Profissionais da UPA Chácara do Governador denunciam condições precárias
Servidores relatam episódios de agressão, assédio moral e falta de materiais básicos

Funcionários da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Chácara do Governador enfrentam uma série de dificuldades no dia a dia, como a falta de materiais básicos, sobrecarga de trabalho e baixos salários. Diante desse cenário, realizaram uma manifestação na manhã desta quinta-feira (27) para reivindicar melhores condições de trabalho, melhorias na infraestrutura e valorização da categoria.
Os manifestantes afirmam que a precariedade da unidade tem impactado diretamente o atendimento à população, causando demora e comprometendo a qualidade dos serviços. Durante visita da reportagem ao local, foram constatadas salas com tetos mofados, infiltrações, falta de insumos — incluindo abocath adequados para atendimentos pediátricos —, além de cadeiras deterioradas e outros problemas estruturais.
Insegurança e falta de suporte
Trabalhadores da unidade, que preferiram não se identificar, denunciam a falta de segurança e casos de violência dentro da UPA. Segundo uma funcionária, episódios de agressão são frequentes, colocando em risco tanto os profissionais quanto os pacientes.
“Segurança aqui, pelo que eu vejo, não tem. Se acontecer uma briga, ninguém pode fazer nada”, desabafa uma servidora. Ela relata um caso recente em que um paciente em surto chamou o namorado da acompanhante, que acabou agredindo uma profissional. “Até conseguirmos chamar a Guarda Municipal, já é tarde demais. A unidade precisa de segurança, mas não temos esse suporte”, afirma.
Além disso, há relatos de invasões por moradores de rua. Uma funcionária contou que uma colega encontrou um homem deitado em sua cama de descanso. “Quando ela acendeu a luz, ele disse que queria descansar em paz”, relata.
Estrutura precária e falta de insumos
Outro problema grave é a falta de infraestrutura. Segundo os trabalhadores, há pacientes que precisam trazer lençóis de casa por falta de fornecimento na unidade. “Tem gente que fica aqui internada por dez dias, até um mês, e não tem um lençol adequado”, denuncia uma servidora.
A unidade também sofre com infiltrações. “Quando chove, a água desce pelo teto, alaga consultórios e torna o trabalho ainda mais difícil”, relata outra funcionária.
Além da estrutura precária, a UPA opera com um número insuficiente de profissionais. De acordo com os relatos, o ideal seria contar com 10 a 12 técnicos por plantão, mas há turnos em que apenas três ou quatro estão disponíveis. “Não lidamos com máquinas, lidamos com vidas. Se não estivermos em boas condições, podemos cometer erros graves”, alerta uma técnica.
Assédio moral e cobrança excessiva
O clima de trabalho também é motivo de preocupação. Servidores denunciam assédio moral por parte da gestão, especialmente na imposição de escalas extras sem consulta prévia. “Ela chegou no meio do corredor e ordenou que assumíssemos mais uma função, sem perguntar se era possível. Fiquei extremamente mal e precisei ser afastada pelo médico”, conta uma funcionária.
O que diz a Prefeitura?
A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) afirmou que o fornecimento de materiais de limpeza é de responsabilidade da empresa Loc Service, contratada na gestão anterior. Segundo a pasta, a empresa já foi notificada e responde a um processo administrativo por falhas na prestação do serviço.
Sobre os problemas estruturais, a SMS informou que o contrato de manutenção predial está suspenso por determinação do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) devido a suspeitas de irregularidades na contratação. Em caráter emergencial, equipes da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra) foram acionadas para realizar reparos na unidade na última segunda-feira (24).
Além disso, a SMS destacou que recebeu a rede municipal de saúde em estado de calamidade e que foram adquiridos emergencialmente mais de 80 tipos de medicamentos e insumos para mitigar o desabastecimento das unidades. A secretaria também notificou os fornecedores para garantir a entrega imediata dos materiais em falta.
Prefeitura de Goiânia gastará R$ 9 milhões com fiscalização de atestados médicos
A Prefeitura de Goiânia autorizou a contratação do Serviço Social da Indústria (SESI) para a realização de perícias médicas nos servidores municipais, ao custo de R$ 9.006.000,00 por ano. A decisão consta no despacho n.º 1281/2025 da Secretaria Municipal de Administração (Semad), assinado pelo secretário Celso Dellalibera.
O contrato prevê a análise de atestados médicos apresentados pelos profissionais, o que tem gerado críticas dentro do funcionalismo público. Uma servidora, que preferiu não se identificar, vê a medida como uma tentativa de intimidação. “O prefeito anunciou que vai contratar o SESI para fiscalizar nossos atestados, como se estivéssemos inventando doenças”, denunciou. “Isso é mais uma forma de intimidação”, conclui.
A decisão está respaldada no artigo 75, inciso XV, da Lei n.º 14.133/2021, e o processo foi embasado no parecer jurídico n.º 857 da Procuradoria-Geral do Município (PGM). No despacho, Dellalibera determinou o encaminhamento do contrato para a Diretoria Administrativa da Semad, que adotará as providências cabíveis.
A medida acirra os ânimos entre servidores e gestão municipal, em um cenário de crescente desconfiança sobre as condições de trabalho no funcionalismo público de Goiânia.