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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025
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Risco de lesão

90% das vítimas do mergulho em águas rasas são jovens

O acidente é a segunda principal causa de deficiências, perdendo apenas para os acidentes de trânsito

Postado em 15 de fevereiro de 2025 por Letícia Leite
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A falta de profundidade para absorver de maneira adequada o impacto do corpo ao colidir com o fundo, é um fator que contribui para o perigo da prática. Foto: Freepik

Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde revela que, no período de verão, os acidentes de mergulho em águas rasas representam a segunda principal causa de deficiências, perdendo apenas para os acidentes de trânsito. Aproximadamente 96% dos incidentes de mergulho ocorrem entre setembro e maio, enquanto fora desse período, esses acidentes ficam em quarto lugar.

Segundo a Sociedade Brasileira de Coluna (SBC), a maioria das vítimas desse tipo de acidente é composta por jovens, com 90% na faixa etária de 10 a 25 anos. Independentemente de ser em uma piscina, no mar ou em uma cachoeira, quem aprecia mergulhar se expõe a riscos. É claro que o perigo de sofrer um acidente mais grave aumenta quando há obstáculos na área de salto, como pedras escorregadias e afiadas, troncos de árvores e bancos de areia, que muitas vezes ficam ocultos e passam despercebidos.

Diversos fatores contribuem para os perigos da prática. O principal deles é a falta de profundidade para absorver de maneira adequada o impacto do corpo ao colidir com o fundo ou com objetos submersos, como rochas ou detritos.

Esse impacto da cabeça contra o fundo da água, ele é capaz de causar grandes lesões pela exposição do tecido. “Esse impacto onde você tem uma grande força contra a cabeça leva aos traumas de crânio. Então você pode ter um afundamento de crânio, um sangramento cerebral e comprometimento da função neurológica no pescoço. Porque essas áreas são áreas neurológicas de grande importância, que tem responsabilidade para que você tenha movimentos e também a capacidade de se manter consciente, de ter cognição, que é aquela capacidade que você tem de se conectar com o meio exterior, então a consciência, tudo é prejudicado”, explica o neurocirurgião especializado em coluna, Túlio Rocha.

Neste cenário, a colisão da cabeça com o fundo da água pode resultar em: paralisia de pernas e braços, danos para coluna vertebral, lesões como fratura e luxação, problemas neurológicos, trauma de crânio, fraturas nas mãos e pés.

O médico explica que os principais sintomas da prática se apresentam de duas formas distintas, primeiro com alterações referentes ao trauma do crânio, que ao mergulhar e bater a cabeça, o trauma gerado, se expressa com alguma vertigem ou tontura, pode-se haver uma perda da consciência breve ou pode evoluir com um quadro de dor de cabeça persistente, mas que não cresce com a intensidade.

Ele acrescenta que pode haver náuseas ou vômitos, uma dificuldade de memória a curto prazo e até alterações no humor. “Isso são alterações que se pode ter com relação à parte do crânio e associado também aos traumas em si. Então, a pessoa pode ter uma fratura do crânio, pode ter um afundamento, pode ter um comprometimento da parte cerebral”, continua o especialista.

Rocha enfatiza que a lesão mais comum resultante desses acidentes é a tetraplegia, na qual os pacientes perdem os movimentos a partir do pescoço.

“Se ocorrer uma interrupção parcial das conexões nervosas entre o cérebro e os membros, geralmente ali na altura do pescoço, a pessoa pode fazer uma lesão medular e essas alterações neurológicas envolvem a tetraplegia que consiste na perda de todos os movimentos de sensibilidade do pescoço para baixo. Se for na altura da região torácica, ali das costas, ou na região lombar, a pessoa pode evoluir com paraplegia, que é quando você tem a perda sensitiva e também da função motora de toda a cintura para baixo”, destaca.

Para desfrutar do lazer e aproveitar o passeio com segurança e responsabilidade, Túlio esclarece que existem maneiras de prevenir surpresas indesejadas que podem resultar em tragédias aquáticas. Ele enfatiza a importância de conhecer a profundidade do local, especialmente em áreas com pedras, como rios, cachoeiras, bancos de areia e costões marítimos. É aconselhável verificar a presença de salva-vidas nas proximidades, na ausência deles, é prudente solicitar que familiares fiquem atentos e evitar se afastar ou ir para águas profundas. 

No entanto, não se engane achando que pular em águas profundas é mais seguro. Já considerou a possibilidade de ser pego de surpresa por correntezas, trombas d’água, redemoinhos ou até mesmo por um animal perigoso? E se, de repente, você sofrer com câimbras, cansaço, falta de ar e mal-estar? Se a pessoa não conseguir tocar o fundo, torna-se muito mais complicado escapar de uma situação assim, que pode até ser fatal.

Cuidados que podem ser tomados e a assistência às vítimas

É fundamental ter cautela ao tentar ajudar em situações como essa, pois uma intervenção inadequada pode agravar a lesão, adverte o especialista. A prioridade é retirar a vítima da água para evitar o afogamento e aguardar a chegada da equipe médica. 

Ele destaca que quando se tem um trauma no pescoço, e compromete diretamente a medula, o resultado gera a perda de sensibilidade e força nos braços e pernas. 

“Pessoas que têm lesões medulares graves no momento do acidente se elas não forem carregadas para fora da água elas vão morrer, não pelo trauma em si, mas uma morte por afogamento”, continua.

É aconselhável solicitar assistência ao presenciar um incidente semelhante. No hospital, os profissionais qualificados farão uma avaliação e indicarão o tratamento mais apropriado. Em casos menos graves, o uso de colares pode ser sugerido, enquanto em situações mais sérias, a cirurgia pode ser necessária. 

Os sinais ou sintomas de lesão na coluna após um acidente de mergulho incluem dor na região afetada, que pode irradiar para os membros superiores. “Podem incluir náuseas, cefaleia, tonturas, fraqueza ou incapacidade de mover os braços, ou pernas. Pode também ocorrer formigueiro ou dormência nos membros e lesão na área abaixo da zona atingida. São frequentes também sintomas como estado de consciência alterado, dificuldades respiratórias, perda de controle da bexiga ou do intestino”, pontua o neurocirurgião.  

Rocha também ressalta a importância de monitorar os sinais vitais, como respiração, frequência cardíaca e nível de consciência. “Caso a pessoa esteja sonolenta, ou comece a ficar mole, respondendo pouco, é importante levá-la a um serviço de urgência em hospital. Nesse momento a avaliação médica é de extrema importância, especialmente se houve pancadas na cabeça”, finaliza.

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