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segunda-feira, 9 de dezembro de 2024
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Crise na saúde

Goianienses enfrentam falta de leitos e servidores reclamam atrasos salariais

Nos últimos meses, pelo menos cinco pessoas morreram à espera de vagas em UTIs, evidenciando a gravidade da situação na crise da saúde de Goiânia

Postado em 9 de dezembro de 2024 por Micael Silva
Trabalhadores relatam atrasos nos pagamentos e condições precárias nas unidades de saúde Foto: Micael Silva O Hoje/ Sindsaúde
Trabalhadores relatam atrasos nos pagamentos e condições precárias nas unidades de saúde Foto: Micael Silva O Hoje/ Sindsaúde

Goiânia tem enfrentado, nos últimos meses, um verdadeiro caos na saúde pública. Há falta de leitos em UTIs, superlotação nos CAIS (Centros de Atenção Integral à Saúde), médicos com atrasos salariais e falta de ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), além de diversos outros problemas que agravam a situação.

Nos últimos meses, pelo menos cinco pessoas morreram à espera de vagas em UTIs, evidenciando a gravidade da situação. A cidade também lida com superlotação em hospitais, interrupção de atendimentos domiciliares e fechamento de leitos por falta de pagamento a fornecedores​.

A situação da saúde pública em Goiânia é classificada como calamitosa pelo Sindicato dos Trabalhadores no Sistema Único de Saúde de Goiás (Sindsaúde-GO). A rede municipal enfrenta uma crise generalizada, com escassez de medicamentos, insumos e falta de profissionais. Além disso, os trabalhadores relatam atrasos nos pagamentos e condições precárias nas unidades de saúde.

Leia mais: MP-GO aponta renúncia de Secretária como prova de colapso na saúde de Goiânia

De acordo com o Sindsaúde, profissionais de diversas áreas estão sem receber benefícios básicos, como o vale-alimentação, há mais de cinco meses. A incerteza sobre o pagamento dos salários de dezembro agrava ainda mais o cenário, já que o atual secretário municipal de saúde informou que as contas estão bloqueadas, o que pode comprometer a folha de pagamento.

Entre os médicos, a insatisfação com atrasos salariais também tem levado a mobilizações. A prefeitura regularizou recentemente a última competência dos pagamentos, mas débitos anteriores continuam pendentes. Essa situação tem provocado paralisações e pode culminar em greve. Segundo o sindicato, os atrasos não se restringem aos médicos, afetando todos os trabalhadores da saúde, como equipes de limpeza, enfermeiros e técnicos, que enfrentam condições adversas e falta de salários.

A crise de abastecimento nas unidades de saúde é grave. Há relatos de falta de medicamentos essenciais, como insulina, dipirona e antibióticos. No Cais Amendoeiras, por exemplo, a ausência de insumos compromete até o funcionamento da Sala Vermelha, destinada a casos de emergência. “A situação é preocupante, e ainda faltam mais de 20 dias para a posse do novo prefeito”, afirma o Sindsaúde.

Além da precariedade estrutural, os trabalhadores enfrentam sobrecarga e pressão constante. “Os profissionais de saúde estão absolutamente pressionados pela população, pois são eles que enfrentam a cobrança direta por medicamentos, insumos e vagas que não existem”, destaca o sindicato. O estresse físico e mental afeta médicos, enfermeiros e todos os trabalhadores da linha de frente.

Apesar dos esforços do Sindsaúde para buscar soluções, não houve posicionamento da prefeitura sobre a crise. Tentativas de contato com membros da atual gestão e da equipe de transição foram infrutíferas. “A vice-prefeita informou que só haverá diálogo após a posse. Até lá, os trabalhadores e usuários permanecem sem respostas e com condições deterioradas”, lamenta o sindicato.

A situação da saúde em Goiânia, segundo o Sindsaúde, demanda ação imediata, tanto para garantir melhores condições de trabalho aos profissionais quanto para atender às necessidades urgentes da população usuária do SUS.

O jornal O Hoje esteve no Cais Amendoeiras na sexta-feira (06), onde ocorreu uma mobilização dos funcionários relacionada ao atraso nos pagamentos e ao possível fechamento da unidade. Após uma reunião entre a Secretaria de Saúde e a responsável pela unidade, ficou decidido que o Cais permanecerá com atendimento aberto até o dia 31/12.

Duas funcionárias de limpeza, que preferiram não se identificar, compartilharam as dificuldades enfrentadas após ficarem sem receber trabalho por dois meses .

“Eu tive que procurar outro emprego, mas ainda não recebi nenhum outro. Minha família está me ajudando com a cesta básica. Agora as contas estão todas penhoradas”, revelou uma das trabalhadoras. Questionada sobre sua situação familiar, ela contou que tem filhos e que os pagamentos da babá também estão atrasados.

Um colega reforçou o relato: “As contas estão atrasadas, cartão atrasado, e não temos de onde tirar. Eu trabalho só nesse aqui mesmo.”

Sobre o posicionamento da empresa ou do sindicato, ambas expressaram descrição. “Eu não participo de sindicato, porque o salário já é pouco e, com o desconto do sindicato, fica ainda menor”, ​​afirmou uma delas.

Segundo a funcionária, a empresa responsável pela contratação teria emitido uma nota explicando que os pagamentos foram bloqueados devido a questões judiciais. “Eles disseram que o repasse já foi feito, mas está bloqueado e estão aguardando a liberação para o dinheiro cair na conta.”

MPGO requer intervenção do Estado na área da Saúde

O Ministério Público de Goiás (MPGO) protocolou pedido de intervenção estadual na saúde pública de Goiânia, devido à grave crise no setor. A solicitação, apresentada pelo procurador-geral Cyro Terra Peres ao Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), aponta notoriamente sistemáticas aos direitos à vida e à saúde, ao descumprimento de decisões judiciais e à má gestão financeira.

Entre os problemas destacados estão a superlotação, falta de insumos básicos, precariedade estrutural e paralisação de médicos. A crise foi agravada pela prisão de membros da Secretaria Municipal de Saúde, atrasos nos repasses de palavras e abandono de reformas. Apesar das decisões liminares exigindo melhorias, a prefeitura não cumpriu integralmente as obrigações.

A vereadora Daniela da Gilka expressou preocupação com a crise na saúde pública em Goiânia e os rumores sobre o fechamento de uma unidade de saúde na região Leste da cidade.

“Será que realmente há fechamento, como vamos atender a população? A região Leste inteiro, juntamente com a Norte, ficaram sem atendimento. Essa população precisa de socorro, de ajuda. A saúde está em crise, mas a população não pode pagar o preço por uma má gestão”, afirmou Daniela.

O MPGO justifica a medida devido ao fracasso de tentativas anteriores, como notificações e acordos, e busca normalizar os serviços essenciais e garantir os direitos constitucionais da população. O TJGO avaliará o pedido.

O Sindicato dos Médicos no Estado de Goiás (Simego) anunciou que, a partir da próxima segunda-feira (09), os profissionais credenciados junto à Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) irão paralisar os atendimentos. Enquanto isso, os trabalhadores enfrentam dificuldades para sustentar suas famílias e manter as contas no dia, aguardando uma solução definitiva para o problema.

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