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quinta-feira, 6 de março de 2025
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Reaproximação

Lula acena ao MST e pode acirrar ânimos com o agro

Presidente visita assentamento pela primeira vez neste mandato para anunciar crédito bilionário a assentados, no entanto, relação com o agronegócio do Centro-Oeste deve se tensionar

Postado em 5 de março de 2025 por Bruno Goulart
Lula acena ao MST e pode acirrar ânimos com o agro
Foto: MST

Bruno Goulart

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dará um passo simbólico e estratégico em seu governo ao visitar, nesta sexta-feira (7), o Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio (MG), seu primeiro assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) desde o início do mandato. A visita marca não apenas uma reaproximação com o movimento, mas também o anúncio de medidas que devem impactar diretamente a base de apoio do PT no campo, como o assentamento de 12 mil famílias e a liberação de uma linha de crédito de R$ 1,5 bilhão para agricultores familiares e assentados. Além disso, o governo lançará o programa “Desenrola Rural”, voltado à renegociação de dívidas de produtores rurais, em um claro aceno às demandas históricas do MST.

A relação de Lula com o MST, no entanto, não se resume a políticas públicas. A reforma ministerial em curso no Planalto pode abrir espaço para a entrada de Guilherme Boulos (PSOL), deputado federal e líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), no alto escalão do governo. Boulos, que já foi pré-candidato à prefeitura de São Paulo em 2024, é visto como uma liderança alinhada aos interesses dos movimentos sociais. Sua possível nomeação para a Secretaria-Geral da Presidência, pasta responsável pela articulação com movimentos sociais, reforçaria a conexão do governo com pautas progressistas, mas também poderia acirrar os ânimos com setores conservadores, especialmente no Congresso e no agronegócio.

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Dessa forma, a especulação sobre a entrada de Boulos no governo ganha força justamente no momento em que Lula busca fortalecer sua base de apoio entre os movimentos sociais. O MST, que teve pouca visibilidade no governo Bolsonaro, voltou a ocupar um lugar significativo na agenda do PT. A visita ao Quilombo Campo Grande, onde mais de 459 famílias vivem em um terreno ocupado desde a falência da Usina Ariadnópolis nos anos 90, é emblemática. Após 11 tentativas de despejo, incluindo uma durante a pandemia, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou a recuperação judicial da empresa que administrava a usina, abrindo caminho para a desapropriação da área. A expectativa é que Lula assine o decreto de desapropriação durante a visita.

Agro do Centro-Oeste

No entanto, a reaproximação de Lula com o MST coloca em xeque sua relação com o agronegócio, especialmente no Centro-Oeste, região que concentra grande parte da produção agrícola do país e onde há forte resistência às ações do movimento. Governadores como Ronaldo Caiado, de Goiás, e Mauro Mendes, do Mato Grosso, ambos do União Brasil, têm sido críticos ferrenhos do MST. Caiado, em particular, adotou uma política de “tolerância zero” contra invasões de terras, o que, segundo ele, reduziu drasticamente os crimes contra propriedades privadas no estado. “Aqui não terá espaço para ações desse grupo”, afirmou o governador, em referência ao MST.

A tensão entre o governo federal e os estados do Centro-Oeste reflete um conflito mais amplo entre o modelo de reforma agrária defendido pelo MST e os interesses do agronegócio, que vê o movimento como uma ameaça à produção e à propriedade privada. Enquanto Lula busca fortalecer os sem-terra com políticas de crédito e assentamentos, governadores e ruralistas pressionam por medidas que garantam a segurança jurídica das propriedades rurais.

Assim, a possível entrada de Boulos no governo, somada ao fortalecimento do MST, pode ampliar a base de apoio de Lula entre os movimentos sociais, mas também tende a acirrar as disputas políticas com setores conservadores. Nesse cenário, o presidente caminha sobre um fio delicado, buscando equilibrar alianças que, muitas vezes, parecem irreconciliáveis.

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