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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Saúde

Goiás tem mais de 75 mil pessoas diagnosticadas com autismo

Cezarina, Aragoiânia e Aurilândia lideram os maiores percentuais do Estado, segundo dados inéditos do Censo 2022

Renata Ferrazpor Renata Ferraz em 27 de maio de 2025
Goiás
Foto: Freepik

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) atingiu pelo menos 75.040 pessoas em Goiás, segundo dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a primeira vez que o levantamento nacional traz informações sobre a condição neurológica, o que revela que 1,1% da população goiana possui diagnóstico confirmado. 

O dado chama a atenção principalmente pelo destaque de três cidades do interior com altos índices de autismo: Cezarina (3%), Aragoiânia (2,2%) e Aurilândia (2,1%). Todas com menos de 12 mil habitantes e apresentam percentuais muito superiores à média estadual e nacional.

A inclusão da pergunta sobre autismo no questionário da amostra do Censo permitiu um mapeamento inédito do transtorno no país. No caso do Estado, as informações detalhadas revelam não apenas a prevalência do TEA por faixa etária e gênero, mas também mostram um fenômeno incomum: enquanto a maior parte dos diagnósticos costuma ocorrer na infância, Cezarina aparece com concentração significativa em adultos entre 55 e 59 anos, grupo no qual 7,4% da população é autista, segundo o IBGE.

Cidades pequenas e números altos

Como já mencionado sobre os altos índices da cidade de Cezarina, informação como o número de habitantes deixa esses dados cada vez mais interessantes.  O município conta com um pouco mais de 8 mil habitantes, a taxa de diagnósticos é a maior de todo o estado de Goiás. 

Localizada a cerca de 72 km de Goiânia, o município integra a Região Metropolitana da capital e tem registrado avanços em políticas de saúde mental nos últimos anos. A proporção atípica de diagnósticos em adultos pode estar ligada a uma busca tardia por respostas para dificuldades enfrentadas ao longo da vida.

Já Aragoiânia, com população de 11.890 habitantes, também pertence à Região Metropolitana e está a apenas 42 km da capital. O município tem investido na qualificação de equipes da saúde básica e conta com encaminhamentos regulares para serviços especializados em Goiânia. Esse acesso facilitado pode explicar parte do aumento dos diagnósticos nos últimos anos.

Aurilândia, por sua vez, é a menor entre as três cidades — com 3.284 moradores — e está situada no interior do estado. Apesar do tamanho reduzido, o município registra uma das maiores incidências do estado. A concentração de diagnósticos pode estar relacionada a iniciativas comunitárias locais e à atuação de associações de apoio a famílias atípicas.

Apesar das tentativas de associar os dados a políticas públicas locais, a psicóloga Juliana Moura, especialista em atendimentos de crianças com TEA, acredita que a alta incidência em determinadas cidades pode ser apenas coincidência. “Não há justificativa científica para a concentração do autismo em um município específico. O autismo tem origem neurogenética e se manifesta de formas diversas. Não dá para afirmar que está mais presente em uma cidade do que em outra. Pode haver mais diagnósticos nos Estados Unidos que no Brasil, por exemplo, mas isso não significa maior incidência real. Acredito que seja apenas uma coincidência estatística”, avalia.

Juliana ainda ressalta, no entanto, a carência de políticas públicas efetivas para o autismo no Brasil. “Faltam centros especializados que ofereçam o tratamento adequado. A ciência ABA (Análise do Comportamento Aplicada) é a abordagem mais indicada no mundo todo, mas infelizmente poucos profissionais são realmente capacitados. Todos os terapeutas, independentemente da especialização — fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos — deveriam dominar a ABA, pois ela é comprovadamente eficaz para o tratamento do TEA”, destaca.

Em Goiás, a maior concentração de casos está entre crianças de 5 a 9 anos, com 2% da população nessa faixa etária diagnosticada com autismo. O Estado também reflete a média nacional em relação ao gênero: os homens são maioria entre os autistas — 45.315 dos diagnosticados, contra 29.725 mulheres.

A desigualdade educacional ainda é um desafio: 35% das pessoas com TEA em Goiás não concluíram o ensino fundamental, e apenas 32% terminaram o ensino médio. Esse dado levanta um alerta sobre a necessidade de políticas públicas que ampliem o acesso à educação e à formação profissional, especialmente nos municípios do interior.

Censo revela 2,4 milhões de autistas, mas especialista aponta subnotificação

No cenário nacional, o Censo 2022 revela que o Brasil tem 2,4 milhões de pessoas com TEA, o equivalente a 1,2% da população. A maior parte é composta por homens (1,4 milhão) e a faixa etária mais diagnosticada está entre 5 e 9 anos, onde 2,6% das crianças vivem com o transtorno.

Entre as regiões, o Centro-Oeste aparece com a menor proporção (1,1%), enquanto as demais ficam em torno de 1,2%. O total de pessoas com TEA na região é de cerca de 180 mil. Goiânia, registra 17.467 autistas, o que representa 1,2% da sua população.

Apesar do avanço nos diagnósticos, especialistas alertam que os números ainda podem estar subestimados, especialmente em regiões com menor estrutura de saúde pública ou baixa presença de profissionais capacitados para identificar o transtorno.

TEA pode afetar comportamentos e comunicação 

O TEA é uma condição neurológica que afeta o comportamento, a comunicação e as habilidades sociais do indivíduo. As causas do transtorno ainda não são totalmente conhecidas, mas a ciência já aponta para uma combinação de fatores genéticos e ambientais.

Estudos indicam que mutações genéticas espontâneas, herança familiar, exposição a toxinas, infecções durante a gestação e complicações obstétricas podem contribuir para o aparecimento do transtorno. Acredita-se que fatores ambientais e genéticos tenham peso semelhante no risco de desenvolvimento da condição.

Os primeiros sinais do autismo podem surgir nos primeiros meses de vida, sendo mais evidentes a partir de 1 ano. Entre os principais sintomas estão: dificuldade de interação social, comportamentos repetitivos, hipersensibilidade sensorial e atraso na fala ou linguagem.

O diagnóstico é clínico e envolve entrevistas com os pais, observação do comportamento da criança e aplicação de escalas específicas, como o M-CHAT. Em geral, o TEA pode ser detectado a partir dos 18 meses, embora alguns casos só sejam percebidos mais tarde — especialmente os considerados leves.

“Em muitos casos, os sinais são confundidos com timidez ou excentricidade. Isso pode atrasar o diagnóstico e comprometer intervenções precoces, que são fundamentais para o desenvolvimento da criança”, comenta a psicóloga.

O autismo não tem cura, mas pode ser manejado com acompanhamento multidisciplinar, que inclui psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, pediatras e psiquiatras. O tratamento deve ser individualizado e adaptado à intensidade do transtorno e às necessidades da pessoa.

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