Jovem boliviana é resgatada após viver em condições análogas à escravidão no Morumbi
Babá trabalhava 19 horas por dia, sem comida e sem salário, e foi mantida em cárcere privado por seis meses em apartamento de médicos

Uma jovem boliviana de 19 anos foi resgatada, na última semana, após ser mantida em condições de trabalho análogas à escravidão por seis meses em um apartamento no Morumbi, em São Paulo. Contratada como babá para cuidar dos filhos de um casal de médicos, a jovem revelou que não recebeu salário e foi proibida de se alimentar da comida da casa, precisando depender de doações da diarista e de outra babá do condomínio. Ela ainda tinha que realizar todas as atividades domésticas, trabalhando 19 horas por dia, e não podia sair do local ou usar seu celular para manter contato com a família.
De acordo com o depoimento da vítima à polícia, ela chegou ao Brasil acompanhada de sua patroa, também boliviana, com a promessa de uma vida melhor e condições dignas de trabalho. No entanto, o que encontrou foi uma rotina de abuso e restrições. “Eu não podia comer a comida da casa, a patroa me disse que eu tinha que fazer minha própria comida”, contou a jovem, destacando o descaso com suas necessidades básicas. Além disso, ela relatou que a médica a questionou sobre um pacote de bolachas encontrado em seu quarto, acusando-a de roubo.
A jovem também descreveu situações de agressões psicológicas e físicas. Ela afirmou que sofreu lesões devido ao excesso de tarefas e o peso dos objetos que era obrigada a carregar. “A mãe do patrão jogou roupas no meu rosto enquanto eu passava roupa”, revelou em depoimento. A situação só foi descoberta após denúncias feitas ao Sindicato das Empregadas e Trabalhadoras Domésticas da Grande São Paulo (Sindoméstica) e ao grupo Conexão Babá, que alertaram sobre o cárcere privado e as péssimas condições de trabalho.
Segundo Janaína Souza, presidente do Sindomésticas, a jovem não tinha contrato de trabalho e estava em um estado físico e psicológico debilitado quando foi resgatada. “Ela estava com muito medo e bastante fome”, relatou Janaína, destacando a gravidade da situação. Após o resgate, a boliviana recebeu apoio e cuidados, enquanto as investigações sobre os responsáveis pelo abuso continuam.
O casal de médicos foi levado à delegacia para prestar depoimento, mas foi liberado em seguida. Em resposta às acusações, a advogada do casal negou que a jovem tenha vivido em cárcere privado, afirmando que ela “jamais foi tratada de forma desrespeitosa ou desumana” e que “sempre foi tratada com cuidado e muito carinho, como um dos membros da família”. A Polícia Civil e o Ministério Público do Trabalho seguem apurando o caso.