Leonard Peltier volta para casa, mas ainda sem justiça
Após meio século na prisão, líder indígena dos EUA é libertado, mas sem reconhecimento oficial de sua inocência
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Leonard Peltier, ícone da resistência indígena nos Estados Unidos, deixou a prisão federal de Coleman, na Flórida, na terça-feira (18), após 50 anos encarcerado. Sua liberdade veio por meio de um perdão presidencial concedido por Joe Biden, mas não significa uma absolvição. Aos 80 anos, Peltier cumprirá o restante da pena em confinamento domiciliar, o que reacende o debate sobre o tratamento histórico dado aos povos indígenas no país. “Tenho orgulho da posição que assumi: lutar pelo nosso direito de sobreviver”, declarou emocionado ao chegar à reserva Turtle Mountain, onde foi recebido com homenagens.
Condenado em 1977 pelo assassinato de dois agentes do FBI durante um tiroteio na reserva de Pine Ridge, Dakota do Sul, Peltier sempre alegou inocência. Seu julgamento foi repleto de controvérsias, incluindo depoimentos contraditórios e suposta manipulação de provas pela acusação. Desde então, personalidades como Nelson Mandela e o ator Robert Redford pediram sua libertação, alegando que ele foi vítima de uma perseguição política contra o Movimento Indígena Americano (AIM), organização que lutava contra a exploração das terras nativas.
A prisão de Peltier é um dos capítulos do chamado “Reinado do Terror”, período em que a repressão governamental atingiu brutalmente os povos indígenas nos EUA. Durante as décadas de 1960 e 1970, o governo intensificou a política de remoção de nativos de suas terras e o AIM emergiu como resposta a essa ofensiva. A repressão se intensificou após a ocupação de Wounded Knee em 1973, quando ativistas indígenas enfrentaram autoridades federais em um cerco que durou 71 dias. O contexto de violência culminou no tiroteio de 1975, em que Peltier foi acusado sem provas definitivas.
Embora a libertação do líder indígena seja uma vitória simbólica, seu caso continua sendo um exemplo da criminalização dos povos originários e de sua luta por direitos. A acusação nunca reconheceu as irregularidades do processo, e até hoje ninguém foi responsabilizado pelo assassinato de Joe Stuntz, jovem indígena morto no mesmo confronto em que os agentes federais foram baleados.
“A única coisa de que sou culpado e pela qual fui condenado foi por ser de sangue Chippewa e Sioux e por acreditar em nossa religião sagrada”, disse Peltier em sua defesa no tribunal, em 1977.