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quarta-feira, 23 de abril de 2025
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Mulheres em diálogo

Levantamento mostra o que preocupa e mobiliza brasileiras de todas as regiões

Pesquisa nacional revela que, apesar das diferenças ideológicas, mulheres compartilham preocupações centrais como segurança, igualdade salarial e representatividade política

Luana Avelarpor Luana Avelar em 9 de abril de 2025
13 MATERIA CREDITOS FT 1 Divulgacao

Um país com mais de 100 milhões de mulheres não poderia ser representado por uma única voz. Essa multiplicidade de vivências e percepções políticas aparece com força nos resultados da pesquisa Mulheres em Diálogo, realizada pelo Instituto Update em parceria com o Instituto de Pesquisa IDEIA. Ao ouvir 668 brasileiras com 16 anos ou mais, o estudo revela que, mesmo em meio a um cenário ideologicamente fragmentado, há pontos de convergência importantes entre mulheres de diferentes perfis e posicionamentos.

A principal preocupação apontada pelas entrevistadas é a segurança pública: 77% consideram a violência o maior problema enfrentado atualmente no Brasil. Essa percepção é ainda mais acentuada entre mulheres das classes C e D, chegando a 85%, e entre aquelas identificadas com ideologias de direita e centro-direita, onde o número alcança 89%. O medo da violência, segundo o levantamento, atravessa faixas etárias, regiões e posicionamentos políticos, evidenciando um consenso social urgente.

A defesa da igualdade salarial entre homens e mulheres também figura entre os pontos de maior concordância: 94% das entrevistadas acreditam que o pagamento deve ser igual para funções equivalentes, independentemente do gênero. O apoio a essa pauta é especialmente forte entre mulheres jovens, negras, com menor escolaridade e pertencentes às camadas mais vulneráveis da população. Para o Instituto Update, esse dado reforça a urgência de políticas públicas comprometidas com justiça econômica e inclusão no mundo do trabalho.

Outro tema com elevada adesão é a ampliação da presença feminina na política. Segundo a pesquisa, 72% das mulheres concordam totalmente com a necessidade de aumentar a representatividade em cargos eletivos. Além disso, 77% já votaram em uma candidata e 66% afirmam se sentir representadas por mulheres que atuam na vida política institucional. Para a cientista política Camila Rocha e a cientista social Esther Solano, autoras da análise, trata-se de uma pauta capaz de dialogar com diferentes matizes ideológicas, estabelecendo pontes onde tantas vezes só se veem muros.

A pesquisa aponta ainda um forte apoio a medidas voltadas ao bem-estar e à saúde das mulheres. Entre as entrevistadas, 79% defendem a isenção de impostos sobre itens de higiene menstrual, como absorventes e coletores. Já a licença remunerada para mulheres que sofrem com sintomas severos durante o ciclo menstrual é aprovada por 60% das participantes. No entanto, esse ponto suscita preocupações: algumas entrevistadas temem que a adoção da medida possa reforçar desigualdades no acesso ao mercado de trabalho, criando novas barreiras para a contratação feminina.

Apesar desses consensos, o levantamento também evidencia divisões em pautas relacionadas à moral e à religião. O feminismo, por exemplo, divide opiniões: 48% das mulheres se identificam com o movimento, enquanto 43% rejeitam o rótulo. O apoio é mais presente entre jovens, mulheres com maior escolaridade e aquelas de orientação progressista. Em contraste, mulheres mais velhas e conservadoras tendem a rejeitar a identificação com o feminismo.

Outro ponto de divergência é a influência da religião na política. Metade das mulheres (53%) acredita que os valores religiosos devem orientar decisões políticas, ao passo que 43% discordam dessa perspectiva. A aprovação à presença da religião nas decisões de Estado é maior entre mulheres evangélicas e católicas praticantes, enquanto católicas não praticantes e mulheres sem religião se posicionam de forma mais crítica.

Temas como aborto e inclusão de pessoas trans também geram tensões. Apenas 16% das entrevistadas apoiam a descriminalização do aborto. Mesmo entre as que se identificam com a esquerda ou centro-esquerda, a maioria ainda é contrária à legalização. Contudo, um dado chama atenção: 72% das mulheres, independentemente do viés ideológico, são contrárias à prisão de mulheres que realizam abortos fora das condições previstas em lei.

A presença de mulheres trans em banheiros femininos também é um ponto sensível: 57% das entrevistadas demonstraram desconforto com essa situação. A rejeição é mais expressiva entre as identificadas com a direita, mas não se restringe a esse grupo. Segundo o levantamento, há dúvidas e desconfortos sobre o tema inclusive entre mulheres alinhadas à esquerda, indicando a necessidade de maior informação e sensibilização.

O perfil ideológico das entrevistadas reforça o caráter fragmentado do eleitorado feminino: 24% se identificam com a direita, 22% com a esquerda e 16% com o centro. Outras 19% afirmam já ter tido uma posição política, mas não se sentem mais representadas por nenhuma corrente, enquanto 7% nunca se posicionaram. Ainda há 5% que se declaram de centro-esquerda, 4% de centro-direita e 3% que não sabem ou não responderam.

 

 

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