Exame de saliva promete detectar câncer de próstata em fase inicial
A pesquisa avaliou o DNA de milhares de homens entre 55 e 69 anos para identificar mutações genéticas
Um novo teste de saliva pode representar um importante avanço no diagnóstico precoce do câncer de próstata, segundo estudo conduzido por pesquisadores britânicos. A tecnologia, baseada na análise genética, permite identificar homens com maior predisposição à doença, possibilitando intervenções mais precisas antes que os tumores se tornem agressivos ou avancem silenciosamente.
A pesquisa, publicada recentemente na New England Journal of Medicine, avaliou o DNA de milhares de homens entre 55 e 69 anos para identificar mutações genéticas associadas ao câncer de próstata. Foram observadas 130 variações genéticas ligadas ao risco da doença. Aqueles que apresentaram os 10% mais altos índices de risco foram convidados a realizar exames adicionais, como ressonância magnética e biópsia da próstata.
Os resultados surpreenderam: dos 745 homens com maior pontuação genética, 468 se submeteram aos exames. Entre eles, 187 foram diagnosticados com câncer de próstata, sendo 103 casos considerados de alto risco e que exigiam tratamento imediato. Desses, 74 tumores provavelmente não teriam sido detectados pelos exames convencionais disponíveis atualmente.
Apesar do potencial promissor, os cientistas envolvidos na pesquisa destacam que ainda não há provas de que o teste reduza diretamente a mortalidade ou melhore a qualidade de vida dos pacientes. O teste melhorou a detecção de forma modesta quando combinado a fatores de risco já conhecidos, como idade, PSA e ressonância. O avanço é significativo, mas ainda distante de uma aplicação clínica ampla.
Atualmente, cerca de 12 mil homens morrem anualmente de câncer de próstata no Reino Unido. O debate em torno da necessidade e da frequência de exames preventivos ganhou força recentemente, após o ciclista olímpico Chris Hoy anunciar que enfrenta um câncer de próstata terminal. Desde então, houve aumento na procura por exames preventivos, mesmo entre homens saudáveis.
Porém, o rastreamento sistemático da doença ainda é alvo de controvérsias. O exame de PSA, por exemplo, que mede o antígeno prostático específico no sangue, foi descartado como método de rastreamento de rotina no Reino Unido, sob a justificativa de que pode gerar mais prejuízos que benefícios, como falsos positivos e tratamentos desnecessários.
No Brasil, o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional de Câncer (Inca) também desaconselham o rastreamento indiscriminado. Já a Sociedade Brasileira de Urologia defende a realização periódica de exames, especialmente em grupos de risco.
O novo teste genético busca oferecer um caminho intermediário: ao identificar com mais precisão quem corre maior risco, seria possível evitar exames e tratamentos desnecessários nos casos de baixo risco, ao mesmo tempo em que se antecipam diagnósticos em quadros mais perigosos. No entanto, a pesquisa até agora se concentrou em homens de ascendência europeia, o que levanta questionamentos sobre sua aplicabilidade em populações mais diversas. Estima-se que homens negros, por exemplo, tenham o dobro de risco de desenvolver a doença.
A questão do custo-benefício também permanece em aberto. Os pesquisadores envolvidos alertam que ainda não se sabe qual seria o melhor momento para aplicar o teste nem se os benefícios superariam os custos em um sistema público de saúde.