Bancos de leite registram queda de 55% nas doações e coloca recém-nascidos em risco
Esse déficit nas doações ameaça o estoque de leite materno do Hemu, assim como os bancos das maternidades municipais de Goiânia
O início de 2025 trouxe um alerta para o Banco de Leite Humano (BLH) da Maternidade Nascer Cidadão, em Goiânia. Com uma redução de 44% nas doações de leite materno no último mês, os estoques estão longe de atender à demanda crescente das UTIs neonatais do Hospital e Maternidade Dona Iris (HMDI) e do Hospital Municipal da Mulher e Maternidade Célia Câmara (HMMCC). O cenário já impacta diretamente bebês prematuros que dependem desse alimento essencial para sobreviver e se desenvolver.
Segundo o coordenador do BLH, pediatra Sebastião Leite, o banco precisa coletar 120 litros de leite humano por mês para funcionar sem restrições. No entanto, o estoque atual está bem abaixo disso, o que compromete o atendimento.
A mãe de Lorenzo, um bebê recém-nascido com apenas dois dias de idade que está recebendo doação de leite materno em uma maternidade de Goiânia, desabafa: “Qual a mãe que não fica desesperada ao ver o filho com fome e sem mamar, fiquei assustada, com medo. Mas agora com a doação eu consigo ver meu filho tranquilo e ficar mais calma.”
Mãe de 4 filhos, Cláudia Taís relata ter vivido uma experiência completamente diferente dos outros pós-parto, mas que com o apoio do banco de leite se sente aliviada e tranquila. “Se não tivesse o banco de leite, teríamos que recorrer a outras soluções artificiais. O banco de leite pra mim é uma segurança e a minha expectativa é de sair daqui amamentando tranquilamente devido ao apoio que venho recebendo”, relata.
A sazonalidade é um dos fatores que explicam a queda nas doações, conforme explica a responsável técnica do BLH, Rosimary Araújo. Nos meses de férias escolares, como dezembro e janeiro, as famílias viajam, e as mães doadoras enfrentam dificuldades para manter a rotina de coleta de leite. Essa redução sazonal afeta diretamente a captação, processamento e distribuição do leite, resultando em estoques insuficientes.
Rosimary também destaca que a falta de leite humano pode obrigar as unidades a recorrerem ao uso de fórmulas infantis, uma alternativa menos indicada devido aos riscos para a saúde dos bebês. “A fórmula pode sobrecarregar o organismo do bebê, aumentando o risco de alergias e doenças crônicas na vida adulta, como diabetes e obesidade. O leite humano é, sem dúvida, a melhor opção, porque contém todos os nutrientes necessários em proporções ideais”, explica.
O Hospital Estadual da Mulher (Hemu), que também enfrenta uma grave redução nos estoques, possui 29 leitos de UTI neonatal e recebe gestantes de alto risco, o que aumenta a necessidade por leite humano. De acordo com a coordenadora do BLH do Hemu, Renata Machado Leles, o déficit de mais de 55% impacta diretamente os bebês prematuros. “Com 150 litros conseguimos atender aos prematuros que mais precisam. Para atender com folga a todos os bebês internados, precisamos mais que o dobro do estoque.”, enfatiza.
Vale ressaltar que o Hemu tem um alto índice de nascimentos de bebês prematuros, por ser uma unidade que recebe gestantes de alto risco. Além disso, tem 29 leitos de UTI neonatal.
O processo de captação e processamento do leite doado segue rigorosos padrões de segurança. Após ser coletado, o leite passa por triagem, classificação e pasteurização. Para garantir sua qualidade, são realizados testes microbiológicos que asseguram que o produto está livre de agentes contaminantes. “O leite humano pasteurizado é seguro e oferece todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento do bebê. É um alimento vital”, explica Rosimary.
Mães que amamentam e desejam se tornar doadoras podem procurar os postos de coleta disponíveis em Goiânia. O cadastro inclui entrevista, exames de sangue e fornecimento de frascos esterilizados para armazenamento do leite. A coleta pode ser feita em casa, com o leite sendo armazenado em congelador por até seis meses antes do envio ao banco.
O médico chama a atenção para mitos que impedem a mulher de doar por achar que produz pouco leite ou que ele é “fraco”. Ele afirma que quanto mais a mulher amamenta, mais leite ela produz. O pediatra Sebastião Leite reforça que não há quantidade mínima para doação. Nós temos bebês na UTI que precisam apenas de 5ml de leite por dia para viver, então cada doação é importante. Outro erro é acreditar que o leite é fraco. Na maioria das vezes, isso não é verdade, a menos que a mãe esteja em condição de desnutrição grave”, ressalta.
O apelo é claro: mães que amamentam e têm a possibilidade de doar, mesmo que pequenas quantidades, podem ajudar a salvar vidas e garantir um futuro mais saudável para centenas de bebês.