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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025
Falta de Assistência

Professores enfrentam sobrecarga para atender alunos atipicos

A falta de professores especializados para crianças com TEA ou necessidades especiais de educação é uma realidade nas escolas da rede municipal de Goiânia

Postado em 6 de fevereiro de 2025 por Alexandre Paes
Educadores enfrentam dificuldades para atender a todos os alunos com necessidades especiais em sala de aula, devido à falta de apoio adequado | Foto: Divulgação
Educadores enfrentam dificuldades para atender a todos os alunos com necessidades especiais em sala de aula, devido à falta de apoio adequado | Foto: Divulgação

A escassez de professores de apoio nas escolas municipais de Goiânia tem se tornado um problema crescente, especialmente para os educadores que trabalham com alunos com deficiência ou transtornos do espectro autista (TEA). Essa falta de assistência especializada compromete a qualidade do ensino e coloca uma pressão sobre os professores, que se veem sobrecarregados para atender as necessidades educacionais e de desenvolvimento dos alunos.

Uma denúncia feita por uma professora da Escola Municipal Francisco Matias, localizada no Parque Anhanguera, região sudoeste da capital, revela a difícil situação enfrentada na unidade. Em uma única sala de aula, quatro alunos com necessidades especiais de ensino (NEE) dividem um único professor de apoio. A profissional, que preferiu não se identificar por medo de represálias, relatou que a sobrecarga tem prejudicado a aprendizagem desses estudantes.

“Eu faço o meu melhor, mas é impossível dar a atenção que cada aluno precisa. Cada um tem suas especificidades, e sem o apoio de profissionais como monitores ou terapeutas, fica muito difícil garantir que todos recebam a educação de qualidade a que têm direito”, afirmou a professora.

A situação, porém, não é isolada. De acordo com especialistas e outros educadores ouvidos pelo Jornal O Hoje, a falta de profissionais de apoio na rede municipal de ensino tem sido uma constante nas escolas de Goiânia. A Secretaria Municipal de Educação (SME) não tem conseguido suprir a demanda crescente de alunos com NEE, o que acaba prejudicando tanto os estudantes quanto os próprios professores.

“Não é que a gente ache que o autista é apenas uma criança com deficiência. Esses meninos têm os laudos, e eu acredito que alguns já foram encaminhados para a Secretaria de Educação. Mas o que acontece é que a parte burocrática, essa espera de dias para observação do aluno, acaba atrasando o processo”, argumenta a pedagoga Lucia Montes Borges, que trabalhou temporariamente como professora de apoio em duas escolas municipais na região leste de Goiânia.

Enquanto isso, muitos professores não conseguem dar aula como deveria, devido a divisão da atenção com os alunos que possuem essas necessidades específicas de aprendizagem. “O cuidador, por exemplo, sofre também, porque está cuidando de dez alunos atípicos, quando o ideal seria ter um cuidador para cada um deles”, explicou a professora.

Para muitas dessas famílias, a falta de apoio não é apenas uma questão de deficiência educacional, mas também de sofrimento emocional. “Quando meu filho entra na escola, ele já vai sabendo que vai ser difícil. A falta de um profissional para ajudá-lo não é algo novo. Há anos ele está nessa situação. Eu me sinto impotente porque vejo a dificuldade dele em aprender, a exclusão que ele sofre, e o pior: não vejo um esforço real da Prefeitura em resolver esse problema. Ele merece ser tratado com dignidade, e isso passa por ter profissionais capacitados para atendê-lo”, desabafou Lilian Nunes, mãe do Arthur Nunes de apenas 8 anos.

A Lei Brasileira de Inclusão, sancionada em 2015, estabelece que pessoas com deficiência têm direito a educação de qualidade, sendo garantido o acesso ao currículo escolar adaptado às suas necessidades. Entretanto, a realidade nas escolas municipais de Goiânia está distante do que preconiza a legislação. Pais de alunos com deficiência ou TEA têm relatado que, além da escassez de profissionais, não há um suporte efetivo da SME para garantir a inclusão plena dos estudantes.

“É revoltante. O que queremos é um apoio real, que permita que nossos filhos se desenvolvam no ambiente escolar como qualquer outra criança. Faltam profissionais e, por isso, a inclusão na prática não acontece”, afirmou Jullyana Alves Souza, mãe da Anna Julia Alves, de 7 anos, que é diagnosticada com TEA suporte II e está sem professora de apoio desde o segundo semestre de 2024.

Revoltada, a auxiliar administrativa acredita ainda que a sobrecarga dos professores é um reflexo da falta de investimento da prefeitura para uma rede de ensino inclusiva e que atenda às necessidades de todos os alunos. “Eu acredito que sem recursos adequados e professores especializados, o compromisso com a educação inclusiva fica comprometido, deixando para trás os alunos, assim como a minha filha, que mais necessitam de atenção”, desabafou Jullyana.

Uma das mães, que tem um filho com Transtorno do Espectro Autista (TEA), relata que a falta de apoio especializado tem sido um problema contínuo desde os primeiros anos de escolarização do filho. “Meu filho sempre teve dificuldades para se adaptar às escolas. Ele precisa de um apoio constante, mas por mais de três anos, ele ficou sem um profissional de apoio adequado. Eu já fui diversas vezes à escola pedir ajuda, mas sempre me dizem que não têm recursos ou profissionais para atender à demanda. Isso faz com que ele se sinta cada vez mais frustrado e excluído”, contou a mãe, visivelmente emocionada com a situação.

Ausência de ‘professores de apoio’ prejudica ensino aprendizagem

Com a crescente demanda por um ensino inclusivo, a psicopedagoga Marcia Rocha ressalta que é essencial implementar políticas públicas eficazes para garantir que os direitos dos alunos com deficiência sejam respeitados e atendidos de forma adequada. “Cada aluno com necessidades educacionais especiais tem um perfil único e, por isso, é imprescindível que a escola ofereça um acompanhamento individualizado”, expõe a especialista. 

Professores e cuidadores precisam de mais recursos e treinamentos específicos para atender adequadamente a essa diversidade de necessidades. Sem o suporte adequado, a inclusão escolar se torna apenas uma formalidade e não cumpre seu papel de promover a verdadeira igualdade de oportunidades”, explica Marcia.

Nós procuramos a Secretaria Municipal de Educação (SME), que por meio de nota informou que atualmente, 6.161 crianças e estudantes com Necessidades Educacionais Especiais (NEE) estão matriculados na rede, e que alguns necessitam de Auxiliar de Atividades Educativas (AAE) ou AEE. Segundo a pasta o atual quadro de servidores dispõe de 1300 AAE e 250 professores que atendem em salas de recursos multifuncionais. Do total de alunos com NEE, apenas 1483 pais solicitaram os comumente nomeados ‘professores de apoio’ (ou AAE), que auxiliam as crianças na locomoção, alimentação e higiene pessoal.

A nota diz ainda após avaliação da Equipe Multidisciplinar, crianças e estudantes que necessitam são encaminhados para o Atendimento Educacional Especializado (AEE), que funciona no contraturno e também oferece suporte aos professores do ensino comum. Esses AAE, regulamentados pela Lei Municipal nº 9.128/2011, são disponibilizados para alunos que requerem auxílio em alimentação, higiene e locomoção, conforme prevê a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015).

Para Márcia é alarmante saber que muitas escolas não têm profissionais de apoio suficientes, o que torna o trabalho dos professores ainda mais desafiador. “Eles precisam de um suporte contínuo para lidar com as necessidades dos alunos com deficiência ou transtorno do espectro autista. E esse apoio deve ser garantido pelo poder público, com a criação de estratégias eficazes e a oferta de recursos financeiros para a contratação desses profissionais”, finaliza a psicopedagoga.

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