46,8% das infrações no 1º trimestre em Goiás são por excesso de velocidade
Quase metade das infrações registradas no Estado no primeiro trimestre de 2025 foi motivada por motoristas que dirigiam acima do limite permitido nas rodovias
A imprudência ao volante voltou a chamar a atenção em Goiás. Segundo levantamento da fintech Zapay, especializada na gestão de débitos veiculares, 46,8% das infrações de trânsito registradas no Estado entre janeiro e março de 2025 foram motivadas por excesso de velocidade, especificamente por motoristas que trafegavam até 20% acima do limite permitido.
Apesar de outras infrações também estarem presentes nas estatísticas, como veículos não licenciados (2,87%), avanço de sinal vermelho (2,82%), condução sem habilitação (2,60%) e desuso do cinto de segurança (2,45%), é a velocidade que segue como o fator mais preocupante. E o motivo vai além do número de multas: trata-se de uma das principais causas de acidentes fatais nas rodovias brasileiras, segundo a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran).
Em Goiânia, um exemplo trágico recente reforça esse cenário. No dia 9 de maio, um homem em situação de rua foi atropelado e morto por um Audi em alta velocidade, na Avenida Jamel Cecílio, no Jardim Goiás. A investigação da Delegacia de Crimes de Trânsito (Dict) revelou que o veículo participava de um racha com um Porsche no momento do acidente.
Para o especialista em mobilidade urbana Marcos Rothen, esse crescimento das autuações por velocidade é também consequência de falhas na fiscalização e na infraestrutura das vias. “Houve um período em que os radares em Goiânia não estavam funcionando. Isso implica em duas coisas: a primeira é que, durante um tempo, os motoristas não foram multados, o que diminui o número de autuações e cria uma sensação de impunidade. Quando os radares voltaram a operar, os condutores já haviam se acostumado a desrespeitar os limites de velocidade”, explica.
Infraestrutura deficiente e fiscalização ineficaz agravam o problema
Rothen destaca ainda que a gravidade dos acidentes não cresce de forma proporcional ao aumento da velocidade. “De 50 km/h para 60 km/h, por exemplo, o aumento da velocidade é de 20%, mas a gravidade do impacto cresce bem mais que isso. É uma curva logarítmica, ou seja, não linear”, alerta.
A presença de radares, embora importante, é vista como limitada. “Grande parte dos motoristas já sabe onde estão os equipamentos. O preocupante é que, mesmo com esse conhecimento, o número de multas continua elevado, o que mostra que muitos condutores não se importam com as penalidades”, aponta. Ele ainda ressalta que na capital, é raro encontrar motoristas com a carteira de habilitação suspensa, o que pode indicar falhas nos processos de punição a quem ultrapassa os 40 pontos permitidos.
Além da fiscalização, a própria geometria das vias é colocada em xeque. Marcos afirma que muitas avenidas de Goiânia incentivam o excesso de velocidade. “Na Avenida Araguaia, por exemplo, o motorista precisa frear constantemente para não ultrapassar o limite de 40 km/h. Já na Avenida Paranaíba e na Avenida Tocantins, seria fundamental implantar canteiros centrais, tanto para reduzir a velocidade quanto para aumentar a segurança dos pedestres”, sugere.
Outro ponto crucial mencionado pelo especialista é a sinalização. “É necessária uma sinalização horizontal intensa, com faixas transversais que chamem a atenção do condutor. Isso pode alertar o motorista e induzi-lo a reduzir a velocidade.”
Rothen também critica o descuido urbanístico na construção de algumas vias da capital. “Muitas avenidas são implantadas sem os devidos cuidados, sem calçadas e sem canteiros, o que facilita o comportamento dos ‘rachadores’. Além disso, em Goiânia não há um canal eficiente para que a população denuncie essas situações à fiscalização, o que enfraquece o papel da sociedade no combate às infrações.”
A combinação entre sensação de impunidade, infraestrutura urbana mal planejada e fiscalização falha resulta em um cenário onde o risco de acidentes graves se multiplica. Enquanto isso, os números seguem crescendo e a segurança no trânsito, comprometida.
Goiânia voltou a multar motoristas com rigor. Após quase um ano sem fiscalização eletrônica, a capital goiana reativou seus radares e lombadas eletrônicas. Segundo dados oficiais da Secretaria Municipal de Mobilidade (SET), 9.693 infrações foram registradas apenas por radares fixos e lombadas eletrônicas desde o início de abril até o dia 26 de maio.
Esse total inclui não apenas os registros dos dispositivos eletrônicos, mas também as autuações realizadas por agentes de trânsito e radares móveis. Os dados escancaram uma nova fase no controle do tráfego na capital, mais rígida, monitorada e controversa.