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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
Saúde Pública

Com 13,1% da população adulta fumante, Goiás supera média nacional

Mesmo com queda nacional no tabagismo, Estado mantém alta prevalência entre homens e trabalhadores com menor escolaridade

Renata Ferrazpor Renata Ferraz em 30 de maio de 2025
Fumantes
Foto: Freepik

“Comecei a fumar com 16 anos porque meu irmão mais velho é fumante. Eu achava legal, queria ser igual a ele. Até hoje eu fumo, além de beber muito café antes e depois do cigarro. Já tentei parar, mas não consigo, aí desisti. Não sei se vou parar um dia.” O relato é de Elias Batista, trabalhador rural de 45 anos, morador do interior de Goiás. 

Elias é um dos milhares de goianos que convivem com a dependência da nicotina, considerada uma das drogas lícitas mais viciantes do mundo. Seu caso ilustra os desafios enfrentados por fumantes que desejam abandonar o cigarro, mas não encontram caminhos fáceis.

O tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma epidemia global. Por isso, desde 1987, o dia 31 de maio foi instituído como o Dia Mundial Sem Tabaco, data que busca alertar para os riscos do fumo e os impactos sociais, econômicos e ambientais causados pela indústria do tabaco. 

Goiás supera a média nacional de fumantes

Segundo o levantamento mais recente do Vigitel Goiás realizado em 2023, 13,1% dos adultos com 18 anos ou mais são fumantes, taxa superior à média nacional, que é de 9,3%. A prevalência é maior entre os homens (15,5%) do que entre as mulheres (10,7%). 

Em números absolutos, são centenas de milhares de goianos expostos diariamente aos malefícios do cigarro convencional, cigarrilhas, palheiros e, mais recentemente, dispositivos eletrônicos para fumar.

A região Sudoeste do estado concentra os maiores índices de tabagismo: 21,1% dos homens e 11,4% das mulheres admitem fumar regularmente. A pesquisa também mostra que quanto menor a escolaridade, maior a chance de se tornar fumante: entre quem tem até 8 anos de estudo, a prevalência chega a 19,4%, contra 7,2% entre aqueles com 12 anos ou mais de escolaridade.

A exposição ao fumo passivo também preocupa. Em Goiás, 7,8% da população adulta está exposta ao cigarro dentro de casa. Entre as mulheres da região Sudoeste, o índice salta para 12,6%. O fumo passivo pode causar doenças respiratórias, infarto e câncer até em quem nunca fumou um cigarro na vida.

A pneumologista Leticia Ferreira Neves Arantes, explica que o tabagismo é reconhecido como uma doença. “É classificado como uma doença pertencente ao grupo dos transtornos mentais, comportamentais ou do neurodesenvolvimento, devido ao uso de substâncias psicoativas”, afirma a médica.

Tabagismo ainda mata milhares no Brasil

Embora o Brasil tenha avançado na redução do número de fumantes nos últimos 30 anos, o tabagismo ainda representa um grave problema de saúde pública. Ainda segundo o levantamento, mais de 19,6 milhões de brasileiros são fumantes ativos — sendo 11,7% dos homens e 7,2% das mulheres.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o cigarro está relacionado a cerca de 50 doenças, incluindo diversos tipos de câncer, doenças cardíacas, respiratórias, Acidente Cerebral Vascular (AVC) e diabetes tipo 2. Todos os anos, cerca de 174 mil brasileiros morrem por causas atribuíveis ao tabagismo. Isso representa 13% de todas as mortes do País. O fumo passivo, por si só, é responsável por aproximadamente 20 mil óbitos anuais.

O Inca também alerta que os fumantes vivem, em média, dez anos a menos do que os não fumantes. E os riscos são proporcionais à quantidade e ao tempo de uso. Mesmo quem fuma menos de cinco cigarros por dia têm risco aumentado de doenças cardiovasculares.

Brasil gasta R$ 153,5 bilhões ao ano com danos do tabagismo

No fim de maio, o Inca e o Ministério da Saúde divulgaram um estudo intitulado “A Conta que a Indústria do Tabaco Não Conta”, que revela os custos econômicos do tabagismo para o País. O Brasil perde cerca de R$ 153,5 bilhões por ano com os efeitos do tabaco — valor que equivale a 1,55% do Produto Interno Bruto (PIB). 

Desse total, R$ 67,2 bilhões são gastos com tratamento de doenças diretamente ligadas ao cigarro. Outros R$ 86,3 bilhões referem-se à perda de produtividade por afastamentos, aposentadorias precoces e mortes.

Para efeito de comparação, o setor do tabaco arrecadou apenas R$ 8 bilhões em impostos federais em 2022, ou seja, menos de 6% do prejuízo total causado à sociedade. O estudo também desmente o argumento da geração de empregos, já que o número de pessoas envolvidas no cultivo e processamento do tabaco vem diminuindo ano após ano.

A pneumologista ressalta que, mesmo com o avanço da informação e do acesso à saúde, os números ainda são alarmantes. “Apesar de toda a informação já disseminada sobre as consequências desse vício, ainda temos 1,25 bilhão de adultos usuários de tabaco no mundo. O tabaco é considerado a maior causa evitável de adoecimento e mortes precoces em todo o planeta, matando mais de 8 milhões de pessoas por ano, segundo a OMS”, diz.

Além do impacto à saúde individual, o tabagismo representa um grande desafio coletivo. “É um grave problema de saúde pública, gerando altos custos financeiros com o tratamento das doenças associadas ao seu uso”, pontua a especialista.

Como o caso de Elias, que é  fumante há quase três décadas, ele estima gastar cerca de R$ 120 por mês com cigarros tipo “cavalinho”, de menor custo, porém com maior concentração de nicotina e alcatrão.

Ainda entre os danos provocados, Leticia destaca que o cigarro está diretamente ligado a vários tipos de câncer e doenças do coração e dos pulmões. “É o principal fator de risco para o desenvolvimento de cânceres em diversos órgãos, doenças pulmonares crônicas e progressivas, além de aumentar significativamente o risco de doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral”, alerta.

Tratamento gratuito pelo SUS

Parar de fumar é possível, e o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito em todo o Brasil. Em Goiás, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) promovem grupos de apoio, consultas médicas, atendimento psicológico e fornecimento de medicamentos, como adesivos de nicotina, goma de mascar e bupropiona — utilizados para reduzir os sintomas da abstinência.

A recomendação é que os fumantes procure a UBS mais próxima para avaliação. O tratamento tem duração média de três meses e apresenta bons resultados, especialmente quando há motivação pessoal.

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