A verdade por trás dos fios que se vão
Calvície feminina afeta milhões de mulheres e tem tratamentos eficazes

A calvície feminina, também chamada de alopecia, é um problema que afeta cerca de 50% das mulheres ao longo da vida, sendo mais comum após os 40 anos. Apesar de ainda ser vista como uma condição predominantemente masculina, a queda de cabelo em mulheres é uma realidade que traz impactos significativos na autoestima e na qualidade de vida. A dermatologista Bruna Jolla, especialista em dermatologia capilar, explica as causas, os primeiros sinais e os tratamentos mais modernos disponíveis para lidar com a condição.
O interesse de Bruna pela dermatologia capilar surgiu de uma experiência pessoal. Após o nascimento de sua filha mais velha, o marido apresentou uma queda de cabelo intensa e enfrentou dificuldades para obter um diagnóstico preciso. A partir desse episódio, ela se aprofundou nos estudos sobre saúde capilar e decidiu se especializar na área. Desde então, tem acompanhado de perto os desafios que as mulheres enfrentam ao lidar com a perda de cabelo.
Segundo a especialista, os primeiros sinais de calvície feminina são sutis, o que torna o diagnóstico precoce mais difícil. A afinidade dos fios é um dos principais indícios. O cabelo começa a ficar mais ralo e frágil, sem uma queda aparente, mas com uma redução perceptível no volume. Observar o histórico familiar é importante, pois a genética influencia no desenvolvimento da alopecia feminina.
As causas da calvície em mulheres são variadas e, em alguns aspectos, diferentes das que afetam os homens. Nos homens, a calvície é frequentemente impulsionada pela ação da di-hidrotestosterona (DHT), um hormônio derivado da testosterona. Já nas mulheres, o desequilíbrio hormonal é o fator mais relevante, especialmente em fases como a menopausa e a síndrome dos ovários policísticos (SOP), quando os níveis de estrogênio caem e aceleram o processo de queda capilar. Além das causas hormonais e genéticas, fatores emocionais e ambientais também influenciam na saúde capilar. Estresse crônico, dietas inadequadas e doenças sistêmicas, como distúrbios da tireoide, podem desencadear ou agravar o problema.
E o impacto vai além da questão estética. Bruna destaca que muitas mulheres enfrentam dificuldades em aceitar o diagnóstico, o que compromete a autoestima e o bem-estar emocional. Culturalmente, o cabelo é visto como um símbolo de feminilidade e beleza, o que faz com que a perda capilar seja vivida com angústia e insegurança. “Muitas pacientes chegam ao consultório após tentarem resolver o problema com métodos caseiros e produtos sem comprovação científica, o que muitas vezes piora o quadro”, comenta a médica.
Os avanços na dermatologia capilar trouxeram novas possibilidades para o tratamento. Segundo Bruna, o uso de exossomos é uma das tecnologias mais promissoras. Os exossomos são vesículas extracelulares que atuam na regeneração dos tecidos, sendo utilizados em terapias combinadas com laser capilar para estimular o crescimento dos fios. Esse tipo de tratamento apresenta resultados superiores em comparação com métodos tradicionais.
Entre os tratamentos mais eficazes estão o uso de medicamentos orais e tópicos, como minoxidil, finasterida, dutasterida e suplementos vitamínicos. Procedimentos clínicos, como o plasma rico em plaquetas (PRP), microagulhamento e mesoterapia (MMP), também são opções eficazes para estimular o crescimento capilar. O tratamento com luz de LED vermelha e o Regenera Hair, que envolve microenxertos capilares, são alternativas que têm mostrado bons resultados em casos mais resistentes.
Em casos de calvície avançada, o transplante capilar é uma solução viável para mulheres. Bruna explica que o procedimento envolve a retirada de fios da parte posterior da cabeça, que são reimplantados nas áreas afetadas pela calvície. O processo requer um acompanhamento cuidadoso no pré e pós-operatório para garantir bons resultados.
A prevenção da calvície feminina, embora não totalmente possível devido à influência genética e hormonal, pode ser facilitada com cuidados diários. Manter uma alimentação equilibrada, rica em nutrientes como ferro, zinco e vitaminas, é essencial para a saúde capilar. Além disso, evitar o uso excessivo de produtos químicos agressivos e cuidar da saúde emocional contribuem para reduzir a queda de cabelo.
A expectativa para os tratamentos é positiva, mas Bruna reforça que o acompanhamento constante é fundamental para manter os resultados a longo prazo. A alopecia feminina não tem cura definitiva, mas é possível controlar o problema com tratamentos personalizados e manutenção regular. “Cada paciente é única, e o tratamento precisa ser adaptado às necessidades específicas de cada caso”, ressalta a dermatologista.
Desmistificar as crenças sobre a calvície feminina também é um ponto importante para a conscientização. A especialista destaca que muitos mitos ainda circulam, como a ideia de que apenas os homens são afetados pela queda de cabelo ou que o uso de gominhas e suplementos milagrosos pode resolver o problema. Ela orienta que buscar ajuda médica especializada é o melhor caminho para um tratamento eficaz.
Para as mulheres que enfrentam a calvície, Bruna deixa um conselho: “Não tenham medo de procurar ajuda. A perda de cabelo é um problema de saúde como qualquer outro e, hoje, existem recursos para lidar com isso. Cuidar dos cabelos é também cuidar da saúde e da autoestima”.