Nova geração de jovens opta por viver sem filhos e rompe padrão tradicional
Cresce o número de mulheres que escolhem não ser mães
Em um país historicamente marcado por fortes expectativas em torno da maternidade, cresce o número de brasileiras que escolhem conscientemente não ter filhos. Essa decisão, antes tratada como tabu, tem ganhado espaço no debate público e nas redes sociais, principalmente entre mulheres jovens, urbanas e com maior escolaridade. A escolha, embora legítima, ainda enfrenta resistência social, que muitas vezes a interpreta como egoísmo, rebeldia ou imaturidade.
Dados do IBGE revelam que, em 2000, cerca de 10% das mulheres brasileiras chegavam aos 50 anos sem filhos. Em 2022, esse número ultrapassou os 18%, um crescimento que reflete não apenas mudanças culturais, mas também fatores econômicos e estruturais. O custo elevado de criar uma criança, aliado à sobrecarga da maternidade e à precariedade das políticas públicas de apoio à mulher, são motivos frequentemente citados por quem decide não seguir o caminho da parentalidade.
Além da questão econômica, muitas mulheres apontam que a maternidade ainda está profundamente associada à ideia de realização feminina, o que gera cobranças desde a juventude. Psicólogos e sociólogos observam que romper com essa expectativa é, para muitas, uma forma de reafirmar a autonomia e o direito de definir os próprios rumos. Ao mesmo tempo, pesquisas como a da ONU Mulheres indicam que a liberdade de escolha reprodutiva é um indicador-chave de desenvolvimento social.
Nas redes sociais, cresce o movimento childfree — termo em inglês para pessoas que optam por não ter filhos. Grupos e influenciadoras compartilham suas motivações e vivências, criando uma rede de apoio que desafia o estigma social ainda presente. Para essas mulheres, o que está em jogo não é rejeição à ideia de família, mas o desejo de construir outras formas de vida plena, com foco na carreira, nos estudos, em relações livres de imposições e em uma vida com mais tempo e autonomia.
Apesar dos avanços no debate, especialistas alertam que essa decisão ainda é mais bem aceita entre mulheres brancas, de classe média e escolarizadas, enquanto mulheres negras e periféricas seguem enfrentando outras pressões sociais, inclusive para não terem filhos. O desafio, segundo estudiosos, é ampliar o direito à escolha para todas, garantindo que a maternidade — ou sua recusa — não seja definida pela expectativa alheia, mas sim por uma decisão consciente, livre e informada.