Como o advogado goiano Victor Vilarinho transformou sua carreira com conteúdo digital
Em episódio do podcast Mandavê, ele narrou sua trajetória marcada por incertezas, crise profissional e a reinvenção como influenciador jurídico no Instagram, onde hoje acumula mais de 30 mil seguidores
Na última segunda-feira (2), o advogado goiano Victor Hugo Vilarinho foi o convidado do podcast Mandavê, apresentado por Juan Allaesse, e compartilhou sua trajetória profissional marcada por dúvidas, inseguranças e, sobretudo, pela reinvenção. De um estudante indeciso de Direito a influenciador jurídico com mais de 30 mil seguidores no Instagram, sua história ilustra o impacto das redes sociais na prática da advocacia contemporânea.
“Eu costumo dizer que o estudante de Direito é 20% quem quis e 80% quem não sabia o que queria — e eu sou esse 80%”, resumiu Vilarinho logo no início do episódio. Ele revelou que sua primeira escolha profissional foi odontologia, mas acabou optando pelo Direito após a sugestão do pai, que via na carreira “muitas portas abertas”. Assim, ingressou na faculdade, onde o percurso foi, segundo ele, “arrastado”.
No quinto período, contudo, germinou o desejo de atuar na defesa de outras pessoas. Nessa mesma época, conseguiu um emprego em meio período no setor comercial de uma grande empresa do estado, com um salário de cerca de R$ 3 mil. Apesar disso, não realizou estágio na área jurídica, pois não via sentido naquele momento. Continuou atuando no setor comercial, vendendo espaços publicitários para um jornal de grande circulação local.
Sua trajetória, no entanto, sofreu uma reviravolta com a mudança de gestão no veículo, que resultou em seu desligamento. “Eu fiquei sem saber o que fazer”, contou. Foi então que um amigo da faculdade propôs a abertura de um escritório de advocacia. O convite marcou o início de sua carreira como advogado, aos 22 anos, com um escritório instalado no Setor Sul de Goiânia, na Avenida 90, esquina com a 136.
A decisão contrariou as expectativas do pai, que é funcionário público e sempre recomendou ao filho a busca por estabilidade. “Meu pai só descobriu que eu tinha aberto o escritório quando comprei uma impressora e ela chegou lá em casa”, relembrou, rindo.
Sem especialização, Vilarinho passou a aceitar qualquer tipo de caso que surgisse. “Eu odiava Direito do Trabalho, mas foi um dos primeiros casos que peguei”, revelou. Em outra ocasião, assumiu a defesa de um acusado de estupro em Senador Canedo. O caso teve grande repercussão local, e ele relembrou o mal-estar que sentiu ao visitar o cliente no presídio. “Ele ia falando, e eu só pensava: ‘PQP, ele vai ficar aqui para sempre’”, disse, destacando o desconforto que sentiu ao ver metade da cidade no fórum durante a audiência, o que o fez perceber que não tinha perfil para atuar na área criminal.
Seguindo a tradição não recomendada aos advogados, defendeu parentes em processos, o que acabou gerando ainda mais estresse. Nesse período, passou a morar sozinho, acumulando despesas com a casa e o escritório, o que acentuou a insatisfação com a profissão. “Comecei a ficar insatisfeito com o trabalho pelo pouco resultado”, relatou, acrescentando que, por ser leonino, reconhece a necessidade de reconhecimento para se sentir útil e motivado.
Com a chegada da pandemia, os processos e audiências migraram para o ambiente digital, o que reduziu ainda mais sua presença física no escritório. Continuava atuando em áreas que não o realizavam, como Direito Tributário e Direito de Família, e considerou até mesmo abandonar a advocacia para trabalhar como motorista de aplicativo. “Mas eu não tinha carro e nem gostava de dirigir”, brincou.
Nesse momento de crise, decidiu listar as áreas que mais gostava. O Direito do Consumidor sempre o atraiu. A partir daí, traçou um plano: criar conteúdo jurídico para a internet, mas de forma mais informal, condizente com sua personalidade. “Demorei muito tempo para entender que não sou um advogado convencional”, confessou.
A inspiração veio de um profissional de Minas Gerais, que ensinava advogados a captar clientes através da produção de conteúdo digital. Para adquirir o curso, que custava R$ 900, precisou pedir ajuda ao pai. “Ou vai dar muito ruim ou vai dar muito bom”, pensou, antes de investir na nova empreitada.
Decidido, desfez da sociedade no escritório e começou a gravar vídeos para as redes sociais. O primeiro conteúdo postado foi acompanhado por uma crise de ansiedade: “Fiquei dois dias sem pegar no celular de vergonha”, admitiu. Mas, contrariando seus temores, o resultado foi surpreendente: logo no primeiro mês, conseguiu 12 clientes, superando a meta inicial de oito, que havia estabelecido para cobrir suas despesas básicas.
O apoio emocional veio do então namorado, que acreditou e o incentivou a continuar. Vilarinho também se dedicou a estudar marketing digital, a fim de aprimorar a qualidade dos vídeos. O foco do conteúdo, desde o início, foi o Direito do Consumidor, especialmente as questões relacionadas a companhias aéreas — tema pelo qual acabou se tornando referência.
Hoje, com mais de 30 mil seguidores no Instagram, perfil identificado como @victorhugovilarinho, ele utiliza a rede para compartilhar informações sobre direitos frequentemente desconhecidos pelo público, como indenizações por extravio de bagagens, atrasos ou cancelamentos de voos. Além disso, oferece atendimento jurídico 100% digital, atendendo clientes de todo o país, democratizando o acesso à justiça.
Nas redes sociais, Victor também compartilha momentos da vida pessoal, como viagens e eventos. Recentemente, esteve na Ilha Saona, na República Dominicana, e registrou a experiência para seus seguidores.
Ao transformar crises em oportunidades, Vilarinho tornou-se um exemplo da nova geração de advogados que usa as redes sociais não apenas como vitrine, mas como plataforma para construir uma carreira pautada pela autenticidade e proximidade com o público.