Ciência aponta que cães e tutores compartilham traços de personalidade e estilo de vida
Revisão de estudos indica que vínculos emocionais entre humanos e cães moldam comportamentos semelhantes, reforçados por convivência e percepção mútua
A ideia de que cães e seus tutores se parecem vai além da observação cotidiana ou de simples coincidências visuais. Uma revisão científica publicada pela revista Personality and Individual Differences, com base na análise de 15 estudos empíricos, confirma que cães e humanos frequentemente compartilham traços de personalidade semelhantes, como extroversão, ansiedade e sociabilidade. A afinidade pode se manifestar também em aspectos físicos e nos estilos de vida mantidos em comum.
De acordo com a análise, essas semelhanças são percebidas tanto por tutores quanto por observadores externos. Estudos indicam que pessoas tendem a escolher raças de cães que se alinham a suas próprias características — físicas ou comportamentais. Por exemplo, foi observada uma relação entre o comprimento do cabelo de mulheres e sua preferência por cães com orelhas de tamanho semelhante. Outros trabalhos associam o índice de massa corporal (IMC) de tutores ao grau de sobrepeso de seus animais, apontando para rotinas alimentares e níveis de atividade física compartilhados.
As pesquisas também destacam que essas semelhanças não surgem apenas por identificação inicial, mas se fortalecem por meio da convivência diária. Fatores como reforço positivo, imitação comportamental e trocas emocionais moldam interações em que humanos e cães influenciam mutuamente seus estados emocionais. Essa dinâmica é comparável a relações humanas próximas, nas quais a compatibilidade se constrói com o tempo e não depende necessariamente de traços semelhantes desde o início.
Embora a percepção de afinidade possa tornar o vínculo mais gratificante, também pode gerar expectativas projetadas sobre o animal, como a atribuição de emoções humanas a comportamentos caninos. Ainda assim, a compatibilidade percebida é considerada um fator importante para o fortalecimento do laço entre tutor e animal, contribuindo para maior envolvimento afetivo e melhor manejo de comportamentos desafiadores.
As descobertas reunidas na publicação da The Conversation também sugerem que a escolha de um cão com determinada personalidade pode reforçar aspectos emocionais do tutor. Em alguns casos, um cão energético pode incentivar o aumento da atividade física do tutor, enquanto um cão calmo pode ajudar a regular estados de ansiedade.
A compatibilidade, portanto, emerge como fator central na qualidade do relacionamento, sendo influenciada por características individuais, estilo de apego e experiências compartilhadas. A ciência comportamental, ao investigar esses vínculos, contribui para a compreensão dos efeitos positivos da convivência humano-animal e para o fortalecimento de relações saudáveis entre espécies.