fonoaudióloga, musicoterapeuta e fisioterapeuta”,argumentou Delma de Fatima.
A importância de ter hábitos que previnem o AVC
Segundo o neurologista Marco Túlio, ter hábitos de vida mais saudáveis com alimentação adequada, pouco sal, pouco gordura, controle adequado da pressão arterial e glicemia, não fumar, evitar o álcool ou se usar, consumir moderadamente, praticar atividade física, redução de peso e ter controle de adequado das doenças cardíacas são fundamentais.
A World Stroke Organization estimou que em 2050 o AVC será responsável por 9,7 milhões de mortes ao ano. Os autores do estudo ainda indicaram que o maior número de casos virá de países com renda média e baixa.
Para os casos de AVC hemorrágico, Marco Túlio explicou que se tratado com pacote de cuidados mais intensivos para controle da pressão arterial, glicemia, temperatura e reversão da anticoagulação, quando for o caso, em até 6 horas do início dos sintomas, é possível reduzir número de sequelas e mortalidade.
Segundo a Rede Brasil AVC, aproximadamente 90% dos casos de AVC podem ser prevenidos. Durante o decorrer de outubro, mês que carrega a data 29 de outubro como Dia Mundial do AVC, reforça a importância dos cuidados para reduzir os riscos de adquirir AVC. Em 2024, o slogan da campanha afirma que “Atividade física reduz em até 30% o risco de AVC’.
Outro fator explicado pelo neurologista é que quanto maior o tempo que o paciente com AVC leva para ser atendido, maior será o risco de sequelas incapacitantes. E por isso reconhecer sinais que o paciente está tendo um AVC, é imprescindível.
“Hoje temos uma janela curta nos casos de AVC isquêmico para que possamos desobstruir a artéria comprometida, seja com uso de medicamento endovenoso, cujo tempo é de até 4 horas e 30 minutos do início dos sintomas, como para o tratamento com remoção do coágulo, em alguns casos, por procedimento mecânico, com tempo de até 6 horas do início dos sintomas”, finalizou Marco Túlio neurologista do Einstein Goiânia.