Dinheiro desviado da saúde de Goiânia não passou pelo cofre da SMS
Pasta enfrenta uma dívida de aproximadamente R$ 300 milhões com as unidades de saúde, e 10 milhões foram lavados por uma organização
A Saúde de Goiânia tem enfrentado desafios, mediante de um cenário de caos a presença da polícia se faz necessário para conseguir restaurar o que restou e punir os responsáveis pela degradação da saúde pública. A batalha para encontrar os responsáveis teve início com a detenção do ex-secretário municipal de Saúde, Wilson Modesto Pollara, durante uma ação conduzida pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) em 27 de novembro deste ano.
A investigação, destinada a detectar irregularidades nos pagamentos de contratos administrativos, resultou na detenção de três indivíduos diretamente ligados à administração da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Wilson Pollara, ex-secretário da pasta, e outros dois envolvidos, Quesede Ayres Henrique, secretário executivo da SMS, e Bruno Vianna Primo, diretor financeiro do Fundo Municipal de Saúde, foram alvos da Operação Comorbidade. A ação investiga crimes relacionados a pagamentos irregulares, favorecimento ilícito em contratos e práticas criminosas dentro da administração pública.
Durante o cumprimento dos mandados, os promotores encontraram R$ 20.085,00 em espécie com um dos investigados, além de identificarem uma série de irregularidades nos pagamentos à Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc), uma das entidades mais afetadas pelo esquema de corrupção.
O esquema, além de prejudicar a administração pública, aprofundou a crise da saúde em Goiânia. De acordo com o MP-GO, o município possui atualmente uma dívida de cerca de R$ 300 milhões com unidades de saúde. Esse montante reflete a má gestão, os desvios de recursos públicos e a falta de repasses adequados às instituições de saúde, impactando diretamente a população que depende do sistema público.
Após a prisão de Wilson Pollara e outros envolvidos, o Ministério Público de Goiás concluiu que não havia justificativa para manter a prisão temporária do ex-secretário. Assim, Pollara foi solto, mas a investigação continuou a todo vapor. Porém, em um novo desdobramento das investigações, mais uma operação foi realizada.
Na manhã desta terça-feira (17), a Polícia Civil de Goiás, por meio da Delegacia Estadual de Combate à Corrupção (DECCOR) realizou a Operação Speedy Cash, com o objetivo de desmantelar um esquema de desvio de recursos públicos, envolvendo agentes públicos da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e uma associação privada sem fins lucrativos.
Essa nova investigação apura crimes de peculato e associação criminosa, que possivelmente foram praticados através de um convênio celebrado entre o Município de Goiânia e a referida associação. O convênio tinha como finalidade a aquisição de equipamentos para a prestação de serviços de saúde móvel, palestras sobre saúde e a inserção de serviços de acessibilidade e pesquisas relacionadas ao microbioma intestinal.
No entanto, ao longo da investigação, os promotores de Justiça descobriram que dois núcleos criminosos estavam envolvidos, um composto por servidores públicos da SMS, que viabilizaram o convênio, e outro formado por pessoas vinculadas à associação privada, que se apropriaram de recursos públicos da ordem de R$ 9,9 milhões. Juntos, os dois grupos teriam desviado mais de R$ 10 milhões dos cofres públicos.
Além da prisão temporária de cinco suspeitos e a realização de 17 mandados de busca e apreensão, medidas cautelares como o afastamento de sigilo bancário, telemático e de bens, bem como a suspensão de funções públicas e atividades econômicas, também foram adotadas para garantir o ressarcimento ao erário. O sequestro de bens dos envolvidos, no valor de R$ 10 milhões, está sendo providenciado com o intuito de devolver os valores ao município.
Com os desdobramentos dessa nova operação, Wilson Pollara e Quesede Ayres Henrique passaram a ser considerados foragidos. A defesa de Pollara afirmou que ele não está foragido, mas em tratamento médico em São Paulo. Entretanto, a polícia ainda não localizou os dois suspeitos, que são apontados como peças-chave neste esquema criminoso que lesou a administração pública.
Nota da prefeitura
A situação gerou uma grande repercussão na cidade. Diante dos fatos, a Prefeitura de Goiânia se manifestou por meio de uma nota oficial, informando que está colaborando com as investigações da Polícia Civil no âmbito da Operação Speedy Cash. A administração municipal reiterou seu compromisso com a transparência e a lisura na gestão pública e assegurou que todas as informações solicitadas estão sendo fornecidas para esclarecer os fatos.
“A Prefeitura de Goiânia reitera seu compromisso com a transparência e a colaboração com as investigações da Polícia Civil. Todos os documentos e informações solicitados estão sendo entregues para assegurar que os responsáveis por essas irregularidades sejam devidamente punidos”, destacou a nota da administração municipal.
Por sua vez, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) também se manifestou, esclarecendo que cumprirá todas as determinações judiciais e colabora com o fornecimento de informações e documentos necessários para garantir que todos os procedimentos sejam devidamente esclarecidos, reforçando a integridade do serviço público. As investigações continuam em andamento.
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