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segunda-feira, 28 de outubro de 2024
Acervo

Herança cultural Xambá: um resgate de artefatos sagrados no Brasil

Acervo confiscado no Estado Novo revela peças históricas da nação Xambá, preservadas como símbolo de resistência e conectividade espiritual no Centro Cultural São Paulo

Postado em 28 de outubro de 2024 por Luana Avelar

Os descendentes da nação Xambá, originária da região entre Nigéria e Camarões, buscam resgatar parte de sua história no Brasil, especialmente os artefatos sagrados confiscados durante o Estado Novo, quando Getúlio Vargas, entre 1937 e 1945, ordenou a repressão às práticas religiosas de matriz africana. Na época, as peças de culto do povo Xambá, entre outros grupos, foram apreendidas e levadas para o depósito da Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco, identificadas como evidências de crime contra a ordem social.

Boa parte desse acervo foi incorporada à Missão de Mário de Andrade, que, em 1938, documentou a musicalidade dos terreiros do Recife e de Alagoas. Parte dos 1.200 artefatos recolhidos foi transferida para o Centro Cultural São Paulo (CCSP), onde está preservada até hoje. Em visita ao local, o historiador e membro da comunidade, Hildo Leal, teve acesso ao acervo pela primeira vez. Emocionado, Leal identificou itens como o Machado de Xangô e as gamelas de oferenda, elementos ainda utilizados na tradição e que simbolizam a resistência de um povo e sua conexão espiritual.

Apesar dos esforços de preservação, a procedência específica dos artefatos permanece incerta, pois muitos dos itens foram misturados e passaram por restaurações que alteraram suas características originais. “É impossível estabelecer a identificação exata das peças, pois estavam misturadas no depósito”, explica Rafael Sousa, historiador responsável pelo acervo do CCSP.

Diante da importância histórica e espiritual dessas peças, museus como o Museu da Abolição e o Museu do Estado de Pernambuco estão trabalhando na digitalização e catalogação dos artefatos em 3D para que o público possa acessar parte dessa herança cultural. Daniane Carvalho, museóloga responsável pelo acervo digital, lamenta a falta de identificação precisa: “Alguns desses objetos são cálices sagrados, que uma pessoa sem vínculo religioso não deveria acessar”.

O resgate desses artefatos, ainda que com dificuldades, representa não apenas a preservação da memória de um povo, mas também a resiliência da cultura Xambá no Brasil, mesmo frente à repressão e ao tempo.

 

 

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