O Bosque dos Buritis, localizado no Setor Oeste, tem se tornado um espaço cada vez mais perigoso e inadequado para o uso da população. O que antes era um cartão-postal da cidade, hoje é motivo de medo e indignação para os moradores.

A reportagem do jornal O Hoje visitou o local na tarde desta segunda-feira (2) e constatou situações preocupantes. Enquanto a equipe caminhava pelo parque, foi possível observar homens entrando em uma trilha onde ocorriam encontros íntimos entre pessoas do mesmo sexo. De longe, a equipe acompanhou discretamente a movimentação: vários indivíduos entraram e saíram do local. Em um dos pontos, foram encontradas roupas e preservativos espalhados pelo bosque.

Com 35 anos de vivência na região, um morador que preferiu não se identificar relata que o Bosque dos Buritis tem se tornado um ambiente hostil para a população. Segundo ele, os episódios de roubo, consumo de drogas e atentado ao pudor são constantes, e ocorrem até mesmo durante o dia. “Roubo aqui é direto, assalto é direto. Já virou rotina. E o pior é que, quando acontece alguma coisa, ninguém se assusta mais. Já ficou comum”, disse.

De acordo com o morador, a falta de vigilância efetiva agrava a situação. “A Guarda até aparece, mas não inibe muita coisa. Tem muito mato isolado. E a movimentação ali nos meios e nos matos, principalmente de homens, é constante. Isso aí é comum.”

Ele aponta ainda um cenário de vulnerabilidade: “O problema é que o homossexual ou o usuário de droga acaba virando vítima fácil. Já teve caso de cara enrolado em plástico, babando, ferido. O bandido engana, leva pro mato e assalta.”

Outra preocupação recorrente é a presença de crianças no parque, que convivem com cenas inadequadas. “Infelizmente, aqui tem muito atentado ao pudor. E o que mais assusta é acontecer isso tudo à luz do dia. Muita família de bem deixou de vir aqui.”

Apesar das dificuldades, ele elogia a postura do gerente atual do parque. “Esse aí é linha dura. Já mandou embora morador de rua que queria acampar no mato. Compra briga mesmo. Fecha banheiro, recolhe mala, roupa, o que achar. Porque se não fosse ele, isso aqui já estava dominado.”

O morador ainda reforça que muitos evitam denunciar por medo de retaliação. “Já me chamaram de cagueta. Fico quieto porque, se algo acontecer comigo, quem vai me defender? A polícia vem, prende, mas o cara volta. E se eu tiver que me defender e reagir, quem vai preso sou eu.”

Ele conclui com um alerta: “A gente avisa, fala pra não entrar na mata. Quem entra, corre risco. É triste, porque o parque era bonito, era pra ser um lugar de paz”.

Fiscalizações revelam abandono e uso indevido do Bosque dos Buritis

A mais recente operação da Guarda Civil Metropolitana (GCM) ocorreu no segundo semestre de 2023 e resultou na condução de dois homens, de 25 e 34 anos, flagrados mantendo relações sexuais em plena luz do dia.

Ao serem abordados pelos agentes, os suspeitos teriam afirmado estar “dando uns pegas”. Ambos assinaram Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e foram liberados, mas vão responder pelo crime de ato obsceno, conforme o artigo 233 do Código Penal Brasileiro. A ação fez parte de uma série de fiscalizações pontuais que a Guarda vem realizando para coibir comportamentos inadequados dentro do parque.

Além do trabalho da GCM, a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) também passou a atuar no local com ações de limpeza e educação ambiental. Em uma dessas operações, foram recolhidos mais de 3 mil preservativos e embalagens de camisinhas descartadas de forma irregular, principalmente nas áreas de mata. A Amma também ampliou o número de lixeiras, realizou panfletagens e mobilizou mutirões para higienizar os trechos mais críticos do bosque.

O Bosque dos Buritis é a unidade de conservação mais antiga de Goiânia, com origem ainda na concepção urbanística da capital, nos anos 1930. O parque, que abriga museus, fontes, espelhos d’água e uma vasta fauna silvestre, já foi considerado um dos principais cartões-postais da cidade. Hoje, enfrenta um cenário de insegurança e abandono.

No Bosque dos Buritis, a sensação é de abandono. A comunidade já não acredita em promessas e cobra ações concretas. É urgente que o poder público assuma seu papel, com patrulhamentos constantes, reforço na segurança e iniciativas sociais e estruturais que resgatem o espaço para a população. Nossa reportagem entrou em contato com os órgãos responsáveis, mas não obteve retorno. O espaço permanece aberto para esclarecimentos.