Descompasso dos extremos fortalece poder do centrão
Enquanto a esquerda não constrói um nome de peso capaz de substituir o atual presidente em eventual saída de cena, direita se vê dividida em diferentes frentes
Nos bastidores da cena política não se fala em outra coisa senão a disputa para 2026. Apesar da distância, muitos agentes políticos trabalham com entusiasmo para chegar o mais forte possível na corrida eleitoral daquele ano. Os planos são ainda mais robustos no que diz respeito à corrida pela presidência da República ocupada, atualmente, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Diversos nomes são ventilados como propensos adversários do grupo esquerdista que buscará ou a recondução de Lula ou a sucessão de algum nome ligado ao político. A esquerda mais radical é defensora nata da ideia de continuidade do presidente. No entanto, sua participação nas eleições daquele ano ainda é uma incógnita. Em reunião ministerial recente, Lula, inclusive, considerou a possibilidade de não concorrer. E mais: pregou a união das lideranças.
O discurso pela convergência passa, evidentemente, pelo receio do enfraquecimento. Acontece que a leitura é de que sem Lula na cena as chances da esquerda performar mal aumentam exponencialmente. Não à toa, desde já o presidente tem defendido que as lideranças mantenham um alinhamento político para dar robustez ao projeto daquele ano, com ele fora ou dentro do jogo.
Enquanto a esquerda não constroi um nome de peso capaz de substituir o atual presidente em uma eventual saída de cena, a direita se vê dividida em diferentes frentes de poder. Na contramão daqueles que atualmente detêm o poder, o que não falta em meio a direita brasileira são alternativas para a corrida eleitoral.
Romeu Zema, Eduardo Leite, Ronaldo Caiado, Tarcísio de Freitas, Michele Bolsonaro e até Flávio Bolsonaro são vistos como possibilidades. A leitura, porém, é que tal qual um lado peca por não formar uma nova liderança, outro peca de igual modo em dividir sua força em várias frentes.
No segundo caso, o descontentamento tem sido tamanho a ponto do ex-presidente Jair Bolsonaro defender um “limpa” no PL, seu partido político. O argumento é que muitas das lideranças, que segundo um de seus filhos surgiram da costela do pai, não demonstram o alinhamento político esperado pelo ex-mandatário. Sendo assim, melhor que desembarquem.
Com isso, o entendimento é que enquanto os dois extremos permanecerem errando nas estratégias relacionadas a 2026, o centrão se torna mais poderoso. O que, inclusive, tem se tornado cada dia mais perceptível. Conforme mostrado pela imprensa nacional, o presidente Lula planeja uma reforma ministerial para este ano. A troca no quadro de auxiliarem tem o objetivo de garantir medidas mais assertivas, tendo como ponto de partida uma política de resultados, mas não só: contemplar o centrão.
O interesse não poderia ser outro: garantir a aprovação das matérias de interesse na Câmara e no Senado sem dificuldades, além de aumentar significativamente as chances de apoio dos grupos ligados ao centro em 2026.
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A tacada, inclusive, já rendeu frutos ao atual presidente que pode aumentar e muito as chances de arrastar novas figuras para o seu palanque político. No caso do União Brasil, que conta com pré-candidato à presidência e ocupa três ministérios do Governo Lula, algumas lideranças defendem já defendem a manutenção do mandatário.
Um dos principais nomes do partido no Congresso, o deputado federal e líder da legenda na Câmara, Elmar Nascimento (UB-BA), defende que a sigla se mantenha fiel ao governo Lula. Para ele, seria uma “traição” caso o União Brasil lançasse um candidato próprio, já que a sigla ocupa três posições no alto escalão.
Certo de sua escolha, o federal já adiantou que estará ao lado de Lula nas eleições daquele ano. “Eu não vou virar as costas em 2026. Vou apoiar o presidente. A política não perdoa traição”, disse. A posição de Elmar é defendida por uma ala significativa do partido. E o mesmo pode estar prestes a acontecer com expoentes do PDT, MDB e PSDB, por exemplo.