Desde o surgimento da prática de consumo do leite, seus derivados enfrentam crescente resistência devido ao chamado “terrorismo nutricional”, que rotula diversos alimentos como prejudiciais.

No entanto, estudos recentes reforçam que os laticínios não devem ser eliminados da dieta sem orientação médica. Um exemplo é a pesquisa publicada em novembro no Clinical Nutrition, que desvincula grande parte dos laticínios do risco de pré-diabetes. O trabalho também sugere que o leite desnatado pode reduzir as chances de desenvolver a doença, enquanto o consumo excessivo de lácteos ricos em gordura pode ser prejudicial.

O pré-diabetes, condição em que os níveis de glicose no sangue estão elevados, mas ainda abaixo do limiar do diabetes, é diagnosticado por exames laboratoriais. Quando detectado precocemente, pode ser revertido com mudanças no estilo de vida, como exercícios físicos e alimentação balanceada. Porém, se negligenciado, pode evoluir para diabetes tipo 2, relacionado a complicações circulatórias, renais e oculares.

Pesquisadores europeus chegaram às conclusões após analisarem dados de 7.521 indivíduos do estudo britânico Fenland. Embora o levantamento não estabeleça relação de causa e efeito, ele aponta hipóteses promissoras sobre o impacto dos laticínios na saúde.

No que diz respeito ao coração, estudos indicam que o consumo moderado de laticínios não aumenta o risco de doenças cardiovasculares. Um exemplo é o estudo brasileiro Elsa-Brasil, que sugere que esses alimentos podem beneficiar a saúde das artérias. Já a relação entre laticínios e processos inflamatórios permanece sem comprovação científica sólida, exceto em casos específicos, como alergias e intolerâncias.

Para pessoas alérgicas, o leite pode desencadear inflamações devido à caseína, proteína de difícil digestão. Já em casos de intolerância à lactose, o problema está na deficiência de lactase, enzima responsável por digerir o açúcar do leite, o que provoca sintomas como inchaço abdominal e desconfortos intestinais.

Apesar das controvérsias, o leite continua sendo uma importante fonte de nutrientes. Sua exclusão da dieta sem justificativa médica pode trazer prejuízos nutricionais.

Restrição de lácteos na dieta

Antes de excluir laticínios do cardápio, é essencial obter um diagnóstico correto. Em casos de alergia ao leite, o organismo reage de forma exagerada à caseína, principal proteína da bebida, desencadeando uma resposta imunológica que libera mediadores inflamatórios. Isso pode resultar em sintomas como vômitos, diarreia e até dificuldade para respirar. Testes laboratoriais e de provocação ajudam a confirmar o diagnóstico.

Já a intolerância à lactose ocorre quando o corpo produz pouca lactase, enzima que digere o açúcar do leite. Essa condição pode causar distensão abdominal, flatulência e desarranjos intestinais. Para identificá-la, exames clínicos, testes respiratórios, de glicose e até análises genéticas são recomendados.

Quando não há sinais de alergia ou intolerância, não há razões para evitar os lácteos. Pelo contrário, eliminá-los sem necessidade pode levar a deficiências nutricionais. Laticínios são fontes ricas de nutrientes essenciais, sendo indicadas três porções diárias segundo as diretrizes alimentares.

O cálcio, por exemplo, é um dos principais benefícios do leite. Fundamental para a formação e fortalecimento dos ossos, ele também participa das contrações musculares, o que o torna especialmente importante para praticantes de atividades físicas. Há evidências de que o cálcio contribui para o controle da pressão arterial.

Além disso, os laticínios fornecem proteínas, como a caseína, que auxiliam na construção de tecidos, manutenção muscular e promovem maior saciedade. Também são ricos em vitaminas, como a vitamina A, as do complexo B e pequenas quantidades de vitamina D, que reforçam a saúde óssea e a imunidade.

Para adultos, a recomendação é priorizar o leite desnatado e queijos mais leves, como minas frescal, cottage e ricota, garantindo os benefícios dos laticínios sem excessos de gordura.