Alta no valor dos pescados preocupa consumidores e desafia comerciantes
Demanda elevada, dólar em alta e piracema explicam os reajustes; Especialistas recomendam pesquisa de preços e atenção à qualidade dos produtos

Com a chegada da Semana Santa, o tradicional aumento no consumo de pescados se repete nos mercados e feiras brasileiras. No entanto, em 2025, esse movimento veio acompanhado de uma alta nos preços, especialmente de itens como tilápia, salmão, corvina e, claro, o bacalhau.
O fenômeno, segundo especialistas e comerciantes, é resultado de uma conjunção de fatores: o aumento da demanda típica do período religioso, a elevação do dólar e os efeitos da piracema — período de reprodução de diversas espécies de peixes que reduz a oferta de pescados frescos.
De acordo com dados da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a procura por pescados sobe até 20% durante a Quaresma e a Páscoa. Esse crescimento impulsiona os preços, especialmente dos produtos mais procurados.
Em mercados como os de Jataí, no interior de Goiás, um levantamento feito em sete estabelecimentos apontou variações que ultrapassam 100%. O bacalhau em pedaços, por exemplo, pode custar entre R$ 110,00 e R$ 238,81 — uma diferença de 117,10%. Já o bacalhau desfiado teve um aumento de 42,77% em relação ao ano passado, com o preço médio saltando de R$ 81,59 para R$ 116,49.
Para o comerciante João Teixeira, dono de uma pescaria com mais de 20 anos de atuação em Goiânia, os desafios de 2025 foram além da expectativa. “O dólar mais alto encarece especialmente os produtos importados que já são caros. Soma isso com a piracema, que diminui nossa pesca local, e a conta chega direto no bolso do cliente”, afirma. Segundo ele, os fornecedores também estão repassando os custos com transporte, conservação e tributação. “A gente tenta segurar o máximo que dá, mas não dá pra trabalhar com prejuízo”, continua.
O cenário inflacionário dos pescados se insere em um contexto mais amplo da cesta pascal. De acordo com um estudo recente do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), embora os preços dos alimentos típicos da Páscoa tenham apresentado uma leve queda média de 6,07% no acumulado dos últimos 12 meses, essa redução ainda não compensa a alta de 21,68% registrada nos últimos três anos — valor bem acima dos 12,47% apurados pelo Índice de Preços ao Consumidor – Mensal (IPC-M). O atum, por exemplo, lidera o ranking de inflação entre os pescados, acumulando alta de 30,61% no mesmo período. Já o bacalhau, tradicionalmente presente nas mesas pascais, alternou variações e acumula alta de 18,79%.
Diante desses números, o consumidor tem se tornado mais cauteloso. A professora aposentada Vera Lúcia, percorreu três mercados antes de fazer as suas compras. “Nem sempre o mais barato é o melhor. Encontrei bacalhau com cheiro estranho e embalagem suspeita. O barato pode sair caro”, alerta.
Com esse cenário de oscilação de preços e qualidade duvidosa, o Procon reforça algumas orientações fundamentais aos consumidores. A principal recomendação é clara: pesquisar os preços antes de comprar. A diferença pode ser significativa.
Em Anápolis, por exemplo, o preço do bacalhau variou entre R$ 60,39 e R$ 169,90 — uma diferença de impressionantes 181%. Além disso, é essencial observar a aparência dos produtos. Peixes frescos devem estar conservados em gelo ou balcões refrigerados, com odor suave, coloração viva e olhos brilhantes. Já os congelados devem permanecer em freezers com temperatura adequada e sem sinais de descongelamento.
Apesar das adversidades, comerciantes e consumidores se esforçam para manter viva a tradição pascal, mas com adaptações. “O cliente mudou. Ele quer economizar, mas não quer abrir mão do peixe na Semana Santa. Então muitos estão levando porções menores ou escolhendo outros tipos de pescado, como sardinha e tilápia, que são nacionais e menos impactados pelo dólar”, completa João Teixeira.
Enquanto isso, o mercado segue em alerta. Os consumidores, cada vez mais atentos e criteriosos, já entenderam que, em tempos de instabilidade, tradição e economia precisam andar lado a lado. A Semana Santa continua sendo sinônimo de fé e união à mesa, mas exige, mais do que nunca, planejamento e pesquisa quanto ao que se leva para casa.