Número menor de partidos é saudável para a nossa democracia, diz cientista político
A aglutinação de partidos políticos é uma situação cada vez mais próxima para o presente social dos brasileiros
A junção de partidos é um cenário cada vez mais próximo na realidade brasileira e número menor de partidos é saudável para a nossa a democracia, como aponta o cientista político Lehninger Mota. Neste ano, o Partido Social Democrático (PSD) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) articulam uma unidade política para se fortalecer em uma fusão, na qual o segundo partido, possivelmente, será absorvido pelo primeiro. Por outro lado, o União Brasil (União) quer aglutinar o Partido Progressista (PP) e o Republicanos, mas, dessa vez, para compor um bloco e aumentar o poder de barganha sem que isso signifique o fim das siglas. A aglutinação de partidos políticos é uma situação cada vez mais próxima para o presente social dos brasileiros.
Segundo explica o Lehninger, para a democracia é saudável que os eleitos se identifiquem com algum partido, que o partido funciona como uma espécie de atalho informacional para as pessoas, porque informações a todo momento têm um custo alto. “Se tem um partido que agrada, pela forma que expõe as ideias, na maioria do tempo, isso é um atalho informacional que facilita a tomada de decisões eleitorais, decisões racionais no caso, para votar em candidatos que realmente defendem o que o eleitor pensa e defende. Então, é muito bom que o número de partidos não seja muito grande, porque em uma democracia igual ao Brasil, com 29 partidos registrados, é complexo a população conhecer cada um e se identificar, saber quais são as pautas”, explica o cientista.
Mas, o especialista em ciências políticas, pondera que “isso não enfraquece a democracia, mas é ruim, enfraquece as instituições. Não são partidos fortes, a maioria são partidos criados para ficar recebendo fundos partidários e, porventura, participar de eleições. Então, com essas cláusulas de barreira sendo aprovadas, essa união está sendo o caminho para que as siglas não morram, não deixem de participar das eleições, de receber fundo eleitoral.”
Lehninger aponta que “existe uma série de discussões de partidos que possam se unir. No caso do PSD com PSDB, se tornou uma questão de sobrevivência para o PSDB, que ruiu. O partido estava no ápice com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ocupando a presidência, e de lá para cá, continuou governando São Paulo por muitos anos, em Goiás o Marconi Perillo e em vários outros locais do Brasil o PSDB tinha relevância, mas com o tempo foi perdendo o número de prefeitos, de governadores e de deputados federais. Portanto, para o PSDB, é um momento de pensar em se unir com o PSD, que foi o partido que mais fez prefeitos nesta eleição. A fusão do PSDB com o PSD é a fusão de um partido que se apequenou no processo e agora busca o refúgio para não morrer totalmente.”
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No caso do União, PP e Republicanos a situação é outra, o especialista comenta que a dificuldade perpassa pela escolha de comando e consenso de interesses. “A outra fusão possível, do União Brasil com PP e o Republicanos, já é mais complexa, porque são partidos que têm relevância, estão em evidência em número de prefeitos, em vários locais. O grande problema de se pensar em uma fusão desse tamanho é o número de caciques. Afinal, os partidos do Brasil, e do mundo todo, sempre tiveram donos e quando se faz uma fusão desse tamanho, o problema de ideologia até que não pesa tanto, porque são partidos do centro que estiveram na base do Bolsonaro e agora estão na base do Lula. Assim sendo, ideologicamente, eles não tiveram muitos problemas em se adequar às pautas do presidente”, afirma Lehninger.
“O dilema está nas decisões partidárias, com quem andar nas eleições, porque terão muitos querendo mandar na fusão. Quem vai ser o presidente, o vice, vai ser o PP ou do União. São essas as questões que inviabilizam muito uma união como essa. O problema aqui não é ideológico, mas sim de interesses, de mandar, de decidir, de ter a força e o poder de dominar essa fusão, que será a maior bancada caso ocorra de fato”, identifica o cientista político.
Por fim, Lehninger Mota, acentua que “para a democracia, diminuir o número de partidos é muito bom. Ter menos partidos de maior relevância é saudável para a nossa democracia.”