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quinta-feira, 17 de abril de 2025
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CNH

Mulheres representam 35% dos condutores em Goiás

“O que mais tem são homens nos chamando de ‘barbeira’ ou dizendo que mulher precisa ficar em casa e que não fomos feitas para dirigir”, revela instrutora de autoescola

Eduarda Leãopor Eduarda Leão em 8 de março de 2025
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| Foto: SECOM

A presença feminina no trânsito de Goiás tem crescido nos últimos anos. Atualmente, o estado conta com 1.188.117 de mulheres habilitadas, o que representa 35% do total de condutores. Apenas nos dois primeiros meses deste ano, 22.962 mil mulheres conquistaram sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH), ampliando ainda mais a participação feminina ao volante.

Apesar desse avanço, a realidade ainda apresenta desafios. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres representam 50,9% da população goiana, totalizando 3.589.554 habitantes. Os homens, por sua vez, somam 3.466.941, correspondendo a 49,1%. Mesmo sendo maioria na população, as mulheres ainda são minoria no trânsito.

Dados do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO) mostram que, em 2023, ocorreram 107.801 acidentes envolvendo condutores. Destes, 75,5% foram causados por homens, enquanto as mulheres estiveram envolvidas em 24,5% dos casos. Essa diferença também se reflete no comportamento ao volante, conforme destacado pelo presidente do Detran-GO, Delegado Waldir: “Os homens são mais multados por cometer mais infrações de trânsito e pela gravidade desses desrespeitos às leis. Isso reflete no comportamento e na forma como os homens veem o trânsito, ou seja, eles se sentem numa guerra”.

O presidente da autarquia também enfatizou a segurança e a prudência das mulheres ao dirigir e reforçou que “é importante destacar que as mulheres, por agirem de forma cautelosa e empática, são as que menos se envolvem em acidentes em relação à circulação nas vias, por respeitarem as normas básicas de trânsito”.

Os dados mais recentes do Detran-GO indicam que, em 2025, foram emitidas 111.280 mil CNHs, sendo 45.475 mil para mulheres e 65.805 mil para homens. O total de condutores no estado atualmente é de 3.379.796, dos quais 1.192.936 são mulheres e 2.166.634 são homens.

Quanto à mortalidade no trânsito em Goiás, a disparidade entre gêneros também é evidente. Em 2023, 76% das vítimas fatais eram do sexo masculino, enquanto 24% eram mulheres. Em 2024, esse percentual aumentou para 79% entre os homens, enquanto entre as mulheres caiu para 21%.

No Brasil, os dados também indicam uma crescente participação do público feminino no trânsito. Informes do Registro Nacional de Carteira de Habilitação (RENACH) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) mostram que, apesar de os homens ainda serem maioria entre os condutores, houve um aumento significativo no número de mulheres habilitadas nas categorias “A”, “B”, “AB” e “AD”. Na categoria “B”, que permite conduzir automóveis de passeio, as mulheres superam os homens em habilitações, com 50,2% do total.

Um estudo sobre morbidade nos transportes, presente no Ranking de Competitividade dos Municípios e divulgado pelo Centro de Liderança Pública (CLP), reforça que os homens são os mais propensos a morrer em acidentes de trânsito. O estudo ainda revelou que a taxa de mortalidade masculina é cerca de quatro vezes maior do que a feminina. Além disso, a idade média dos homens que morrem em sinistros de trânsito é de 41 anos, enquanto entre as mulheres é de 42 anos.

74% das condutoras já presenciaram violência contra mulher no trânsito

O preconceito e a violência vividos por mulheres no trânsito são uma realidade alarmante e, muitas vezes, subestimada. Uma pesquisa realizada pelo Detran-GO, por meio da Gerência de Educação de Trânsito, revelou que, entre mil mulheres entrevistadas, 63,1% confirmaram terem sido vítimas de violência no trânsito. Além disso, 74% afirmaram já terem presenciado algum tipo de violência contra outra mulher no trânsito.

Entre as condutas relatadas estão intimidação, uso excessivo da buzina, perseguição, ato obsceno, fechada após desentendimento na via, assédio ou importunação, agressão física, humilhação ou ridicularização, discriminação religiosa ou política, empurrão, jogada ou retirada do veículo após desentendimento.

O delegado Waldir, destacou a importância de combater essa violência. “As denúncias no enfrentamento desse grave problema não devem partir apenas da vítima, mas de qualquer pessoa que perceba atos de agressões, que podem ser físicas, psicológicas, sexuais, morais e patrimoniais”, explica.

Além disso, Waldir reforçou a necessidade de conscientização e respeito no trânsito. “Em Goiás são mais de 1,1 milhão de mulheres condutoras de carros, motos, ônibus e elas ainda têm que enfrentar o preconceito, piadas e machismo no trânsito. Não podemos aceitar esse comportamento e o Detran-GO reforça que o respeito, a atenção e a educação são obrigação de todos, principalmente dos homens”, afirma o presidente da autarquia.

A instrutora de autoescola, Tatiane Alves aponta já ter passado por diversos momentos onde se sentiu diminuída enquanto mulher na condução de um veículo. “Sempre passo por situações de preconceito, não só no trânsito, mas também com colegas de trabalho.”

Para ela essa realidade ainda é uma barreira para muitas mulheres que desejam dirigir. “O que mais tem são homens nos chamando de ‘barbeira’ ou dizendo que mulher precisa ficar em casa e que não fomos feitas para dirigir”.

A profissional alegou que ofensas no trânsito contra o público feminino já se tornaram corriqueiras. “Quando fui tirar minha habilitação, já senti esse preconceito. Certa vez, no trânsito, um homem parou ao meu lado e disse: ‘Mulher no trânsito é perigo constante’. Meu instrutor, antes que eu dissesse algo, respondeu: ‘Com homem, o perigo é dobrado’. Nunca esqueci disso”, relembra.”

Tatiane encontrou no trânsito não apenas independência, mas também sua própria força. Em um relacionamento abusivo, houve a resistência do ex-marido, que tentou impedi-la de tirar a carteira de motorista. “Na época, ele colocou diversos empecilhos e, quando finalmente consegui, não me deixou dirigir. Não queria que os amigos vissem que uma mulher estava ao volante.” Apesar dos desafios, ela persistiu, transformando a direção não só em uma paixão, mas também em uma ferramenta de trabalho.

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