A marchinha que mudou o rumo do carnaval carioca
Como um bloco do Andaraí e Chiquinha Gonzaga transformaram a história da festa com a criação da primeira marchinha de Carnaval
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Em 1880, Andaraí, um tranquilo bairro carioca, se destacou por sua juventude animada e pela criação de um dos primeiros cordões carnavalescos do Rio de Janeiro: o Rosa de Ouro. Naquela época, os grupos organizados para o Carnaval não eram chamados de blocos, mas sim de “sociedades carnavalescas”. O Rosa de Ouro fazia parte desse movimento que se opunha à formalidade dos ranchos carnavalescos, uma tradição de procissões satíricas que haviam se originado das cerimônias religiosas.
Enquanto os ranchos eram compostos por uma banda de sopro e percussão limitada, os cordões carnavalescos, como o Rosa de Ouro, trouxeram a revolução sonora para as ruas. A principal mudança foi a introdução da percussão da fanfarra, que acelerou o ritmo da marchinha e levou à criação de músicas mais animadas. Com isso, surgiu uma nova estética carnavalesca, que não só se distanciava dos ranchos como também criava bordões cantados em coro pela multidão durante os desfiles.
A grande virada para o Rosa de Ouro e para o Carnaval como um todo aconteceu em 1899, quando o cordão desafiou Chiquinha Gonzaga, uma das compositoras mais renomadas da época, a criar uma música-tema para o bloco. Aos 52 anos, Chiquinha aceitou o desafio e criou a icônica Ó Abre Alas!, a primeira marchinha de Carnaval da história. A canção foi feita sob medida para que a multidão abrisse espaço para o desfile do cordão, e seus versos se tornaram um símbolo da festa: “Ó, abre alas, que eu quero passar!” tornou-se um grito de liberdade carnavalesca.
A música não só fez o Rosa de Ouro ganhar notoriedade como também inaugurou uma nova era para os cordões. A partir de então, todos os blocos passaram a ter suas próprias músicas-tema, criando uma competição saudável entre os compositores que buscavam a canção que se tornaria o grande sucesso do Carnaval.