Rio Meia Ponte entra em nível de atenção e acende alerta hídrico no Estado
Após 25 dias sem chuva, manancial que abastece Goiânia tem vazão abaixo do limite de segurança e preocupa autoridades ambientais
O Rio Meia Ponte, principal manancial de abastecimento de Goiânia e parte da Região Metropolitana, entrou novamente em nível de atenção devido à queda da vazão, consequência da estiagem que atinge Goiás. Segundo o Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), a vazão do rio caiu para 11.155 litros por segundo no dia 20 de maio, ficando abaixo dos 12 mil litros por segundo que caracterizam o limite do nível de atenção. A situação acende um alerta, embora ainda não tenha atingido os níveis mais críticos registrados em outros períodos.
A falta de chuvas, que já durava 18 dias no momento da medição, atualmente já são 25 dias, é a principal causa do quadro atual. Essa não é a primeira vez que o Meia Ponte enfrenta esse tipo de problema. Em setembro de 2024, o rio entrou no chamado nível crítico 3, após 135 dias sem precipitações significativas.
Na ocasião, a vazão chegou a menos de 3 mil litros por segundo, o que obrigou o governo de Goiás a reduzir em até 50% a captação de água para usos industriais e agropecuários, conforme estabelecido pela deliberação nº 21/2022 do Comitê de Bacia Hidrográfica do Meia Ponte.
Durante aquele período, a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) mobilizou 16 equipes que fiscalizaram 83 pontos de captação no Alto Meia Ponte. A ação visava garantir que os usuários respeitassem as restrições impostas, além de promover conscientização sobre o uso racional da água. Proprietários de barragens também foram acionados para realizar liberações controladas de água, com o objetivo de manter o abastecimento da população.
De acordo com a Semad, o rio é monitorado por uma escala de seis níveis de segurança de vazão. O nível de atenção, atualmente em vigor, é o primeiro estágio de alerta. Se não houver recuperação hídrica, o quadro pode evoluir para os níveis de alerta e, posteriormente, críticos, que impõem restrições cada vez mais severas.
Seca em Goiás: um problema generalizado
O quadro atual do Meia Ponte reflete um problema maior que afeta todo o Estado. Dados recentes da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) apontam que Goiás continua entre os Estados mais afetados pela seca no país em 2025. Segundo o Monitor de Secas, aproximadamente 96% do território goiano enfrenta algum grau de estiagem. Apesar de uma leve melhora na severidade da seca entre março e abril, quando a área sob seca moderada caiu de 75% para 69%, o cenário ainda é preocupante.
A estiagem prolongada tem impactos diretos não só no abastecimento urbano, mas também na agricultura. Lavouras de soja e milho registram riscos de quebra de safra, especialmente nas regiões mais afetadas. Esse contexto, segundo especialistas, exige planejamento, medidas preventivas e investimentos contínuos em infraestrutura hídrica e tecnologias de uso racional da água.
O panorama não é isolado de Goiás. Em nível nacional, a seca afetou mais da metade do território brasileiro em abril deste ano, o Nordeste segue como a região mais impactada. Por outro lado, Goiás esteve entre os sete estados que registraram abrandamento do fenômeno no último mês, embora isso não tenha sido suficiente para reverter o quadro do Meia Ponte.
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O jornal O Hoje já havia noticiado situações semelhantes. Em setembro do ano passado, o manancial chegou a um dos momentos mais críticos dos últimos anos, provocando impactos diretos sobre a indústria, o setor agropecuário e levando a discussões sobre a necessidade de repensar o modelo de gestão dos recursos hídricos em Goiás.
Diante do atual cenário, tanto a Semad quanto a Saneago mantêm o monitoramento constante da bacia, acompanhando diariamente a vazão do rio e os dados meteorológicos. Segundo os órgãos, ainda não há necessidade de adotar medidas restritivas severas, mas caso a estiagem persista, não está descartada a possibilidade de aplicar novamente restrições à captação para setores econômicos, como ocorreu no ano passado.
O Meia Ponte, que abastece mais de 1,5 milhão de pessoas na Região Metropolitana de Goiânia, segue como termômetro dos efeitos da seca no Estado. Se a situação já exige atenção agora, o alerta é ainda maior considerando que Goiás está apenas no início do período de estiagem, que costuma se estender até setembro. (Especial para O Hoje)