Dezembrite: a síndrome do final de ano e seus efeitos
Pesquisa revela que o estresse e a ansiedade aumentam em dezembro, afetando a saúde mental de milhões de brasileiros
Com o final do ano se aproximando, muitos brasileiros aguardam ansiosos pelas férias de fim de ano, planejando descansar e restaurar a saúde mental. No entanto, para uma grande parte da população, esse período nem sempre é sinônimo de alívio. Um estudo recente da International Stress Management Association (Isma) revela que 80% das pessoas economicamente ativas experimentam um aumento no estresse, na ansiedade e até na depressão no final do ano. Esse fenômeno, conhecido como a “Síndrome do Final do Ano” ou “dezembrite”, é caracterizado por um conjunto de fatores que envolvem a autocobrança, melancolia e frustração típicas dessa época.
O conceito de “dezembrite” abrange o estresse resultante de uma agenda cheia de compromissos, como confraternizações, viagens e eventos, além da introspecção que costuma ocorrer ao se fazer um balanço do ano. Muitas pessoas, ao refletirem sobre as metas não cumpridas ou os objetivos não alcançados, acabam se sentindo frustradas. Esse cenário emocional pode intensificar sintomas de ansiedade e até desencadear quadros depressivos. A pressão por perfeição e a sobrecarga de responsabilidades podem se tornar um caldo emocional difícil de digerir, causando um impacto significativo na saúde mental.
O psicólogo Ricardo Monteiro, explica que o estresse relacionado ao final do ano pode ser agravado por uma rotina excessivamente cheia de tarefas e compromissos sociais. Para evitar que a temporada de festas se torne um momento de sobrecarga emocional, ele recomenda o planejamento como chave para preservar o equilíbrio mental.
“É importante reservar o período de férias para o descanso verdadeiro e o convívio com as pessoas queridas, sem se sobrecarregar com atividades estressantes ou excessos que podem prejudicar a saúde mental”, orienta Monteiro. Ele destaca que o recesso de fim de ano deve ser um momento de pausa, longe de viagens cansativas ou filas intermináveis de aeroportos e rodoviárias. Para ele, a verdadeira finalidade desse tempo de folga deve ser o encontro consigo mesmo e com as pessoas importantes, longe das cobranças e da pressão por perfeição.
Além disso, Monteiro destaca a importância de ser realista com as expectativas, tanto em relação às festas quanto às metas do ano. “As festas são um momento de lazer e alegria, e o fato de não poder fazer tudo o que planejamos não deve ser motivo para frustração. O mais importante é aproveitar o momento presente e a companhia das pessoas, sem se deixar consumir pela ansiedade.”
Como priorizar o bem-estar
Segundo Monteiro, o segredo para um final de ano mais tranquilo e saudável está no planejamento. O psicólogo explica que as pessoas precisam evitar se sobrecarregar, especialmente em uma época tão festiva e cheia de compromissos. “Em vez de criar uma agenda apertada, o mais importante é usar o tempo para uma organização pessoal que permita fazer um balanço do ano e traçar metas realistas para o próximo ano”, afirma. Ele sugere que o tempo disponível deve ser dedicado ao descanso, ao lazer e a momentos de reflexão, sem sobrecarregar as energias.
A recomendação do especialista é que a saúde mental deve ser priorizada, com um equilíbrio entre os compromissos pessoais, familiares e sociais. “O recesso de fim de ano é uma excelente oportunidade para reavaliar a rotina e reprogramar as metas para o próximo ano. No entanto, é necessário que essa reavaliação seja feita de forma equilibrada e sem gerar mais ansiedade. Afinal, o planejamento deve ser leve, sem pressões exageradas”, afirma Monteiro.
O psicólogo também alerta que o descanso deve ser uma prioridade. De acordo com pesquisas, são necessários pelo menos 10 dias para que o corpo e a mente consigam realmente relaxar e recarregar as energias. No entanto, muitas vezes o recesso de fim de ano é mais curto e cheio de compromissos, o que compromete esse processo de recuperação. Por isso, a recomendação é aproveitar os dias após as festas para refletir e se planejar, respeitando o tempo de descanso e lazer.
“Organizar-se para um ano novo começa com a capacidade de descansar e refletir. Isso é fundamental para retomar a rotina com mais disposição e equilíbrio”, completa Monteiro.