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terça-feira, 21 de janeiro de 2025
CRISE MIGRATÓRIA

Decisão de Trump encerra serviços do CBP One para solicitações de asilo na fronteira

O CBP One tornou-se um símbolo da administração de Joe Biden na busca por travessias mais organizadas e seguras para os Estados Unidos

Postado em 21 de janeiro de 2025 por Micael Silva
Decisão de Trump encerra serviços do CBP One para solicitações de asilo Foto: Divulgação
Decisão de Trump encerra serviços do CBP One para solicitações de asilo Foto: Divulgação

O maior temor dos migrantes na fronteira entre o México e os Estados Unidos tornou-se realidade. O governo norte-americano desativou o uso do aplicativo CBP One. A partir de 20 de janeiro de 2025, após a posse do presidente Donald Trump, todos os agendamentos existentes foram cancelados.

A decisão pegou de surpresa milhares de migrantes que aguardavam sua vez em um dos oito pontos de entrada autorizados para solicitação de asilo nos Estados Unidos. O aplicativo simplesmente parou de funcionar e passou a exibir uma mensagem informando que os agendamentos não eram mais válidos. “As consultas agendadas não são mais válidas”, dizia o aviso na plataforma.

A suspensão do aplicativo gerou incerteza e angústia entre os migrantes que haviam conseguido agendar atendimentos por meio da ferramenta. Informados sobre os cancelamentos logo após a desativação do sistema, muitos se sentiram desamparados e confusos.

Margelis, uma migrante venezuelana, foi a primeira a chorar na ponte El Paso Norte, em Ciudad Juárez. Acompanhada do filho Josué e do marido José Loaiza, ela tinha um agendamento confirmado para o dia 20 de janeiro, às 13h. Ao redor, o clima era de silêncio e choque. O site do CBP confirmou a mudança: “A partir de 20 de janeiro de 2025, os recursos do CBP One que permitiam o agendamento de indivíduos indocumentados em oito portos de entrada da fronteira sul não estão mais disponíveis, e todos os agendamentos foram cancelados.”

A frustração se espalhou entre os grupos de migrantes. “O que fazemos agora? Para onde vamos?”, questionou a família de Margelis, que passou seis meses em um abrigo na Cidade do México até conseguir a consulta e chegar a Juárez poucos dias antes da desativação do aplicativo. Situação semelhante foi vivida por Yalideth Sánchez, de 35 anos, uma programadora venezuelana que fugiu de perseguição política. “Gastamos todo o nosso dinheiro para chegar até aqui, cheios de esperança. Meu filho estava me esperando do outro lado e agora… agora nada”, lamentou Adel Caballero, migrante cubano.

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Na madrugada fria de segunda-feira, o último grupo da era Biden cruzou a ponte de Juárez sem saber que seriam os derradeiros beneficiados pelo CBP One. Yalideth e outros aguardavam que os guardas permitissem a entrada no horário marcado, mas foram instruídos a esperar do lado de fora. “Até eu atravessar, não deixarei as emoções me dominarem”, disse ela ao jornal EL PAÍS antes do amanhecer. Agora, a incerteza sobre o futuro os assombra. Como seguirão sua jornada? O que dirá a nova administração? Algum novo sistema será implementado?

Desde 2023, a aplicação CBP One tem sido utilizada por migrantes que chegam ao México para agendar um encontro com as autoridades fronteiriças dos Estados Unidos, responsáveis por analisar seus pedidos de asilo. Sua implementação permitiu ao governo norte-americano organizar o fluxo de pessoas que buscavam cruzar a fronteira, enquanto, no México, garantiu uma estadia temporária sem o risco imediato de deportação para seus países de origem.

O CBP One tornou-se um símbolo da administração de Joe Biden na busca por travessias mais organizadas e seguras para os Estados Unidos. O funcionamento da aplicação possibilitou uma cooperação mais estreita entre México e EUA para mitigar a crise migratória, que atingiu seu ápice em dezembro de 2023, quando milhares de migrantes tentaram atravessar a fronteira.

Em Tijuana, as filas de migrantes cresceram repletas de dúvidas quando o aplicativo parou de funcionar. No porto fronteiriço do Chaparral, ao menos 100 pessoas aguardavam esperançosas. Entre elas, famílias inteiras vindas da Venezuela, Cuba, Colômbia e Peru. Todos buscavam alguma autoridade que pudesse explicar o que aconteceria a partir de agora. “Temo que a situação piore”, afirmou o padre Pat Murphy, diretor da Casa del Migrante em Tijuana. Ele relembrou que Trump ameaçou deportar milhões de pessoas e impedir novas entradas, mesmo para aqueles que haviam conseguido um agendamento legal.

Odalys Fundicheli, de 62 anos, migrou de Cuba e tinha compromisso marcado para atravessar a fronteira na terça-feira. Com o cancelamento repentino, sente-se impotente. “Sinto frustração e tristeza”, desabafou. Sua neta, Lía, de 14 anos, chorava ao lado da avó. “Nossa filha nos esperava em Dallas, mas agora não sabemos o que fará. É a primeira vez que deixamos Cuba, e agora talvez tenhamos que ficar aqui.” Assim como elas, centenas de pessoas permanecem em um limbo migratório, sem respostas sobre o que será de seu futuro.

 

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