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quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
Mercado

Alta no preço do etanol desafia consumidores e produtores em Goiá

Especialistas apontam que os preços do etanol em Goiás subiram nas últimas semanas devido a uma combinação de fatores

Postado em 22 de janeiro de 2025 por Eduarda Leão
alta etanol
| Foto: Rafaela Felicciano

Goiás, um dos maiores produtores de etanol do Brasil, vive um momento de alta nos preços do combustível. Esse aumento, que tem sido percebido nas bombas de abastecimento em diversas cidades do estado, vem causando preocupação tanto para consumidores quanto para especialistas em economia e agronegócio. 

Com o etanol sendo amplamente utilizado como uma alternativa mais sustentável e econômica em relação à gasolina, a escalada dos preços representa um desafio para os motoristas e para a cadeia de produção e distribuição do combustível.

Goiás é um dos principais polos de produção de etanol do Brasil, com destaque para a região do Centro-Oeste. Em 2024, a produção de etanol em Goiás cresceu 15% entre janeiro e abril, em relação ao mesmo período do ano anterior. 

A cultura da cana-de-açúcar tem grande relevância econômica no estado, gerando emprego e renda para milhares de trabalhadores. Uma vez que, Goiás foi o segundo estado que mais produziu etanol no Brasil em 2023, de acordo com o Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Ainda em 2023, Goiás foi responsável por aproximadamente 10% da produção nacional de etanol, consolidando-se como um dos líderes do setor. 

Motivos do aumento

Todavia, os preços do etanol em Goiás subiram nas últimas semanas devido a uma combinação de fatores. Um dos motivos que explicam a alta do combustível é o acúmulo de dias secos ou extremamente chuvosos que prejudicam a produtividade da cana-de-açúcar. “Sofremos com questões climáticas com relação às duas últimas safras.”, relata o presidente da Sifaeg, André Rocha.

Além disso, segundo Rocha, o controle do Governo Federal por meio da Petrobrás no preço dos combustíveis foi um dos motivos pelos quais houve um aumento no valor. “Não deu competitividade para o setor e não foi respeitada a qualidade nacional, o Brasil começou a vender combustível fóssil mais barato do que estava comprando e isso foi muito ruim”, afirma.

Ainda sim, em entrevista exclusiva ao O Hoje, o executivo apontou que a elevação das taxas de juros dificultou a estabilidade no valor do etanol. “O setor utiliza o capital intensivo, precisamos da operação, do plantio, de investimentos como a melhora da eficiência energética, uso da água e para isso precisamos de muito capital, mas com juros altos se torna mais difícil.”, pontua o presidente da Sifaeg.

“Outro desafio é a mão de obra, o Brasil tem o desafio de melhorar a produtividade do trabalhador, o Senai tem um papel importante nisso, porém estamos com dificuldade de encontrar trabalhadores qualificados.”, completa Rocha. 

Por outro lado, o presidente do Sindiposto, Márcio Andrade atribui a alta do etanol a outros fatores. “Temos dois fatores principais que contribuem para que isso ocorra, o aumento do dólar, o aumento do etanol e a alta demanda”. 

Andrade explica que como boa parte do combustível consumido no Brasil é importado, a alta do dólar interfere diretamente no preço do produto. Dessa forma, o presidente do Sindiposto também relata que um dos principais motivos é a entressafra da cana-de-açúcar, que reduz a oferta do produto no mercado. “Há também o aumento no consumo do etanol, como tem se apresentado mais competitivo ao consumidor, a demanda aumentou. Sendo assim, a alta demanda aliada a baixa oferta é capaz de impactar o preço.”, finaliza.

Vale ressaltar que a alta do etanol exerce influência direta no valor da gasolina. “A gasolina também é impactada com o aumento do etanol. Já que 27% de sua composição é formada pelo biocombustível”, explica Andrade.

Impacto ao consumidor

Para os consumidores, o aumento no preço do etanol significa um custo maior no orçamento mensal, especialmente para aqueles que dependem do carro para se deslocar. Apesar de o etanol ainda ser mais barato que a gasolina em muitos postos, a diferença entre os dois combustíveis está diminuindo, tornando o cálculo de custo-benefício menos vantajoso para quem utiliza o etanol como principal fonte de abastecimento.

Em Goiás, onde o etanol costuma ser amplamente consumido por motoristas, a alta nos preços tem gerado insatisfação e levado muitos a reconsiderarem suas escolhas. “Estava planejando visitar meus filhos que moram longe de mim, mas com o valor que encontro nos postos de gasolina fica muito difícil pra mim, é muito caro hoje em dia e parece que só está piorando cada vez mais.”, desabafa.

“Com o preço do etanol subindo, fica mais difícil justificar usá-lo, mesmo sabendo que ele é mais sustentável. No fim das contas, o que pesa é o bolso”, comenta João Carlos, motorista de aplicativo em Goiânia.

Além disso, o aumento nos preços dos combustíveis tem um efeito cascata na economia. Eleva os custos de transporte de mercadorias e impacta diretamente o valor de produtos e serviços, o que pode intensificar a pressão inflacionária em um cenário já desafiador.

 

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Estado é o 3º maior consumidor de etanol no Brasil

Atualmente, o Brasil atravessa o período de entressafra da cana-de-açúcar, aguardando o início da safra 2025/26, previsto para o dia 1º de abril. Apesar da expectativa, especialistas alertam que ainda é cedo para fazer previsões definitivas sobre o volume da próxima colheita. Segundo André Rocha, presidente da Sifaeg (Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol do Estado de Goiás), é necessário aguardar para avaliar as condições climáticas e o impacto do período chuvoso. “Ainda precisamos esperar um pouco para avaliar o andamento do período chuvoso, perceber como foi a recuperação dessa cana, se ela conseguiu brotar, se foi um volume de chuva razoável até março”, explica Rocha.

O processo de avaliação da safra envolve a análise de imagens de satélite, pesquisas com produtores associados e estudos detalhados sobre o desenvolvimento da lavoura. Rocha destaca que os primeiros levantamentos concretos só devem ser realizados após o Carnaval, quando haverá mais dados disponíveis. “Normalmente, fazemos esse levantamento pós-Carnaval, ali na segunda dezena de março”, ressalta o presidente. Até lá, as expectativas permanecem cautelosas, com o setor observando atentamente as condições climáticas e os indicadores que possam afetar a produtividade.

A produção de etanol em Goiás destaca-se pela busca incessante por eficiência e inovação, segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol do Estado de Goiás. O estado, que é o terceiro maior consumidor do biocombustível no Brasil, está à frente em práticas sustentáveis e competitividade no setor.

“As empresas estão tentando cada vez mais ser mais eficientes, no consumo de água, no consumo de energia, aumentando a sua produtividade, partindo para usinas flex, fazendo a produção de etanol com grãos no período da entressafra. As empresas estão buscando também cada vez mais exportar energia, para ter sustentabilidade econômica e financeira”, afirma Rocha.

Essa busca por eficiência se alinha à necessidade de enfrentar desafios inerentes ao setor, como a dependência de pesquisas para aumento da produtividade. Para Rocha, o investimento em desenvolvimento tecnológico é essencial, mas exige tempo e recursos substanciais. “É importante que as empresas invistam cada vez mais em pesquisas, aumentar a produtividade de canas, ter canas mais produtivas. Mas pesquisas de desenvolvimento levam tempo e precisam de muito dinheiro para ser investido. É um fator importante a médio e longo prazo.”

Uma das maiores preocupações do consumidor é o preço do etanol. Rocha esclarece que a variação está atrelada a diversos fatores que vão além do controle das usinas. “Nós não controlamos o preço. Tem o preço do produtor, da distribuidora, da bomba e ainda tem toda questão de carga tributária e interferências externas nos combustíveis fósseis. Quando o governo segura muito o preço do combustível fóssil, ele pode retrair a demanda de etanol; quando sobe muito, podem incentivar a demanda de etanol”.

Apesar dessas oscilações, Goiás mantém uma posição de destaque em termos de competitividade. “Goiás continua tendo nas usinas o menor preço do Brasil, como de costume. Costuma-se ter o menor preço por litro, ter na bomba os três menores preços do Brasil. Além disso, somos um grande consumidor de etanol, o terceiro maior consumidor do Brasil. Apesar de não termos a maior frota, perdemos para Minas Gerais e São Paulo. Historicamente, somos um dos primeiros estados em consumo de etanol por veículo, brigando com Mato Grosso e tendo São Paulo em terceira posição”, finalizou Rocha.

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