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terça-feira, 14 de janeiro de 2025
Assédio

Denúncias de assédio no ambiente de trabalho crescem 70,62%

Até setembro de 2024, o MPT-GO já registrou mais processos relacionados à violência e ao assédio no trabalho do que durante todo o ano de 2023

Postado em 14 de janeiro de 2025 por Micael Silva
Os sinais de assédio incluem mudanças comportamentais significativas , como isolamento, queda de produtividade e falta de interesse em atividades rotineiras Foto: Divulgação
Os sinais de assédio incluem mudanças comportamentais significativas , como isolamento, queda de produtividade e falta de interesse em atividades rotineiras Foto: Divulgação

Dados do Ministério Público do Trabalho em Goiás (MPT-GO) revelam que, em 2022, foram registrados 194 processos relacionados à violência ou assédio no trabalho, além de 44 casos especificamente relacionados à saúde mental no ambiente profissional. Em 2023, houve um aumento significativo, com 332 processos envolvendo violência ou assédio e 63 abordando questões de saúde mental no trabalho.

Um ex-servidor público, que preferiu não se identificar, contou um relato sobre situações de assédio moral que aconteciam  enquanto trabalhava em um órgão governamental. Segundo ele, a pressão e a conduta condutora por parte da chefia eram recorrentes no ambiente de trabalho.

“Eu trabalhei no órgão público na época e lá ocorriam várias situações que nos oprimiam enquanto subordinados. Em uma reunião, o chefe informou que seria necessário que fizéssemos uma cota para comprar tinta para impressoras e arrumar carros da instituição”, relata.

O servidor conta que, ao questionar por que os funcionários deveriam arcar com as despesas que deveriam ser responsabilidade do governo, recebeu uma resposta intimidatória: “Ele disse que, se eu não queria ajudar, tudo bem, mas que isso poderia ser visto como uma falta de trabalho em equipe e que teria consequências.”

Apesar de considerar levar o caso às instâncias superiores, o funcionário desistiu ao perceber, em conversas com colegas, que a prática era comum e não contava com resistência dentro da estrutura hierárquica. “Me senti deslocado. Como disse que não participaria, tempos depois fui transferido para outro órgão.”

Até setembro de 2024, já foram contabilizados 331 processos denunciando violência ou assédio no ambiente profissional, superando o total registrado no ano anterior. No mesmo período, foram registrados 14 processos relacionados à saúde mental no trabalho no MPT-GO.

A advogada Michelle Heringer, especialista em prevenção ao assédio e à discriminação no ambiente corporativo, aponta diversos fatores que contribuíram para o aumento das denúncias de assédio no trabalho. Segundo ela, a conscientização crescente, impulsionada por campanhas e treinamentos, tem encorajado as pessoas a refletirem e denunciarem comportamentos abusivos. Além disso, as políticas internas mais claras, a criação de canais seguros e anônimos de denúncia, as mudanças legislativas e a ampla cobertura midiática de casos desempenham um papel significativo na quebra do silêncio.

Michelle ressalta o impacto preocupante do assédio na saúde mental dos colaboradores. “Ele pode causar estresse estressante, afetando a capacidade de concentração e desempenho. Muitas vítimas desenvolvem baixa autoestima, o que prejudica a confiança em si mesmas. Em casos mais graves, o assédio pode levar ao esgotamento, além de desencadear transtornos psicológicos como depressão e ansiedade. Esses efeitos muitas vezes resultam em isolamento social, agravando ainda mais o impacto emocional”, explica.

Os sinais de que um funcionário pode estar sofrendo com assédio, segundo o especialista, incluem mudanças comportamentais significativas, como isolamento, queda na produtividade e falta de interesse em atividades rotineiras. Ausências frequentes, problemas de saúde física, como dores de cabeça e insônia, e manifestações emocionais intensas, como satisfatórias ou choro frequente, também são indicativos.

Para prevenir o assédio e promover um ambiente de trabalho saudável, Michelle recomenda que as empresas adotem medidas proativas. “É fundamental estabelecer políticas claras que condenem qualquer forma de assédio, além de oferecer treinamentos regulares para educar colaboradores e líderes sobre como identificar e lidar com essas situações. A criação de canais de denúncia previstos e a garantia de investigações imparciais são indispensáveis. Paralelamente, uma cultura organizacional deve promover o respeito e a valorização da diversidade, garantindo que todos se sintam seguros e incluídos”, orienta.

Sobre o impacto do gênero, Michelle destaca que as mulheres são as mais afetadas pelo assédio, especialmente o de natureza sexual. “Elas enfrentam frequentemente discriminação de gênero e comentários inapropriados. Homens também são vítimas, mas muitas vezes enfrentam barreiras sociais para denunciar, devido ao estigma em torno do tema. Além disso, pessoas LGBTQIA+ são especificamente vulneráveis, pois enfrentam assédios relacionados ao preconceito e à discriminação.”

Por fim, um especialista reforça que a liderança deve dar o exemplo, promovendo a saúde mental e o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal. “Treinamento contínuo, canais de denúncia confiáveis ​​e um compromisso forte com o bem-estar dos colaboradores são indispensáveis ​​para criar um ambiente de trabalho seguro e respeitoso para todos”, conclui.

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