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sexta-feira, 24 de janeiro de 2025
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Estética

Anvisa pode proibir o uso estético de PMMA para preenchimento

Pedido foi feito pelo CFM e uma especialista alerta sobre os riscos do uso da substância que tem sido associada a complicações graves e irreversíveis

Postado em 24 de janeiro de 2025 por Letícia Leite
No âmbito da estética, o PMMA é utilizado para preenchimentos cutâneos, apresentando uma consistência semelhante à de um gel. Foto: Freepik

No início desta semana, o Conselho Federal de Medicina (CFM) solicitou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a proibição do uso do polimetilmetacrilato (PMMA) como agente de preenchimento, solicitando a suspensão imediata da fabricação e venda de preenchedores baseados nesse composto no Brasil. 

O PMMA é um material plástico que possui diversas aplicações em áreas como saúde e setores produtivos, variando conforme o método de processamento e o desenvolvimento do material. Ele pode ser encontrado em produtos como lentes de contato, implantes esofágicos e cimento ortopédico. No âmbito da estética, a substância é utilizada para preenchimentos cutâneos, apresentando uma consistência semelhante à de um gel.

Segundo o dermatologista especializado em estética e adepto da Beleza Natural, Dr. Bones Jr., o PMMA é um material permanente, já o corpo humano muda com o tempo, isso faz com que as chances de complicações aumentem consideravelmente. 

“O PMMA é um corpo estranho no organismo, e com o tempo, o corpo pode reagir de forma negativa. Já vimos casos de insuficiência renal causados pelo excesso dessa substância”, afirma, destacando os perigos de optar por procedimentos irreversíveis.

O documento ressalta o posicionamento de entidades como a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, que em 2024 alertou sobre os riscos da aplicação do produto de forma injetável, colocando em risco a vida do paciente. 

Os principais problemas quanto a aplicação do PMMA está relacionado a infecções, nódulos, que são reações da aplicação, principalmente da substância mais antiga. Já a recente, de quarta geração, por possuir a esfera mais uniforme e reagir menos no organismo, passou a ser aplicada uma quantidade maior do produto.  

“100, 200, 400 ml, para fins estéticos como no bumbum, e consequentemente começou a ter outras outras complicações, como aumento do cálcio no sangue, hipercalcemia e até mesmo insuficiência renal crônica, os rins param de funcionar. Além disso, como esse produto é aplicado intramuscular, existem alguns casos de risco de dar embolia, aplicar no vaso e isso pode levar até a morte”, explica.

No documento ainda foi mencionada a Sociedade Brasileira de Dermatologia, que, no mesmo ano, destacou que os procedimentos que requerem o uso de PMMA devem ser realizados e indicados exclusivamente por médicos, dado que os resultados podem ser imprevisíveis e indesejados. De acordo com a Anvisa, a aplicação do PMMA deve ser realizada exclusivamente por médicos ou dentistas qualificados.

“Hoje, a função do médico que realiza esse tratamento é trazer a informação correta para o paciente e não ceder nem a questão comercial por causa de ser um produto muito mais barato que os preenchedores com ácido hialurônico […] Como também esse profissional tem que se preocupar com esses riscos da saúde do paciente e colocar sempre a saúde à frente das preocupações estéticas e pressão externa para realizar esses procedimentos voltados unicamente para fins estéticos”, continua.

Ele acrescenta que para o mercado é muito mais rentável, quem utiliza esse tratamento com um fim estético, por ser em grandes quantidades, o retorno financeiro é maior. 

Atualmente, a substância recebe autorização da Anvisa para ser utilizada apenas em tratamentos reparadores, visando à correção volumétrica tanto facial quanto corporal. Essa técnica é empregada para corrigir alterações de volume resultantes de sequelas de doenças, como a poliomielite (também conhecida como paralisia infantil), além de ser indicada na correção de lipodistrofias — uma condição que causa acúmulo de gordura em determinadas áreas do corpo, que pode ser desencadeada pelo uso de antirretrovirais em pacientes com HIV/aids.

Operação Face Oculta investiga clínica estética em Goiás

Os relatos de complicações associadas ao uso do componente em procedimentos estéticos têm se tornado cada vez mais comuns no Brasil. Em dezembro de 2024, a Polícia Civil de Goiás, por meio do 4º Distrito Policial de Goiânia – 1ª DRP, realizou a operação Face Oculta, com a finalidade de cumprir quatro mandados de prisão e sete mandados de busca e apreensão em Goiânia e Anápolis. 

Essa ação faz parte de uma investigação sobre uma clínica que realizava procedimentos e cirurgias estéticas de forma ilegal, pelo menos desde 2017, prejudicando diversas pessoas que sofreram graves consequências.

Os alvos da operação foram os proprietários e os responsáveis técnicos da clínica Karine Gouveia: Karine Giselle Gouveia Silva e seu cônjuge, Paulo Cesar Dias Gonçalves; além de Daniel Ferreira Lima e Jessica Moreira dos Santos, profissionais responsáveis que executaram diversos tratamentos em áreas que iam além das suas competências regulamentares, resultando em lesões permanentes nos pacientes.

O registro da clínica junto à Receita Federal e à Vigilância Sanitária classifica sua atividade econômica como pertencente a uma subclasse de serviços “Cabeleireiros e outras atividades de tratamento de beleza”, voltados para massagem e estética, o que é totalmente incompatível com os procedimentos cirúrgicos e invasivos realizados no local. 

Ademais, o estabelecimento contava com profissionais da área de saúde que realizavam cirurgias e procedimentos invasivos sem a devida qualificação técnica, em desacordo com as normas estabelecidas pelos conselhos profissionais competentes. 

Karine Gouveia, sem formação acadêmica ou certificação profissional na área da saúde, não apenas executou procedimentos que deixaram sequelas, mas também desempenhou a função de atender, em um primeiro momento, os pacientes que buscavam a clínica. 

Ela realizava anamneses e decidia sobre a realização de procedimentos invasivos, incluindo cirurgias que são de competência exclusiva dos médicos, como rinoplastias, otoplastias, lipoaspirações e liftings faciais. Tais intervenções eram realizadas pelos demais envolvidos, sem a realização de exames preliminares, sem estrutura adequada (centro cirúrgico, anestesista, instrumentadora) e em condições insalubres.

A fim de captar suas vítimas, ocultar a natureza ilícita das atividades que realizavam e eludir perguntas sobre a execução de procedimentos que são exclusivos de médicos, como rinoplastias, alectomias e otoplastias, o grupo criminoso promovia essas intervenções utilizando denominações variadas, como “reestruturação nasal hd” e “retração de orelha”.

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