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domingo, 1 de dezembro de 2024
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Leite Materno

Crise na saúde faz doações de leite materno caírem 40%

Redução de 40% nas doações coloca em risco o abastecimento para bebês prematuros atendidos nas maternidades da Capital

Postado em 7 de novembro de 2024 por Micael Silva
estoque de leite está em uma situação delicada, com níveis baixos, mas começa a subir graças às campanhas realizadas Foto: Reprodução/ Ascom Fundahc
estoque de leite está em uma situação delicada, com níveis baixos, mas começa a subir graças às campanhas realizadas Foto: Reprodução/ Ascom Fundahc

A Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-BR) é uma iniciativa fundamental para promover, proteger e apoiar o aleitamento materno. Ela abrange atividades de coleta, processamento e distribuição de leite humano, garantindo suporte a bebês prematuros ou com baixo peso que não podem ser amamentados diretamente por suas mães. Além disso, a rede oferece atendimento especializado com orientações para o aleitamento materno. Com a maior e mais avançada estrutura de bancos de leite humano do mundo, o Brasil se destaca internacionalmente por suas estratégias de baixo custo, alta qualidade e tecnologia.

Durante o mês de conscientização sobre a prematuridade, conhecido como Novembro Roxo, o Banco de Leite Humano da Maternidade Nascer Cidadão, em Goiânia, alerta para uma preocupante queda de 40% nas doações de leite materno. A unidade, que fornece leite para bebês prematuros das maternidades municipais Dona Iris, Célia Câmara e Nascer Cidadão, já enfrentou dificuldades ao longo do ano. 

Em janeiro de 2024, as doações diminuíram 35%, alarmando os diretores das maternidades. Em julho, a redução foi de 15%, diminuindo uma tendência de queda que agora atinge um nível crítico. O leite materno é essencial para o desenvolvimento e a recuperação desses recém-nascidos, e a baixa nas doações representa um grande desafio para a equipe de saúde e para as famílias atendidas.

O Dia Mundial da Prematuridade, realizado em 17 de novembro, integra o “Novembro Roxo 2024”, uma campanha global de conscientização sobre a prematuridade. Seu objetivo é alertar sobre o crescente número de partos prematuros e informar sobre formas de prevenção, além de discutir as consequências para o bebê, a família e a sociedade. Anualmente, 15 milhões de bebês nascem prematuramente no mundo; o Brasil ocupa a 10ª posição nesse ranking, com cerca de 302 mil nascimentos antes das 37 semanas de gestação.

Na última segunda-feira (4), uma audiência pública em homenagem ao Novembro Roxo, mês de conscientização sobre a prematuridade, foi realizada no auditório 2 da Assembleia Legislativa de Goiás. O evento contou com a participação de profissionais de saúde, parlamentares e representantes da sociedade civil. Na abertura, o deputado Mauro Rubem (PT) enfatizou a importância da iniciativa para dar visibilidade ao tema e promover a discussão sobre os desafios enfrentados por famílias e profissionais da área.

Renata Machado Leles é coordenadora do Banco de Leite Humano (BLH) do Hospital Estadual da Mulher (Hemu) e comenta as ações que a maternidade está implantando para compensar a queda nas doações de leite materno. “O estoque de leite está em uma situação delicada, com níveis baixos, mas começando a subir graças às campanhas realizadas. Fizemos campanhas tanto na mídia convencional quanto em redes sociais. Criamos um WhatsApp próprio do banco de leite, com cinco grupos de doadoras . Pedimos que elas façam postagens nas redes sociais, como ‘Eu dou leite materno, dou, e você também?’.”

Apesar do aumento, Renata ressalta a importância de continuar a mobilização. “Com o estoque que temos hoje, conseguimos abastecer o Hospital Estadual da Mulher, mas isso não é o limite. Não podemos permanecer nessa situação crítica. A campanha é eterna. Precisamos sempre de ações para garantir um estoque seguro, especialmente para os recém-nascidos de ITU e para os prematuros.”

A doação de leite materno tem um impacto significativo nas maternidades e na comunidade. Ela garante que os bebês que não podem ser alimentados por suas mães recebam uma nutrição adequada, melhorando suas chances de sobrevivência e recuperação. O leite doado é especialmente importante em situações em que as mães enfrentam dificuldades, como complicações de saúde ou a necessidade de internação.

Renata explica como a maternidade apoia as mães lactantes para incentivá-las a doar leite materno e manter a amamentação. No Banco de Leite, ganhou em duas frentes. “A primeira é a amamentação, para mães que têm dificuldade em amamentar seus bebês, oferecemos orientação sobre aleitamento materno no BLH. Quando uma mãe entra em contato dizendo que deseja doar, a primeira pergunta que fazemos é sobre a idade do seu bebê. Se o bebê tiver até uma semana de vida, pedimos que ela venha”, pontua.

Uma vez apresentada a amamentação, se a mãe tiver um excesso de leite que ultrapassa a necessidade do próprio filho, começamos a considerar a doação. Além disso, enquanto doadora, essa mãe tem direito ao acompanhamento do seu bebê com o pediatra do Banco de Leite, conforme as disposições da legislação. É importante ressaltar que, de acordo com a RBC 171, a doação deve ser altruísta, feita por solidariedade, para ajudar a nutrir os bebês.

Aleitamento materno fortalece sistema imunológico

A Dra. Vanessa Tipple, médica pediatra, destaca a importância do leite materno para o desenvolvimento neurológico de bebês prematuros. Ela explica que o leite materno é o alimento mais completo já que “ele se adapta a todas as necessidades do bebê, desde o prematuro até quando o bebê está doente”. “Quando o bebê é prematuro, esse leite contém mais anticorpos e mais proteínas, além de auxiliar no desenvolvimento cerebral e na restauração cerebral. Um bebê prematuro extremo, que está na UTI, passa por muitos estímulos, inclusive dolorosos, como intubação e manipulações médicas, esses processos que ele enfrenta.”

O leite materno é considerado o melhor alimento para recém-nascidos, pois fornece nutrientes essenciais, proteínas e enzimas que fortalecem o sistema imunológico da criança, ajudando a prevenir infecções e doenças.Vanessa Tipple, pediatra, enfatiza a importância do leite materno para bebês prematuros na UTI. 

“A gente sempre fala que ele precisa do leite materno, nem que seja do colostro. Até tem o nome de colostroterapia. Ele vai passar para o bebê todos os anticorpos, ajudando na imunidade desse bebê que está fragilizado. Na UTI, além das complicações, temos que considerar a parte digestiva Se esse bebê é exposto à fórmula infantil mais cedo, há uma chance maior de desenvolvimento de enterocolite, que é uma infecção no intestino. O leite materno vai proteger esse intestino, vai proteger esse cérebro, vai ajudar na imunidade, na recuperação e no ganho de peso, pois o leite da mãe para um bebê prematuro.”

Estudos mostram que crianças que são amamentadas exclusivamente com leite materno nos primeiros seis meses de vida apresentam melhores resultados em testes de inteligência e desenvolvimento cognitivo ao longo da infância.

Como doar leite materno

As mães que desejam se tornar doadoras de leite materno em Goiânia podem se cadastrar em uma das três maternidades municipais. Após a inscrição, as equipes de saúde fornecem frascos esterilizados e agendam visitas semanais às residências das doadoras para garantir a segurança da coleta.

Além de receber doações, o Banco de Leite oferece assistência às mães, ensinando técnicas de amamentação e armazenamento correto do leite. O diretor-técnico da Maternidade Dona Iris, Affonso Honorato, ressalta a importância do apoio às lactantes, afirmando que muitas mães deixam de amamentar por falta de orientação.

O Banco de Leite Humano da Maternidade Nascer Cidadão e os Postos de Coleta nas maternidades estão disponíveis para receber ações mediante agendamento. O Banco de Leite MNC atende todos os dias, com informações pelo telefone (62) 3299-1919. O Posto de Coleta do HMDI funciona diariamente das 7h às 19h, com informações pelo telefone (62) 3956-8887. O Posto de Coleta HMMCC opera de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, pelo telefone (62) 3121-6265.

A doação de leite materno, especialmente durante o Novembro Roxo, é um ato de solidariedade que pode salvar vidas. O Banco de Leite de Goiânia convida todas as mães lactantes para se informarem e colaborarem para beneficiar mais bebês.

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