Será? Pesquisa afirma que todo mundo é bissexual
Estudo ainda sugere que moralidade, cultura e religião moldam a percepção da sexualidade; entenda
Será que todas as pessoas seriam bissexuais se não existissem as influências da cultura, religião e moralidade? Para muitos, essa ideia pode parecer provocativa ou até mesmo inusitada. No entanto, uma pesquisa pela Gleeden, plataforma especializada em encontros extraconjugais, levanta exatamente essa hipótese. Segundo o levantamento, 70% dos heterossexuais que utilizam o aplicativo acreditam que a orientação sexual seria muito mais fluida em um mundo livre dessas imposições.
Os dados lançam luz sobre um debate que vem ganhando espaço: até que ponto a sexualidade humana é moldada por fatores externos, como normas culturais e religiosas?
Para entender a fluidez da sexualidade, é necessário considerar o papel que a sociedade desempenha na formação da identidade sexual. A pesquisa da Gleeden revelou que quase metade dos entrevistados, 45%, já cogitou um relacionamento com alguém do mesmo gênero. Além disso, 20% admitiram ter vivido experiências sexuais com pessoas do mesmo sexo, enquanto 18% relataram ter se envolvido afetivamente com essas pessoas.
No Brasil, onde o conservadorismo ainda é forte, a heterossexualidade continua sendo vista como padrão. Especialistas apontam que essa visão é mantida por normas culturais e religiosas que reprimem a diversidade sexual. No entanto, os dados sugerem que essa imposição pode não refletir as verdadeiras experiências e desejos dos indivíduos.
A sexualidade como um espectro
A ideia de que a sexualidade não é estática não é nova. Alfred Kinsey, um dos pioneiros no estudo da sexualidade humana, desenvolveu nos anos 1950 a famosa Escala de Kinsey. Esse modelo propõe que as pessoas não se enquadrem exclusivamente em categorias como heterossexual ou homossexual, mas que existem múltiplos pontos intermediários.
Os dados da Gleeden reforçam essa teoria, mostrando que as fronteiras entre as orientações sexuais podem ser muito mais fluidas do que se imagina. A American Psychological Association (APA) também sustenta essa visão, destacando que a orientação sexual é profundamente influenciada pelo ambiente social, pelas interações e pela pressão familiar.
Em sociedades mais abertas, onde há maior aceitação da diversidade, a expressão da sexualidade tende a ser mais autêntica e menos reprimida.
Embora o Brasil ainda enfrente desafios relacionados à aceitação da diversidade sexual, avanços importantes têm ocorrido, principalmente entre as gerações mais jovens. A psicóloga e sexóloga Vera Iaconelli aponta que a internet e as redes sociais desempenham um papel essencial na disseminação de novas ideias sobre sexualidade e identidade.
Datas como o Dia Internacional da Luta Contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, celebrado em 17 de maio, ajudam a dar visibilidade a essas questões. Instituída no Brasil em 2010, a data reforça a importância de combater preconceitos e estimular debates que promovam maior compreensão e respeito à diversidade sexual.
A pesquisa sugere que a bissexualidade, frequentemente reprimida por normas sociais, seria mais prevalente em um ambiente livre de julgamentos. Isso levanta questões interessantes sobre como as relações humanas poderiam se desenvolver em uma sociedade verdadeiramente inclusiva.
Os resultados apresentados pela Gleeden não têm a intenção de concluir o debate, mas sim de abrir novas perspectivas. A sexualidade, frequentemente vista como algo fixo, pode ser muito mais dinâmica e influenciada por fatores externos do que se acredita.
Em um mundo que se torna cada vez mais aberto às questões LGBTQIA+, talvez o maior desafio seja permitir que as pessoas vivam sua sexualidade de forma autêntica, sem medo ou repressão.
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