Preço do café sofre aumento de 100,46% na capital em um ano
O motivo do encerramento seria o custo do prédio, que é alugado. Outro fator apontado é a questão estrutural do local

Os consumidores de Goiânia (GO) e Belo Horizonte (MG) estão sentindo no bolso o impacto do aumento expressivo no preço do café moído. De acordo com dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,) o produto teve alta superior a 100% em ambas as capitais nos últimos 12 meses.
Na capital mineira, o café ficou 100,72% mais caro entre março de 2024 e março de 2025. Em Goiânia, o aumento foi de 100,46%, bem acima da média nacional, que ficou em 77,78% no mesmo período.
Segundo o levantamento, apenas em março deste ano, o café moído teve uma alta de 8,14%, sendo um dos itens que mais pressionaram a inflação dentro do grupo Alimentação e Bebidas. Os dados confirmam uma tendência que já vinha sendo observada pelos consumidores e que agora ganha respaldo oficial: tomar aquele cafezinho diário está pesando mais no orçamento familiar.
A disparada nos preços do grão está diretamente ligada a fatores climáticos e ao aumento dos custos de produção, segundo análise do economista Luiz Carlos Ongaratto. “O ano de 2024 foi extremamente ruim no aspecto climático, com temperaturas muito altas e poucas chuvas nas principais regiões produtoras. Em 2025, os meses de fevereiro e março também registraram volumes de chuva muito abaixo da média, o que compromete novamente a próxima safra”, explica.
Com uma oferta reduzida, os preços tendem a continuar elevados. Para Ongaratto, não há expectativa de alívio no curto prazo. “A oferta continuará limitada, e isso tende a manter os valores altos. Uma eventual queda só poderia acontecer se houvesse uma redução significativa da demanda. Um exemplo seria o impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre as exportações brasileiras. Caso o Brasil não consiga redirecionar esse café para outros mercados, poderia haver queda nos preços internos”, avalia.
Além das questões climáticas e comerciais, o economista destaca o aumento expressivo no custo de produção como outro fator relevante. “Quando há uma quebra de safra como em 2024 e 2025, o produtor, que teve custos para formar um cafezal maior e mais produtivo, não tem o retorno esperado. Ou seja, com mais gastos e menor produção, o preço final inevitavelmente sobe.”
Apesar da recente queda nas cotações do café na Bolsa em março e abril, o especialista faz um alerta: “Esses valores ainda estão muito acima do registrado no mesmo período do ano passado. Por isso, é importante que o consumidor fique atento aos preços nas gôndolas.”
Na prática, o aumento já forçou mudanças no comportamento de compra de muitas famílias. É o caso da confeiteira Maria Silva Fernandes Borges, de 55 anos, moradora de Aparecida de Goiânia. Ela conta que precisou trocar de marca e ajustar os hábitos para continuar consumindo a bebida que faz parte da sua rotina.
“Antes eu comprava aquele café de supermercado, mais fininho, tipo moinho fino. Mas tive que mudar. Agora eu pego na feira, porque ele é mais forte, rende mais e dura mais tempo. Uso menos pó para fazer o mesmo tanto de café”, relata. A confeiteira também reduziu o consumo. “Tô usando menos, né? Porque tá caro. E o do supermercado parece que rende menos mesmo”, continua.
Mesmo com as dificuldades, Maria mantém o bom humor e a criatividade. “A gente se vira. Café é essencial aqui em casa, ainda mais pra mim, que sou confeiteira. Mas agora tem que ter mais cuidado pra não desperdiçar nem um grão.”
Outras capitais também registraram aumentos significativos no preço do café moído nos últimos 12 meses. Em Aracaju (SE), o aumento foi de 91,95%; em Vitória (ES), 88,96%; em Curitiba (PR), 87,97%; e em Porto Alegre (RS), 87,65%.
No Rio de Janeiro, a alta foi de 84,93%, enquanto em Brasília chegou a 82,39%, e em Salvador, 81,11%. Mesmo nas capitais com menor variação, como Recife (57,86%) e São Paulo (62,50%), os preços seguem elevados e continuam representando um peso significativo para o consumidor final.
De acordo com o gerente da pesquisa do IBGE, Fernando Gonçalves, o cenário internacional também influencia diretamente no mercado interno. “A inflação do café foi impulsionada pelo aumento do preço no mercado internacional, dada a redução da oferta do grão em escala mundial, com a quebra de safra no Vietnã devido a adversidades climáticas, as quais também prejudicaram a produção interna”, afirma.
Dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) reforçam esse panorama. Em março de 2025, o preço médio do quilo do café torrado e moído no varejo chegou a R$ 64,80. Um ano antes, em março de 2024, esse valor era de R$ 32,90 — ou seja, praticamente dobrou em apenas 12 meses.
Enquanto a expectativa de uma safra abundante ainda parece distante, o brasileiro — famoso por não abrir mão do cafezinho — se vê obrigado a adaptar seu consumo e buscar alternativas para continuar apreciando a bebida, símbolo nacional, sem comprometer o orçamento.