Com 2026 a vista, esquerda começa a dar sinais de descompasso
Legendas aliadas ao presidente Lula dão indícios de discordâncias, em véspera de ano eleitoral

Com a iminência do ano eleitoral de 2026, os grupos políticos à esquerda começam a dar indícios de que a união em torno do atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode ter problemas. Enquanto isso, o entorno de Lula, focado na reeleição do petista, cobra apoio integral dos aliados próximos.
Após escolher a ex-presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para chefiar a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), os rumores apontam que o presidente está inclinado em colocar o deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP) na Secretaria-Geral da Presidência, substituindo Márcio Macêdo.
Boulos é próximo de Lula. Em 2024, quando foi derrotado no segundo turno da eleição para a prefeitura de São Paulo na disputa com Ricardo Nunes (MDB), a aliança com o petista foi o principal trunfo da campanha de Boulos. O psolista recebeu um orçamento milionário do partido do presidente. O PT doou R$ 30 milhões para a campanha do deputado, que tinha a petista Marta Suplicy na vice.
Porém, com a possibilidade do parlamentar integrar a Esplanada, uma ala da bancada do Psol na Câmara dos Deputados se mostra contrária a ideia da legenda integrar o governo. Liderados pelo deputado Glauber Braga (Psol-RJ), um dos parlamentares à esquerda mais críticos do governo atual, essa ala da bancada psolista – que é minoritária – alega que com um cargo de alto escalão no governo, as críticas incisivas irão perder espaço.
O racha teve início quando o economista Davi Deccache foi demitido do gabinete da liderança da sigla. A ala minoritária, mais crítica a Lula, argumenta que a demissão decorreu das críticas de Deccache à política econômica do governo, conduzida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad – além de criticar o “autoritarismo” de Boulos na bancada. Entretanto, oficialmente, o Psol nega essa versão e diz que o desligamento ocorreu por conta de ofensas do economista a deputados.
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Outro argumento utilizado pelos contrários a ida de Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência é que, uma resolução do partido aprovada em dezembro de 2022, consta que a sigla apoiará a gestão petista na “recuperação dos direitos sociais e de interesses populares”, porém não ocupará cargos no governo. Atualmente o Psol possui apenas um ministério, o de Povos Indígenas, na figura de Sônia Guajajara. O cargo é tratado como uma excepcionalidade, já que a indicação foi feita pela militância indígena e por Sônia ser uma liderança do movimento.
A ala majoritária, liderada por Boulos, é formada por: Érika Hilton (SP), Tarcísio Motta (RJ), Célia Xakriabá (MG), Ivan Valente (SP), Luciene Cavalcante (SP), Talíria Petrone (RJ) e Pastor Henrique Vieira (RJ). Já os minoritários são, além de Glauber Braga, os deputados Chico Alencar (RJ), Luiza Erundina (SP), Sâmia Bomfim (SP) e Fernanda Melchionna (RS).
Os desentendimentos no Psol não são os únicos no campo político da esquerda. Recentemente, em entrevista ao Metrópoles, o senador Humberto Costa (PE), presidente interino do PT, afirmou que o partido “mais perdeu que ganhou” na federação com PCdoB e PV.
Na avaliação de Costa, a legenda precisa rever os termos da aliança. “Estamos federados com partidos com importância política, mas se ela se mantém, precisamos rediscutir os princípios e estatutos. O PT, que é quem mais constrói cauda para eleger parlamentares, terminou por deixar de ganhar alguns mandatos importantes”, disse o parlamentar.
Na sequência, o mandatário deixou em aberto o futuro da união com o PCdoB e PV. “Havendo uma readaptação do estatuto, acredito que podemos ter a continuidade. Caso não aconteça, não será uma vantagem para o PT. Vamos discutir”, completou Humberto. (Especial para O Hoje)