Goiás pode ter três representantes na disputa ao Planalto em 2026
Mineiro, mas goiano de coração, Gusttavo Lima anunciou seu nome como pré-candidato à presidência e se juntou ao governador Ronaldo Caiado e ao influenciador Pablo Marçal.
O cantor Gusttavo Lima anunciou, na quinta-feira (2), seu desejo de concorrer à presidência da República, em 2026. Apesar de natural de Minas Gerais, o sertanejo é um orgulhoso morador de Goiás. Com isso, ele pode ser o terceiro representante do Estado na disputa ao Palácio do Planalto.
Além dele, o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) já é, há algum tempo, oficialmente pré-candidato à presidência. O outro nome é o do goiano Pablo Marçal (PRTB) – caso inverso de Lima, já que não nasceu em Goiás, mas vive em São Paulo.
Mas sobre Lima, em entrevista ao Metrópoles, o cantor, que ainda não tem filiação, disse que o “Brasil precisa de alternativas. Estou cansado de ver o povo passar necessidade sem poder fazer muito para ajudar. Eu mesmo enfrentei muitas dificuldades na vida, mas aproveitei as oportunidades que recebi. Vim de uma condição bastante humilde, cheguei a perder três dentes, mas, claro, tive condições de me tratar, condição que muita gente não tem”.
“Chega dessa história de direita e de esquerda. Não é sobre isso, é sobre fazer um gesto para o país, no sentido de colocar o meu conhecimento em benefício de um projeto para unir a população”, emendou. Ele revelou, ainda, que a partir de agora começa a conversar com grupos políticos.
No passado, Lima apoiou nomes de direita, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na reeleição em 2022 e Pablo Marçal para prefeito de São Paulo em 2024. Também no ano passado, ele endossou Sandro Mabel (União Brasil) à prefeitura de Goiânia e disse que estaria com Caiado em 2026.
É possível que a posição de Lima tenha desagradado tanto Bolsonaro quanto Caiado. O primeiro, apesar de inelegível, se diz o pré-candidato oficial da direita à presidência, enquanto Caiado articula para fortalecer o seu projeto ao Planalto. Além disso, ambos cortejaram Gusttavo para disputar em 2026, mas como senador. É preciso lembrar, o sertanejo tem mais de 25 milhões de ouvintes mensais no Spotify.
Oficialmente, contudo, o governador Ronaldo Caiado disse que viu o anúncio com normalidade. “Um sentimento de que ele já vem declarando há muito tempo. É meu amigo pessoal, e da minha parte terá total respeito a sua decisão”, disse ao O Globo. Segundo o gestor, no “primeiro turno, tem espaço para todo mundo”.
Já Bolsonaro e seus aliados teriam sido pegos de surpresa. Pessoas próximas ao ex-presidente disseram ao Metrópoles que o cantor já tinha afirmado ao político que disputaria o Senado e que negociava siglas como PL, União Brasil e Progressistas. Com o anúncio, a primeira já estaria fora, assim como, provavelmente, a segunda (de Caiado).
Ainda é possível que o nome à presidência sirva para impulsionar Gusttavo Lima nas negociações para disputar uma vaga no Senado. Ou seja, uma forma de “marketing”.
Candidato Marçal
Além de Lima e Caiado, Marçal também tem interesse em disputar a presidência. Ele conversa, inclusive, com o União Brasil do governador Ronaldo Caiado. A situação do influenciador, contudo, não está aberta.
É preciso dizer que a questão Marçal no União Brasil ainda depende de processos que o tornem inelegível. Um dos casos que pode impedi-lo de concorrer ao Planalto em 2026 foi a divulgação de laudo médico falso contra Guilherme Boulos (PSOL) para tentar associar o então candidato à prefeitura de São Paulo ao uso de drogas. A publicação ocorreu na véspera do primeiro turno das eleições.
Porém, a postura de Pablo Marçal em São Paulo mostrou que a direita vai além do ex-presidente Jair Bolsonaro. O empresário evidenciou competitividade e quase foi ao segundo turno, apesar dos parcos recursos do PRTB, partido que é filiado.
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Na campanha pela prefeitura de São Paulo, Pablo flertou com o apoio de Bolsonaro – que nunca aconteceu. O ex-presidente caminhou, de forma tímida, com o prefeito reeleito Ricardo Nunes (MDB). Porém, as rusgas com o clã Bolsonaro foram além de um “não” para o goiano. Os desentendimentos envolveram, também, os filhos de Bolsonaro – sobretudo Carlos e Eduardo.
O desentendimento levou Marçal a não declarar apoio a ninguém no segundo turno em São Paulo e cobrou que Bolsonaro pedisse desculpas publicamente pelos conflitos.
Caiado inelegível?
O governador de Goiás enfrentou um desgaste no começo de dezembro com uma condenação, em primeiro grau (ou seja, cabe recurso e não é aplicada imediatamente), com inelegibilidade de oito anos por abuso de poder político – a mesma que cassou o então prefeito eleito Sandro Mabel (hoje chefe do Executivo). O motivo seriam jantares com lideranças políticas no Palácio das Esmeraldas, em 7 e 9 de outubro.
Todavia, os advogados do governador minimizaram, à época. Eles afirmaram que “o evento apurado na ação, ocorrido na residência oficial do Governador, teve como propósito homenagear os vereadores eleitos em Goiânia e iniciar uma relação institucional entre o Executivo Estadual e o Legislativo Municipal”.
Para eles, “as atividades eleitorais relacionadas ao pleito municipal de 2024 foram realizadas fora do Palácio das Esmeraldas, nas ruas ou na sede do partido político dos candidatos, respeitando a legislação eleitoral. A defesa, portanto, reafirma que não houve ilícito eleitoral, ou qual, se tivesse ocorrido, ensejaria, no máximo, a aplicação de uma multa”.
Na avaliação de juristas, um recurso pode dar um resultado positivo na Justiça ao governador e ao prefeito eleito. Contudo, a notícia ganhou destaque nacional. E essa não é a mídia que Caiado, que trabalha para lançar seu nome ao Planalto, deseja.