Ronnie Lessa é condenado a 90 anos de prisão pela morte de Marielle Franco
Sentença se soma à pena anterior pela morte de Marielle Franco; crimes foram cometidos com fuzis de guerra
O ex-sargento da Polícia Militar, Ronnie Lessa, foi condenado a 90 anos de prisão em regime fechado nesta quinta-feira (22) pelo assassinato de André Henrique da Silva Souza, conhecido como Zóio, e de sua companheira, Juliana Sales Oliveira. A sentença foi proferida pelo 3º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, após um julgamento que durou mais de 18 horas, presidido pela juíza Tula Corrêa de Mello.
O crime ocorreu em junho de 2024, na comunidade Gardênia Azul, localizada na zona oeste do Rio de Janeiro, área marcada por disputas de facções e milícias. Segundo a denúncia do Ministério Público, Ronnie Lessa teria sido contratado pelo ex-vereador Cristiano Girão, que também foi condenado a 45 anos de prisão no mesmo julgamento, por ser o mandante do duplo homicídio.
De acordo com as investigações, André Henrique seria rival de Girão, que comandava a milícia na região da Gardênia Azul. A execução foi realizada em plena luz do dia, em uma área residencial e de intenso comércio. As vítimas foram baleadas dentro do próprio veículo com, no mínimo, 33 disparos efetuados por armas de grosso calibre — fuzis AK-47 e AR-15 — armamentos tipicamente utilizados em cenários de guerra.
Juíza destaca brutalidade e planejamento do crime
Na sentença, a juíza Tula Corrêa de Mello ressaltou a violência extrema do ataque e a capacidade lesiva de Ronnie Lessa. “Ressalte-se a alta capacidade lesiva do autor do delito. Foram feitos ao menos 33 disparos de fuzis AK-47 e AR-15, comumente reconhecidos como armamentos utilizados em guerras mundiais”, afirmou a magistrada.
A decisão judicial também evidenciou a premeditação do crime. Conforme exposto na sentença, Lessa realizou um planejamento minucioso antes da execução, estudando o local com antecedência e escolhendo o horário que considerava mais propício. “O acusado Ronnie revela o planejamento detalhado e minucioso do crime, com técnicas para montar o carro ideal, se armar e se dirigir ao local do crime somente após estudar o lugar em todas as minúcias, inclusive escolha do melhor horário”, destacou a juíza.
A violência do ataque foi descrita como “desproporcional” e uma afronta direta ao Estado do Rio de Janeiro, conforme apontou a magistrada: “Afronta direta ao estado do Rio de Janeiro organizações criminosas terem em sua posse armas de grosso calibre, utilizadas em contexto de guerras como da Ucrânia e Rússia, utilizando-as para o cometimento de intuitos criminosos”.
Ainda segundo a decisão, a quantidade e a potência dos tiros foram tão intensas que os corpos ficaram desfigurados, dificultando o reconhecimento pelas famílias e impossibilitando a realização de um velório adequado.
Ronnie Lessa já cumpre pena pela morte de Marielle Franco
Antes desta nova condenação, Ronnie Lessa já havia sido sentenciado a mais de 78 anos de prisão pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ocorrido em março de 2018. O crime, que ganhou repercussão internacional, teve como coautor o também ex-policial militar Élcio de Queiroz, condenado a 59 anos de prisão por dirigir o veículo usado no ataque.

As penas aplicadas a Lessa e Queiroz referem-se a duplo homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio contra Fernanda Chaves, assessora de Marielle que sobreviveu ao atentado, além da receptação do carro utilizado no crime. A condenação foi determinada pelo 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, em outubro de 2024.
Atualmente, Ronnie Lessa cumpre pena no Presídio de Tremembé, em São Paulo. Já Cristiano Girão, que foi condenado a 45 anos de prisão por ter mandado matar André Henrique e Juliana, está detido no Complexo Penitenciário de Gericinó, também conhecido como Bangu, localizado na zona oeste do Rio de Janeiro.
As investigações sobre o assassinato de Marielle Franco apontam ainda os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão como supostos mandantes do crime; ambos são réus no Supremo Tribunal Federal (STF). O delegado Rivaldo Barbosa, à época chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, foi acusado de ter atuado para impedir a elucidação do caso.
De acordo com o portal Terra, as informações são do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e de decisão judicial.