Governo Lula enfrenta pressão do PSD por maior protagonismo
Divisão interna nos partidos da base ameaça aprovação do pacote fiscal no congresso
A relação do PSD com o governo Lula enfrenta tensão crescente. Embora o partido ocupe três ministérios – Minas e Energia, Agricultura e Pesca –, a bancada na Câmara exige uma pasta com maior impacto eleitoral. A insatisfação pode levar ao rompimento do apoio caso o governo não atenda à demanda, especialmente no contexto das eleições de 2026.
A principal crítica do PSD recai sobre o Ministério da Pesca e Aquicultura, liderado por André de Paula (PSD-PE). Deputados avaliam que o orçamento modesto de R$ 356 milhões e a pouca presença em estados e municípios tornam a pasta incapaz de atender às bases eleitorais. Em comparação, partidos aliados como União Brasil e MDB comandam ministérios com estruturas mais robustas e alcance direto.
O União Brasil, por exemplo, controla a Codevasf, responsável por obras e entregas regionais, enquanto o MDB lidera os ministérios das Cidades e dos Transportes, ambos com forte conexão com governos locais. Essa disparidade aumenta a insatisfação do PSD, que busca maior protagonismo.
Crise com o PT
A relação entre PSD e PT se deteriorou após os petistas apoiarem Hugo Motta (REP-PB) para a presidência da Câmara, em vez de Antonio Brito (PSD-BA). Essa escolha foi interpretada como traição e resultou em um atraso estratégico de Brito na assinatura do requerimento de urgência de projetos prioritários do governo.
Mesmo após a liberação de Brito, a votação revelou uma base fragmentada: entre os 44 deputados do bloco liderado pelo PSD, até 27 votaram contra a urgência dos projetos de contenção de despesas. A divisão reflete um descontentamento que pode dificultar ainda mais a aprovação das propostas no Congresso.
“O mérito ainda vamos discutir na outra semana, estamos discutindo apenas a urgência para darmos um sinal de que este Congresso tem responsabilidade com o País e não com o governo”, afirmou José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara
Leia também: Lula autoriza férias para oito ministros entre dezembro e janeiro
Base aliada dividida
O PSD não está sozinho na pressão sobre o governo. Outras siglas da base possuem parlamentares que votam frequentemente contra as orientações do Planalto. 26 deputados de partidos com ministérios já divergem do governo em mais da metade das votações.
Entre os mais opositores está o União Brasil, com 13 deputados contrários ao governo, seguido pelo PP, com seis, e pelo Republicanos, MDB e PSD, cada um com dois parlamentares de perfil oposicionista.
Desafios com o pacote fiscal
O governo enfrenta dificuldades crescentes para aprovar o pacote de cortes de gastos no congresso. Propostas como a mudança no cálculo do Fundo Constitucional do DF têm gerado resistência. O novo critério, que indexa os repasses à inflação, pode reduzir recursos para saúde, segurança e educação, afetando a economia da capital federal.
A articulação contra a mudança é liderada por Rafael Prudente (MDB-DF), com apoio de PSD e PP, que juntos somam 94 deputados. Sem um consenso, o governo corre o risco de enfrentar derrotas nas votações, que exigem maioria absoluta para aprovação. (Especial para O Hoje)