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domingo, 26 de janeiro de 2025
Medicamentos

Venda e procura de remédios para insônia aumenta 676%

Especialista explica que o crescimento do uso pode estar atribuído a pandemia do coronavírus, facilidade de acesso a medicamentos e pouca busca por alternativas não farmacológicas

Postado em 26 de dezembro de 2024 por Letícia Leite
A chamada medicalização do sono se tornou um fenômeno cada vez mais frequente no Brasil. Foto: Pixabay

Quando eu deitava para dormir, antes da medicação, começava sentindo fadiga, crise de choro, rolava na cama a madrugada inteira. O sono começava por volta das 21h, e às 00h estava acordada novamente. Praticamente tirava um cochilo de duas em duas horas, e quando estava dando 5h20 já estava de pé, muito cansada.

O relato da Fabiene Gomes, de 49 anos, que você acabou de ler, compartilha uma característica em comum: ela enfrenta insônia e opta por medicamentos para conseguir dormir. Fatores como ansiedade, medo, estresse e angústia relacionados a questões pessoais ou desafios profissionais estão entre as principais razões para a dificuldade de dormir. 

A chamada medicalização do sono se tornou um fenômeno cada vez mais frequente no Brasil. Em resposta a isso, a procura por soluções farmacológicas e naturais para lidar com a insônia tem aumentado entre os brasileiros.

De acordo com o levantamento, foram realizadas mais de 17,5 milhões de buscas no Google no último ano pela melatonina. Desde a sua aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2021, o volume de buscas pelo suplemento aumentou seis vezes na plataforma, segundo a análise.

Logo em seguida, vem as buscas por “Zolpidem”, que totalizaram 9,8 milhões no último ano. Os termos “chá para dormir” e “magnésio inositol”, aparecem na sequência, com 1,7 milhões e 1,2 milhões de buscas, respectivamente.

O levantamento também mapeou as buscas dos brasileiros por remédios para dormir no Google. O primeiro termo a ser analisado foi “remédios para dormir”, que acumulou mais de 29 milhões de pesquisas na plataforma nos últimos cinco anos.

O zolpidem é o mais conhecido desses medicamentos, no período de 2012 a 2021, o número de caixas desse medicamento, indicado para insônia, comercializadas no Brasil subiu 676%. Os números são da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) e foram divulgados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Apenas no primeiro semestre de 2022, os brasileiros compraram 10,6 milhões de caixas do remédio, o que representa mais da metade (55,6%) do total de 2021.

A média de caixas vendidas por mês em 2020 foi de 1,94 milhão; em 2021, 1,58 milhão; e, no primeiro semestre deste ano, 1,76 milhão, o segundo maior número já registrado. Para efeito de comparação, a média mensal de caixas dispensadas nas farmácias entre 2012 e 2021 foi de 902,5 mil. 

O zolpidem é um remédio da classe dos hipnóticos, chamados drogas Z, que  também incluem zopiclona e zaleplona, e tem a venda autorizada no Brasil desde 2007, mas começou a se popularizar a partir de 2011, ano em que 1,7 milhão de caixas foram vendidas. No ano seguinte, houve uma alta de 41,7%, chegando a 2,4 milhões. Porém, o grande salto ocorreu de 2016 para 2017, com aumento de 55,2%, atingindo a marca de 10,5 milhões de caixas.

É interessante notar que esses medicamentos não são novidades e estão disponíveis no mercado há mais de três décadas. Então, como justificar um crescimento tão significativo no seu uso? Segundo a neurologista Lorena Bochenek, o aumento pode ser atribuído a pandemia do coronavírus, vida moderna, facilidade de acesso a medicamentos e pouca busca por alternativas não farmacológicas.

“O uso indiscriminado dos medicamentos para insônia, pode causar dependência química, tolerância, efeitos colaterais, reações graves, como por exemplo, combinações com álcool ou até mesmo combinação com outros medicamentos.  Aumenta o risco de depressão respiratória e até mesmo overdose. Esses remédios têm um risco também de causar dependência química […] A pessoa que utiliza esses medicamentos podem por exemplo de dia ficarem bem sonolentas, ter tonturas e até mesmo prejuízo da memória e no raciocínio”, explica. 

“Hoje estou completando uns 8 a 9 anos dependente de remédio, porém esses anos sempre trocando de medicamentos, pois passo muito mal.  Todos tem seus efeitos colaterais, muita ânsia de vômito, dor abdominal, enxaqueca”, acrescenta Fabiene.

A especialista alerta que o uso do remédio jamais deve ultrapassar o tempo prescrito na bula. “O que a gente vê na prática é que o uso prolongado do zolpidem ele favorece a dependência e a síndrome de abstinência, ou seja, mesmo nas doses recomendadas o uso contínuo pode levar a dependência psicológica. Pode levar também a sonambulismo, alterações do sono, alterações principalmente do comportamento no sono […] E também alterações cognitivas, com o uso crônico prolongado pode sim prejudicar a memória, a capacidade de concentrar, também altera o controle do humor, propiciando humor depressivo, um humor irritadíssimo e até inclusive a ansiedade do paciente, que já era ansioso antes do uso”, finaliza. 

Principais sintomas da insônia

Estresse e ansiedade: Preocupações com o trabalho, vida pessoal ou eventos futuros aumentam os níveis de cortisol, dificultando o relaxamento;

Maus hábitos de sono: Uso excessivo de dispositivos eletrônicos antes de dormir, horários irregulares e consumo de cafeína ou álcool à noite;

Condições de saúde: Transtornos como insônia, apneia do sono, depressão e doenças crônicas;

Ambiente inadequado: Ruídos, luz excessiva ou uma cama desconfortável podem interromper o sono;

Fonte: Neurologista Lorena Bochenek

 

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