Representatividade de mulheres negras na política brasileira
A pioneira Almerinda Farias Gama, foi uma das primeiras mulheres negras a votar na Assembleia Constituinte de 1934
Desde a década de 1930, quando os movimentos negros no Brasil começaram a lutar pela autodeclaração de cor ou raça como uma exigência política, a sociedade passou a perceber a presença de uma significativa parcela da população sem condições de exercer plenamente sua cidadania. Essa realidade ainda persiste nos dias atuais, com a participação política das pessoas negras, especialmente das mulheres negras, sendo limitada em comparação à de outros grupos.
A participação política, que inclui presença, ativação e tomada de decisões, continua sendo um desafio para as mulheres negras, apesar de seu papel crucial para o avanço da democracia no país, já que elas representam mais de 28% da população. Nos últimos anos, contudo, essas mulheres têm se reconhecido como agentes políticas e se tornado alvos de estratégias eleitorais de partidos e outras instituições, que buscam conquistar esse segmento crescente e cada vez mais influente.
Apesar do aumento, ainda existem barreiras significativas para que elas se elejam e consigam exercer seus mandatos. Fatores como a sobrecarga de trabalhos de cuidados, desigualdade financeira, limitações sociais no desenvolvimento do capital político e a violência política de gênero e raça são obstáculos persistentes. Contudo, tanto homens quanto mulheres negras organizados têm avançado lentamente na ocupação de espaços de poder e decisão.
Mulheres na política
Esse avanço remonta à época pós-abolição, com mulheres negras já estando à frente da luta por direitos sociais. Um exemplo disso é a pioneira Almerinda Farias Gama, que, há 125 anos, foi uma das primeiras mulheres negras a votar na Assembleia Constituinte de 1934. Um ano depois, Antonieta de Barros se tornou a primeira mulher negra eleita por voto popular no Brasil. Ela centrava sua campanha na educação como ferramenta de transformação social.
Décadas mais tarde, figuras como Benedita da Silva e Laélia de Alcântara consolidaram-se como líderes políticas. Com Benedita, por exemplo, atuando como governadora, senadora e deputada federal, enquanto Laélia fez história como a primeira senadora negra do país.
Além disso, o apoio das eleitoras e eleitores às mulheres negras é evidente. Nas eleições de 2020, elas receberam 8,89% dos votos válidos, um aumento considerável em relação aos 6,20% registrados em 2016. Esse crescimento de mais de 2,3 milhões de votos nas últimas eleições municipais reflete a confiança do público. Porém, evidencia que as barreiras institucionais ainda são um obstáculo significativo.
Para acelerar o processo de inclusão de mulheres negras em posições de poder, diversas iniciativas têm surgido em diferentes setores da sociedade. No entanto, é necessário adotar medidas legais eficazes que garantam os direitos políticos do maior grupo populacional do Brasil e permitam que ele exerça plenamente sua influência na política nacional.