A cidade de Trindade (GO) receberá no sábado (1º) um visitante incomum: um sino de 55 toneladas, fabricado na Polônia, que será instalado na nova Basílica do Divino Pai Eterno. Batizado de Vox Patris — expressão em latim que significa “Voz do Pai” —, o equipamento é considerado o maior sino em funcionamento do mundo e integra um conjunto litúrgico que inclui outras duas peças menores, São João e São Lucas, já presentes na cidade.

O sino principal começou a cruzar o Brasil no dia 11 de abril, quando deixou o porto de Gdansk, no norte da Polônia. Após passar por Hamburgo, na Alemanha, chegou ao Porto de Santos (SP) em 17 de maio. Desde então, tem percorrido o país por rodovias interestaduais. A rota incluiu paradas em cidades como Pouso Alegre, Formiga, Carmo da Cachoeira e Lagoa Grande, em Minas Gerais. Nesta semana, ele chega a Luziânia (29), depois segue para Goiânia (30) e Trindade (1º/6). A recepção terá uma carreata pela GO-060, com saída às 13h30 do Trevo do Padre Pelágio.

Com mais de quatro metros de altura, o Vox Patris é o único sino de seu porte projetado para tocar regularmente. Técnicos estimam que o som pode ser ouvido em um raio de até 10 quilômetros em dias silenciosos. A peça, feita de bronze, recebeu gravações em alto-relevo que narram passagens da história da devoção ao Divino Pai Eterno em Goiás, como o encontro do medalhão milagroso, a construção da primeira capela e o surgimento da romaria.

O artista brasileiro Silvio Morais é o autor das gravuras. A fundição foi concluída em 2017, mas a estrutura de sustentação só ficou pronta em 2023. O projeto custou R$ 17 milhões, segundo a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), que coordena a construção da nova basílica.

Antes da chegada do Vox Patris, dois outros sinos chegaram a Trindade e foram recebidos com cerimônia pública na última segunda-feira (26). São João e São Lucas, também fabricados na Polônia, pesam 9,6 e 5,6 toneladas, respectivamente. Ambos trazem gravuras com os símbolos dos evangelistas — a águia, no caso de João, e o boi, para Lucas. As peças exibem inscrições em latim como Sanctus Ioannis, Sanctus Lucas e “Urbs: Trinitas-Goyaz-Brasilia, anno domini 2017”.

Os sinos foram levados até o pátio da basílica atual em procissão que partiu da Avenida Manoel Monteiro, no centro da cidade, e reuniu centenas de pessoas. Depois da celebração, seguiram para o canteiro de obras da nova basílica, onde aguardarão a instalação definitiva.

Segundo o reitor da Basílica, padre Marco Aurélio Martins, o novo templo contará com um campanário de 127 metros de altura. A torre abrigará 73 sinos, cada um com afinação própria, para execução de hinos e músicas religiosas durante a Romaria do Divino Pai Eterno.

A instalação dos sinos deve começar em 2 de junho, quando o Vox Patris será posicionado em sua base. Os três primeiros integram um conjunto maior que será montado nos próximos anos. A estreia oficial está prevista para a Romaria deste ano, que começa em julho. O evento atrai milhões de fiéis anualmente e é considerado uma das maiores celebrações religiosas do país.

A operação logística para transportar os sinos envolveu caminhões especiais, escoltas e autorização de órgãos estaduais de trânsito. Em diversas cidades, fiéis se mobilizaram para recepcioná-los com faixas, orações e atos simbólicos. Vídeos da travessia foram publicados diariamente nas redes sociais da Afipe.

Trindade investe na construção da nova basílica desde 2012. O templo atual, embora mantenha importância histórica e religiosa, já não comporta o número de devotos que participam anualmente da romaria. A expectativa da Afipe é concluir a nova estrutura até 2026. Quando pronta, a basílica abrigará até 15 mil pessoas em seu interior.

Os sinos fazem parte da arquitetura simbólica do projeto. Além da função cerimonial, representam uma tentativa de reforçar o caráter monumental da nova basílica. Em um cenário em que os estímulos sonoros se multiplicam por telas e notificações, o toque dos sinos busca recuperar a ancestralidade do som como elemento de fé. O objetivo, segundo a organização, é marcar o tempo, convocar para o sagrado e reafirmar Trindade como referência católica nacional.