A estudante de Biologia Clara Carvalho, de 20 anos, enfrentou grandes dificuldades durante o processo para obter a aprovação de sua habilitação por meio do Detran e as autoescolas. Ela compartilha sua experiência, destacando que as maiores barreiras foram financeiras e estruturais. A estudante que nunca havia dirigido antes de iniciar as aulas, relata que o processo foi marcado por um alto custo e falta de preparo nas autoescolas. 

Clara conta que, inicialmente, as dificuldades financeiras foram um grande obstáculo, pois o Detran cobra taxas elevadas, e as autoescolas também aplicam valores altos por seus serviços. Ela destaca que a parte teórica foi a mais tranquila, mas que a professora não era muito profissional, com aulas impessoais e conteúdos sensíveis sendo apresentados.

No entanto, o maior desafio de Clara foi a parte prática. Ela nunca havia se sentado ao volante de um carro antes das aulas e descreve o instrutor como “gente boa”, mas com pouca preparação para lidar com um novato no volante. 

Ela lembra de ser colocada no banco do motorista e orientada a ligar o carro, sem explicações claras sobre o funcionamento básico do veículo, como a embreagem e a troca de marchas. “Foi um choque muito grande para mim, porque eu não sabia o que estava fazendo. E o nervosismo só aumentava a cada aula”, explica Clara, relembrando a dificuldade de aprender a dirigir sem uma base sólida.

Mas, apesar das dificuldades enfrentadas nas aulas, a parte mais difícil para Clara foi o dia da prova prática. O processo de agendamento era confuso, sem a organização de uma ordem definida. “Você chega e não sabe se vai ser o primeiro ou o último a fazer a prova. Ficava esperando por horas, vendo outras pessoas reprovando, o que afetava ainda mais o psicológico”, diz ela. 

Quando Clara fez a prova, o nervosismo e a pressão foram intensos, e ela reprovou três vezes antes de ser aprovada na quarta tentativa. “Cada reprovação era como se fosse uma perda, e o custo do reteste só aumentava minha frustração”, afirma.

Então, diante de tantas reclamações sobre os processos de habilitação, o Detran Goiás decidiu tomar medidas para melhorar a situação. A principal mudança é que as autoescolas que não conseguirem aprovar pelo menos 60% de seus candidatos poderão ser descredenciadas.

Alguns dados de 2023 mostraram que de 609 Centros de Formação de Condutores (CFCs) que realizaram exames práticos em Goiás, apenas 406 conseguiram atingir o índice mínimo de aprovação de 60%. O número de reprovações gerou uma preocupação crescente, principalmente quando se considera que a média de aprovação nas provas práticas foi de 63%, enquanto nos exames teóricos esse índice subiu para 67%.

Para melhorar esses índices, o Detran passou a monitorar de forma mais rigorosa o desempenho das autoescolas e a divulgar o ranking das melhores e piores instituições no site da autarquia.

O presidente do Detran-GO, Delegado Waldir, explica que a mudança visa não apenas reduzir os custos dos retestes, mas também melhorar a qualidade da formação oferecida aos candidatos. 

“O custo da habilitação é muito alto, e esse processo todo de reprovação repetida acaba onerosamente prejudicando o candidato. Nossa proposta é garantir que o processo de habilitação seja mais eficiente e acessível, formando motoristas bem preparados”, afirma Waldir. Ele também destaca que, ao monitorar e divulgar o desempenho das autoescolas, os cidadãos poderão escolher aquelas com melhores resultados, o que permitirá uma escolha mais assertiva e de custo-benefício.

Com o novo sistema de acompanhamento, o Detran visa identificar as autoescolas que não estão cumprindo com os requisitos de aprovação e propor melhorias. As autoescolas que não atingirem o índice mínimo de 60% por três meses consecutivos serão notificadas e, se o problema persistir, poderão ser descredenciadas. A medida pretende forçar uma mudança nas práticas das autoescolas, incentivando-as a melhorar a qualidade do ensino e, consequentemente, a aprovação dos candidatos.

Os resultados já começam a ser divulgados no site do Detran Goiás, onde é possível consultar o desempenho das autoescolas por município e verificar os rankings. “A transparência ajuda a criar um ambiente de competição saudável, no qual as autoescolas com melhores índices são reconhecidas. E, ao mesmo tempo, aquelas com desempenhos mais baixos têm a oportunidade de melhorar”, explica o presidente da instituição.

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