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sexta-feira, 17 de janeiro de 2025
Crise na saúde

Enfermeiros da Maternidade Dona Íris entram em greve devido atrasos salariais

A maternidade Dona Íris possui uma equipe de mais de 800 profissionais, dos quais apenas 30% estão em atividade devido à greve

Postado em 17 de janeiro de 2025 por Renata Ferraz
maternidade
Foto: Alexandre Paes

Os funcionários e enfermeiros da Maternidade Dona Íris, estão mobilizados em busca de seus direitos. Eles denunciam condições precárias de trabalho e atrasos no pagamento de salários e benefícios. Segundo Elcione Guimarães, presidente do Sindicato de Enfermagem do Estado de Goiás (Sienf-GO), a situação chegou ao limite.

“O salário de dezembro deveria ter sido quitado até o quinto dia útil de janeiro, mas não foi pago. A segunda parcela do 13º salário também está atrasada, assim como o vale-alimentação. Além disso, a verba da correção do piso salarial, paga pelo Governo Federal, não foi repassada aos servidores”, afirmou Elcione.

Ele ainda destaca a falta de insumos básicos, como papel higiênico, e o fim da alimentação oferecida a acompanhantes e profissionais que cumprem jornadas de 12 horas. “Estamos em um caos. Crianças estão em locais inadequados, e faltam vagas de UTI”, alertou.

A maternidade conta com cerca de 800 profissionais de enfermagem, muitos dos quais estão participando de uma greve. A técnica de enfermagem Eliete dos Santos denuncia a situação de calamidade enfrentada pelos pacientes. “Devido à greve, estamos com apenas 30% dos profissionais trabalhando. Gestantes, puérperas e recém-nascidos em UTIs e enfermarias estão sem atendimento adequado. Sem insumos, medicamentos e agora também sem alimentação para acompanhantes e profissionais, o cenário é desumano”, relatou.

A situação na Maternidade Dona Íris é apenas uma parte do problema. Desde o último sábado (13), enfermeiros das maternidades Dona Íris, Célia Câmara e Nascer Cidadão decidiram, por unanimidade, em assembleia realizada na última quarta-feira (10), paralisar suas atividades por tempo indeterminado.

Eliete destacou um caso recente que evidenciou o descaso em que uma gestante de 23 semanas entrou em trabalho de parto prematuro gemelar e, devido à falta de vagas em UTI e profissionais suficientes, apenas um dos bebês recebeu atendimento imediato adequado, enquanto o outro ainda aguarda vaga. Situações como essa, segundo ela, não são raras.

Os relatos também incluem o impacto emocional nos profissionais. “Estamos adoecendo. As contas estão vencendo, não temos dinheiro para pagar aluguel ou comprar comida. Muitos estão de atestado, sem condições psicológicas de trabalhar. Isso é desumano”, desabafou um dos profissionais.

A técnica de enfermagem Sara Rodrigues reforça: “Deixamos nossas famílias para cuidar de outras, mas não recebemos nossos direitos. Estamos sem salário, sem 13º, sem vale-alimentação. Como vamos pagar aluguel, comprar gás ou alimento? Enfermagem não paga com amor; paga com dinheiro”.

A falta de condições também prejudica a qualidade do atendimento. Sara destacou que a falta de condições prejudica a qualidade do atendimento, afirmando que não é possível prestar um bom serviço se os profissionais não estão bem.

Segundo ela, gestantes, recém-nascidos e pacientes em geral sofrem as consequências da negligência com os trabalhadores da saúde nas maternidades.

A precariedade das condições de trabalho vai além da ausência de recursos materiais e financeiros. Relatos de técnicos de enfermagem apontam que o ambiente da maternidade se tornou insustentável. Sem apoio, muitos profissionais se sentem abandonados e pressionados a desempenhar suas funções em cenários impossíveis.

A gravidade também está na insegurança que os pacientes enfrentam. “Quando faltam medicamentos, insumos e até mesmo alimentação, quem mais sofre é o paciente. Como profissionais da saúde, precisamos de ferramentas para fazer o nosso trabalho. Hoje, falta tudo”, alertou um enfermeiro que atua na Maternidade, que preferiu não se identificar.

Os reflexos desse colapso são sentidos diretamente pelas gestantes e bebês que dependem da maternidade. A falta de vagas na UTI neonatal coloca vidas em risco, e casos de bebês prematuros que não conseguem atendimento adequado são frequentes. Eliete dos Santos ressaltou que cada minuto sem suporte adequado pode ser fatal, destacando a gravidade da situação.

Os trabalhadores aguardam uma resposta do poder público. “Nós precisamos de um compromisso real com a saúde. Esse não é um problema isolado da Maternidade Dona Íris. Ele reflete a situação de todo o sistema de saúde pública”, afirmou Elcione Guimarães.

Mesmo com problemas, Gabinete de crise foi desmobilizado na capital 

Após 40 dias de funcionamento, o Gabinete de Crise das UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) de Goiânia encerrou as atividades com um total de 3.764 pacientes encaminhados para leitos de UTI e enfermaria na capital. 

Para atender a demanda por vagas, a Saúde Estadual disponibilizou 332 internações em leitos de UTI adulto nas unidades próprias e contratualizadas, reduzindo em 79% as pendências por vagas de terapia intensiva na capital, que seguem zeradas nos últimos 16 dias.

Um relatório elaborado pelo Ministério Público de Goiás  (MP-GO) alegou sucateamento das unidades de saúde, grandes filas nos hospitais e a não utilização de verbas federais. Além disse nos Cais e UPAs da cidade, os cidadãos tem enfrentado a falta de médicos plantonistas nos atendimentos de urgência  emergência da capital.  

O jornal O Hoje procurou a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para obter um posicionamento. Em nota, a pasta informou que uma reunião com a diretoria da Fundahc foi realizada na tarde desta quinta-feira (16), com o objetivo de definir um novo cronograma para os repasses financeiros devidos à instituição.

Os profissionais afirmam que continuarão mobilizados até que suas demandas sejam atendidas. A greve representa não apenas uma luta por direitos trabalhistas, mas também um alerta para a sociedade sobre a fragilidade do sistema de saúde.

Leia mais: Ex-vigilante é preso após matar homem a facadas; Polícia investiga ligação com facção criminosa

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