Um hábito comum entre muitos brasileiros, o de tomar café durante ou logo após as refeições, pode interferir negativamente na absorção de nutrientes essenciais. A advertência é de especialistas em nutrição e saúde digestiva, que apontam a presença de compostos químicos na bebida como os principais responsáveis por esse impacto.

Segundo a Organização Internacional do Café (OIC), o Brasil é o segundo maior consumidor de café no mundo, atrás somente dos Estados Unidos. Embora os especialistas reforcem que os benefícios do café à saúde superam os possíveis prejuízos, alguns efeitos provocados pela cafeína merecem atenção. Ajustar a quantidade e o momento do consumo pode fazer diferença no impacto que a bebida exerce sobre o organismo.

De acordo com estudos científicos, substâncias como cafeína, taninos e polifenóis presentes no café podem dificultar a absorção de minerais como ferro, cálcio e vitaminas do complexo B. O efeito varia de acordo com a concentração do café, a quantidade de nutrientes ingeridos na refeição e características individuais como idade, metabolismo, estado de saúde e predisposição genética.

A preocupação é maior para indivíduos que já apresentam níveis baixos desses nutrientes ou estão em risco de desenvolver deficiências. Desde a década de 1980, pesquisas vêm associando o consumo de café às refeições a uma menor absorção de ferro. O fenômeno ocorre porque os polifenóis do café se ligam aos minerais no trato digestivo, impedindo que sejam absorvidos pelas células intestinais. Como resultado, esses nutrientes são eliminados nas fezes, sem passarem para a corrente sanguínea.

O impacto é especialmente significativo no caso do ferro não heme, tipo de ferro presente em alimentos de origem vegetal, como legumes, folhas verdes e frutas. Esse tipo de ferro, que já é de difícil absorção, sofre ainda mais interferência quando o café é consumido em horários próximos às refeições. O ácido clorogênico, um dos principais polifenóis do café, é apontado como um dos responsáveis por esse bloqueio.

A recomendação de nutricionistas e profissionais da área é que pessoas com anemia ferropriva, causada por deficiência de ferro, evitem o consumo de café junto às refeições. A orientação é fazer um intervalo de pelo menos uma hora antes ou duas horas depois de ingerir alimentos ricos em ferro. Mulheres grávidas ou em fase menstrual, que geralmente demandam maior ingestão de ferro, também devem redobrar a atenção.

Além do ferro, o café pode afetar o metabolismo do cálcio. Estudos indicam que a cafeína pode prejudicar a absorção e a retenção do mineral no organismo, tanto ao interferir na sua absorção intestinal quanto na sua eliminação renal. Uma das pesquisas mais citadas sobre o tema, publicada na revista Osteoporosis International, sugere que o consumo excessivo de cafeína pode estar ligado à perda óssea, embora mais investigações sejam necessárias para comprovar o efeito direto da substância na osteoporose.

Outro ponto de atenção é o efeito diurético da cafeína. O aumento da frequência urinária pode levar à excreção de minerais e vitaminas hidrossolúveis, como as do complexo B, que não são armazenadas pelo corpo e precisam ser constantemente repostas por meio da alimentação.

Segundo especialistas, a ingestão elevada de café, acima de quatro xícaras por dia, pode acentuar essa perda de nutrientes, especialmente se aliada a uma dieta desequilibrada. Com isso, a saúde óssea, o sistema imunológico e o metabolismo energético podem ser prejudicados a longo prazo.

Para quem considera substituir o café por chá, vale o alerta: as infusões também contêm polifenóis que afetam a biodisponibilidade de minerais. Portanto, o momento do consumo também deve ser observado no caso do chá, especialmente para pessoas com restrições nutricionais.

Embora o café ofereça benefícios reconhecidos, como estímulo à concentração e propriedades antioxidantes, seu consumo deve ser equilibrado e estrategicamente distribuído ao longo do dia. Assim, é possível preservar tanto o prazer da bebida quanto a eficácia da nutrição.