Impulso e arrependimento marcam o consumo online no Brasil
O hábito de comprar por impulso pode gerar impactos negativos no dia a dia, especialmente quando o consumidor é atraído por promoções ou ofertas que parecem imperdíveis
Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), chamada Retratos da Sociedade Brasileira – Hábitos de Consumo pela Internet, revelou que quatro em cada dez brasileiros que compram online admitem agir por impulso e depois se arrepender. Entre os jovens e pessoas com maior renda ou escolaridade, esse índice chega a 45% e 43%, respectivamente. O estudo entrevistou 2.012 brasileiros com mais de 16 anos entre os dias 17 e 20 de maio.
O levantamento também destacou que 62% dos consumidores nunca optaram por produtos internacionais em vez de nacionais. Entretanto, 36% já fizeram essa escolha, percentual que sobe para 52% entre os jovens de 16 a 24 anos. O preço mais baixo foi apontado como o principal motivo para preferir produtos importados, com 54% das respostas. Outras razões incluem melhor qualidade (15%) e ausência do item no mercado nacional (13%).
O hábito de comprar por impulso pode gerar impactos negativos no dia a dia, especialmente quando o consumidor é atraído por promoções ou ofertas que parecem imperdíveis. Essa falta de reflexão pode dificultar a gestão financeira, afetando até compras essenciais. Entre aqueles com ensino superior, 44% já trocaram produtos brasileiros por importados. Entre famílias que ganham mais de cinco salários-mínimos, essa prática atinge 43%. Esses dados mostram como o comportamento de consumo online reflete tanto escolhas econômicas quanto padrões de impulso, afetando diferentes faixas da população de forma significativa.
Problemas com os produtos
Quase metade dos brasileiros que fazem compras online já enfrentou problemas com produtos defeituosos ou diferentes do anunciado, segundo a pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Entre aqueles que tiveram essa experiência, 44% optaram por devolver ou trocar o item, enquanto 34% buscaram o serviço de atendimento ao cliente imediatamente. Além disso, 18% relataram decepção com a qualidade do produto recebido.
Apesar dos desafios, 74% dos entrevistados enxergam vantagens no comércio virtual. O preço mais baixo em relação às lojas físicas foi citado como o principal benefício (36%), seguido pela praticidade de comprar sem sair de casa, mencionado por 28%.
Por outro lado, dois terços dos consumidores ainda identificam desvantagens nas compras online. A demora na entrega lidera as reclamações, apontada por 18% das pessoas. Outras preocupações incluem a falta de segurança nas transações (9%) e a impossibilidade de ver ou tocar no produto antes da compra (8%).
Seis em cada 10 brasileiros já compraram pela internet
Promoções e descontos desempenham um papel central na atração dos consumidores, oferecendo preços reduzidos, brindes ou outros incentivos por tempo limitado. Essas estratégias têm o poder de influenciar decisões de compra, muitas vezes levando o cliente a agir de forma mais impulsiva.
De acordo com a pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira (RSB), quase 60% dos brasileiros já realizaram compras pela internet. Esse número é ainda maior entre pessoas com ensino superior (89%), famílias de maior renda (88%) e jovens (77%). Em contraste, a adesão ao comércio online é de apenas 17% entre analfabetos ou pessoas sem instrução, 27% entre idosos e 38% nas famílias que ganham até um salário-mínimo.
Apesar da expansão das compras virtuais, a preferência pelas lojas físicas ainda prevalece. Mais de 80% dos entrevistados optam pelo formato presencial para adquirir móveis, produtos para animais, alimentos e bebidas. No entanto, compras online ganham destaque em categorias como produtos de informática, equipamentos eletrônicos, livros, revistas e brinquedos, com mais de um terço da população priorizando esse canal.
Entre os itens mais adquiridos pela internet, as roupas lideram, com 59% de frequência entre os consumidores online. Outros produtos populares incluem informática e eletrônicos (44%), calçados e bolsas (44%), eletrodomésticos (37%) e utensílios para o lar (33%).
Educação financeira
Saber administrar o próprio dinheiro é uma habilidade crucial para alcançar estabilidade financeira e qualidade de vida. No contexto atual, marcado pelo aumento das compras online e pelo estímulo ao consumo impulsivo, desenvolver uma postura consciente em relação aos gastos se tornou mais importante do que nunca. A educação financeira surge, então, como uma aliada indispensável, especialmente para orientar os jovens a fazer escolhas mais responsáveis.
Desde a infância, a escola desempenha um papel essencial na formação de consumidores conscientes. Ensinar noções básicas de orçamento, economia e como evitar o endividamento excessivo não deve ser visto como um conteúdo extra, mas como parte fundamental da educação. A falta de conhecimento financeiro é um dos fatores que mais contribuem para o endividamento e as decisões impulsivas nas compras.
No entanto, educação financeira não se limita a ensinar matemática aplicada aos gastos e à poupança. Ela também desenvolve competências para planejar, poupar e tomar decisões ponderadas. Esse aprendizado incentiva as pessoas a refletirem sobre suas escolhas de consumo, considerando não apenas os desejos imediatos, mas também os impactos financeiros a longo prazo e até mesmo os efeitos ambientais. O consumo consciente, resultado de uma formação sólida nessa área, busca equilibrar a aquisição de bens com a responsabilidade socioeconômica.
Com o crescimento das ofertas digitais e das estratégias agressivas de marketing baseadas em descontos e promoções, a habilidade de avaliar o real valor de uma compra se torna imprescindível. O consumismo desenfreado, frequentemente motivado por impulsos, pode causar arrependimentos e comprometer a saúde financeira de muitas pessoas. Nesse cenário, um consumidor consciente analisa suas finanças, seus objetivos futuros e a real necessidade da compra antes de ceder à tentação de uma oferta aparentemente imperdível.